Morador de União da Vitória recebe certificado de excelência em Tecnologia Automotiva

Um dos melhores mecânicos do Brasil é morador de União da Vitória, segundo a WorldSkills, maior competição de educação profissional do mundo. Wagner Delvoss, de 20 anos, foi o representante paranaense do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) durante a etapa nacional da competição, ficando em quarto lugar e conquistando, em outubro de 2023, a certificação de excelência em tecnologia automotiva.

Morador de União da Vitória é um dos melhores mecânicos do país

Foto: Arquivo pessoal

Apaixonado por mecânica desde criança, Wagner costumava observar enquanto seu pai realizava o conserto de máquinas e carros na fazenda em que moravam em General Carneiro. Alguns anos depois, a família decidiu se mudar para União da Vitória. Já adolescente, Wagner foi instruído pela mãe a entrar em um curso profissionalizante no contraturno do Ensino Médio. Foi aí que decidiu pelo técnico em manutenção automotiva ofertado pelo Senai. “Eu fui pegando cada vez mais o gosto pela mecânica”, comenta.

Wagner já havia concluído o curso quando recebeu o convite do coordenador, Silvano José Osório, para participar da WorldSkills. Mesmo sem saber ao certo do que se tratava a competição, o jovem aceitou o desafio. Além de Wagner, outro ex-aluno de Silvano, morador de Porto Vitória, também foi convidado para participar do concurso, visto que a inscrição de duplas é uma recomendação da WorldSkills.

Formada a equipe, o primeiro passo foi o treinamento para representar União da Vitória na etapa estadual, realizada em Curitiba. A dupla, orientada por Silvano, passou várias noites, durante um mês, realizando tarefas a fim de aperfeiçoar seus conhecimentos.

E então chegou a etapa estadual, trazendo para Wagner uma oportunidade única. “Na etapa estadual nós tivemos uma ambientação do local. Era no Senai de Curitiba, no Boqueirão. Eu fiquei com muito receio. Eu nunca tinha ido para Curitiba. Tinha medo do que eu sabia sobre mecânica”. Mas os receios do jovem logo foram substituídos por satisfação. Após avaliação de todos os critérios, Wagner e um dos competidores de Curitiba ficaram tecnicamente empatados em primeiro lugar, o que gerou a necessidade da realização de uma prova para desempate em campo neutro. O local escolhido foi Londrina.

Durante a nova prova, os dois competidores novamente ficaram tecnicamente empatados. Como não havia tempo hábil para a realização de mais uma disputa, a decisão de quem representaria o Paraná na etapa nacional ficou nas mãos do avaliador que havia desenvolvido as provas. O responsável, então, teve que apontar qual dos candidatos possuía mais capacidade técnica para continuar no processo. “Ele falou: é o aluno de União da Vitória que tem mais coisas a oferecer, a entregar, do que o de Curitiba”, relembra Silvano.

“Eu fiquei muito faceiro. Eu tinha o sonho de ir pra Londrina. Conheci Londrina. Foi muito satisfatório e ainda voltar com o primeiro lugar do Paraná foi muito bom. Minha família ficou muito feliz”, completa Wagner.


Etapa nacional

Para a participação na etapa nacional, Wagner passou cerca de oito meses estudando 8 horas por dia no Senai. Para isso, recebeu um salário como ajuda de custo. O treinamento consistia em analisar o manual de fábrica de carros que poderiam ser alvo de provas da WorldSkills, e aplicar isso na prática. Silvano explica que, na competição, os participantes são avaliados de acordo com sua capacidade de seguir os processos determinados pela montadora para realizar o reparo dos veículos. “Se não demonstrar essa habilidade, vai descontando uma determinada pontuação”.

Durante o treinamento, Wagner recebeu o convite para trabalhar em uma concessionária de União da Vitória, em meio período, o que o ajudou a ampliar seu treinamento. O jovem também recebeu apoio psicológico contratado pelo Senai, para ajudar durante o processo, além de novos equipamentos para a sede de União da Vitória para que Wagner pudesse se aprofundar na preparação.

Nesse meio tempo até a disputa nacional, Wagner teve a oportunidade de participar de workshops. Um deles foi uma espécie de disputa contra uma competidora de Pernambuco. “Eu fiquei muito faceiro, calcula, poder participar de um treinamento assim, ainda mais em Pernambuco. Eu nunca tinha viajado de avião, foi a melhor sensação do mundo. Conheci a praia pela primeira vez em Pernambuco, eu não conhecia, foi muito satisfatório. Teve lá os dias da competição, para ver como é que os alunos estavam, se estavam fazendo as tarefas corretas, se estavam nervosos. Eu no começo estava muito nervoso, eu confesso”.

