Uma união-vitoriense no funeral da Rainha Elizabeth II

Pouco mais de um mês após a morte de Elizabeth II, a rainha mais longeva do Reino Unido, os dias que sucederam o falecimento da monarca ainda estão marcados na mente de Angela Sant’Anna. A união-vitoriense vive há cerca de 10 meses em Edimburgo, na Escócia, e acompanhou de perto o que muitos do Vale do Iguaçu só puderam ver pelos meios de comunicação.

Angela, ou Angie, como é conhecida na internet, produz conteúdo para redes sociais sobre viagens e também dá dicas para quem deseja morar fora. Durante o funeral de Elizabeth II, fez uma verdadeira operação para deixar seus seguidores por dentro de tudo o que acontecia na Terra da Rainha. Como a monarca morreu na Escócia, protocolos especiais foram seguidos, o que permitiu que Angela pudesse ver parte do cortejo.

“Foram 12 dias. Ela [o corpo] teve que sair lá do castelo [de Balmoral], vir aqui para Edimburgo, fazer um velório aqui dentro da Saint Giles e só depois que ela foi levada até Londres. Aí teve mais um evento, teve mais um velório que durou três dias antes de ter o funeral com várias pessoas, chefes de estado, e aí depois que ela foi enterrada, não é nem enterrada, ela foi colocada numa câmara em Windsor, e no meio disso teve procissões e cortejos, tudo digno de uma Rainha mesmo. Eu me dediquei a esse tema justamente porque aconteceu aqui na Escócia. Eu moro na Escócia então eu tinha que falar sobre esse tema. Eu falei curiosidades sobre a herança, sobre tradições, protocolos que são da Família Real e que não vão se repetir tão cedo. Vai demorar uns 20 anos para o Charles falecer, eu acredito, e vai ser também outros protocolos, vai depender de onde ele irá falecer, então são coisas que a gente não vai ver novamente e pelo fato de ela ter morrido aqui muda muita coisa, o jeito que o Reino Unido se portou também mudou, provavelmente [o funeral] seria bem mais curto se ela tivesse morrido em Londres, então eu precisava documentar tudo”, comenta.


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As primeiras notícias sobre o estado de saúde de Elizabeth II começaram a ser divulgadas nas primeiras horas da manhã, no horário de Brasília, do dia 08 de setembro. A assessoria da Família Real divulgou nota informando que “médicos estavam preocupados com a saúde da Rainha” e que haviam “recomendado que ela permanecesse sob cuidados médicos”. O comunicado finalizava com a frase “A Rainha permanece confortável em Balmoral”.

Poucas horas depois, membros da Família Real começaram a chegar ao castelo, acendendo mais um sinal de alerta. “Eu não me preocupava com a saúde da Rainha, mas a partir do momento em que eu vi uma notícia de que ela estava confortável, ali eu já sabia que ela tinha morrido, porque não é uma notícia que se dá assim, simplesmente. E aí logo apareceu a BBC filmando apenas o portão do Balmoral e aí todo mundo começou a se deslocar para lá. Então mesmo antes de darem o anúncio oficial de que ela tinha morrido a gente já sabia que ela tinha morrido, por toda essa movimentação que houve por trás”, relata Angela.

Às 2h30 da tarde de 08 setembro, no horário de Brasília, veio a confirmação da morte de Elizabeth II. Em uma curta mensagem, a assessoria da Família Real disse: “A Rainha morreu tranquilamente em Balmoral na tarde de hoje. O Rei e a Rainha Consorte permanecerão em Balmoral nesta noite e retornarão a Londres amanhã”.

“Com certeza essa forma de divulgar aos poucos era uma preparação. Mas muitos já sabiam. Quando deram a notícia eu estava trabalhando, eu cheguei para trabalhar e aí já deram a notícia aí eu fiquei sabendo. Uns me mandaram fechar a boca porque não podia falar, mas eu já sabia, já tinha certeza de que ela havia falecido. E aí os dias seguintes foi só acompanhar mesmo o que seria os protocolos já que ela morreu na Escócia teve várias coisas diferentes que eles tinham que fazer. Pelo fato de o corpo dela estar aqui teve que passar por cerimônias aqui também”

Foto: @apureguria


Elizabeth II, a Rainha amada por muitos e respeitada por todos

A monarquia do Reino Unido não é aceita por todos os moradores do local. Alguns dos países que formam o bloco, inclusive, já demonstraram, anteriormente, a intenção de se tornarem independentes, como a Irlanda, que é uma república desde 1921. Outra parte da ilha irlandesa, onde está localizada a Irlanda do Norte, contudo, ainda pertence ao Reino Unido. Angela explica que a influência da Família Real não é muito sentida nos países que formam o Reino Unido, com exceção, talvez, da Inglaterra.