Outros treinamentos foram realizados no Senai de Curitiba. Houve também viagens precursoras a São Paulo, sede da etapa nacional da WorldSkills. “Confesso que teve dias que não foi fácil, que a gente pensava em desistir, porque como é que nós íamos brigar com um nacional da vida? Nós tínhamos medo, porque era o polo mais forte”, relata o jovem.

E então, chegou o dia da etapa nacional. As provas duraram uma semana, e Wagner foi desafiado a realizar reparos em carros com os quais não havia tido contato, como Ford Bronco e também carros híbridos, veículos que não estavam disponíveis em nenhuma unidade do Senai no Paraná. “Não importava se eu fosse tirar o primeiro lugar ou não. Eu estava feliz por estar naquele momento, cercado de pessoas incríveis. (…) Foi muito satisfatório. O professor Silvano, o Marco, sempre me acalmando, [dizendo] que eu era capaz, apoiando, [dizendo] que eu sabia o que eu tinha que fazer, que não era para eu ter medo. Foi muito bom. Nessa semana nós criamos um vínculo muito bom com os outros competidores. Por mais que nós estivéssemos competindo, nós criamos uma amizade. Nós conversamos ainda entre os competidores. Nós brincamos muito lá depois que acabaram as provas. O dia da despedida foi o mais emocionante. Teve um buzinaço, todos entraram em carros e foi muito legal. Teve o dia em que eu ia saber o resultado e eu acabei tirando o quarto lugar. Para mim, foi muito satisfatório ver onde nós conseguimos chegar. De onde nós viemos e até onde nós fomos. Nós almejamos o primeiro lugar, mas não foi dessa vez. A WorldSkills mudou muito minha vida. Do que eu era, para o que eu virei, o conhecimento que eu peguei foi muito bom”, recorda Wagner.

Para Silvano, a conquista do certificado de excelência foi gratificante, e uma prova da qualidade dos alunos e ex-alunos do Senai de União da Vitória. Também lembra que outros participantes ficaram surpresos quando a equipe contou que havia vencido a etapa estadual contra a tradicional unidade do Boqueirão. “Quando a gente chegava lá em São Paulo para fazer os workshops, eu participei pela primeira vez na vida desse processo da WorldSkills, e fui como avaliador também, então para mim foi totalmente novo, tanto como professor, quanto o avaliador. Eu digo que isso é bem gratificante porque (…) os caras chegavam assim e diziam: ah, Boqueirão de novo. E eu dizia, não é Boqueirão. Aqui é o estado do Paraná e é uma cidade do interior, União da Vitória”.

Hoje, alguns meses após a conquista do certificado, Wagner está empregado em uma oficina mecânica. O jovem considera a participação na WorldSkills como um marco divisor em sua vida, e relata que pretende seguir na área. “Não tem nem como explicar a sensação de participar de uma competição. A Worldskills mudou totalmente a minha vida, o meu ponto de vista, quem eu era, quem eu me tornei. Peguei muito conhecimento. Com a minha idade, eu já tenho um conhecimento muito bom. Ter um certificado de excelência é muito bom. Eu, no futuro bem próximo, pretendo fazer engenharia mecânica. Quero seguir nessa carreira”.


Tecnologia Automotiva

O curso técnico em Tecnologia Automotiva, disponível no Senai de União da Vitória, é voltado tanto para jovens em busca de uma formação, quanto para adultos que desejam uma recolocação profissional. O pré-requisito é ter ensino médio, completo ou cursando. A duração do curso é de dois anos, e não há exigência de prova para ingresso.

Segundo Silvano, a área da Tecnologia Automotiva está aquecida e precisando de mão-de-obra. “Hoje, se a gente tivesse que montar uma turma aí com uns 25 alunos, eu acho que eles já sairiam daqui todos empregados. Porque tem oficina que me pede três, tem oficina que me pede dois, tem oficina que me pede um, sabe?”.

No curso, o aluno recebe noções de metrologia, motorização, transmissão, sinalização, chapeação, pintura, solda, polimento, tapeçaria, além de aprender a manusear equipamentos, entre outros. “Dependendo da habilidade do aluno ele tem condições de sair daqui fazendo um serviço autônomo sem precisar depender de um apoio externo. [O curso] habilita a trabalhar como mecânico com excelência”, aponta Silvano. Interessados podem agendar uma visita para conhecer as instalações do Senai e saber mais sobre o curso entrando em contato pelo telefone (42) 3521-3902.

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