“Essa influência da Família Real no dia a dia não tem muito não, tanto porque muitos não gostam da Família Real. Normalmente os mais velhos aprovam a Família Real. Muitos querem, por exemplo, a independência da Escócia, mas tendo como chefe o Rei, ou a Rainha no caso. Então nem todos querem uma República, eles querem por exemplo ser como o Canadá, a Nova Zelândia e não como a Irlanda, que se separou, que é uma república. E mesmo tendo esse negócio de separação, muitos querendo a separação da Escócia do Reino Unido eu vi muito respeito, tanto na rua quanto na mídia. Eu não vi piadas por exemplo em nenhum lugar. Não houve xingamentos contra ela quando o corpo dela estava passando. Houve, claro, contra um dos filhos dela, mas não era direcionado a ela em si. Ela era uma pessoa bem respeitada. Muitos gostavam bastante dela”.

A comoção nas ruas de Edimburgo, na visão de Angela, foi diferente daquela registrada em Londres. Segundo seu relato, na Escócia, muitos queriam prestar sua homenagem, enquanto outros queriam apenas participar por conta da curiosidade de vivenciar um fato histórico. “Eu fui mais para mostrar como era esse evento, fazer a parte de jornalismo mesmo, do que para prestar homenagens, porque mesmo ela sendo a Rainha daqui, eu sou uma moradora daqui mas eu não tenho esse apego à monarquia porque é uma coisa que eles têm. Até eles seria referente aos ingleses porque eles são ensinados desde pequenos sobre a monarquia, existem livros ensinando sobre a monarquia, falando sobre a Rainha. Por exemplo, eu tenho uma amiga que é brasileira, o filho dela também é brasileiro, e aí eles moravam em Londres e ele ia normal para a escolinha, ele tem agora eu acho que uns 08 anos, e quando a mãe dele falou que a Rainha morreu ele chorava de soluçar, chorava muito, porque ele foi ensinado que era uma pessoa muito importante e ele entendeu que ela estava velhinha mas ele não queria que ela morresse e ele não queria um Rei, ele falava ‘quem é que vai governar esse país agora?’”.

Durante o cortejo por Edimburgo, Charles, o primogênito de Elizabeth II e Philip, já havia deixado de ser o Príncipe de Gales para se tornar Charles III, Rei do Reino Unido, pois um novo monarca toma posse a partir da morte do antecessor. “Eu vi o Rei Charles caminhando logo atrás do caixão, foi uma coisa muito rápida. Eu apenas vi eles, vi a Família. Eu não tive uma sensação assim de felicidade, eu apenas vi. Mas foi interessante porque a gente normalmente só vê pela internet as fotos então foi bem curioso ver ao vivo. Tinha muita gente que estava bem triste, estava bem cabisbaixa aqui no Reino Unido, mas acredito que em Londres foi bem mais sentido. Aparecia muito na BBC pessoas chorando, contando histórias de quando conheceu a Rainha, mas claro, muitos estavam ali por estar, porque era um acontecimento histórico e a sensação era neutra também. Eu falei com escoceses, com irlandeses, com outros turistas e a maioria era sensação neutra”.

Foto: @apureguria

Agora, a vida no Reino Unido já voltou ao normal. A Família Real já abandonou oficialmente o período de luto, e a coroação de Charles III foi marcada para maio de 2023. Após 12 longos dias de funeral, as atenções se voltaram para outros problemas, como a economia e a Guerra entre Rússia e Ucrânia. “Agora que o corpo está sepultado voltou tudo ao normal. Na verdade, como ela morreu no segundo dia após ser conhecida a nova Primeira Ministra, ficou um bom tempo sem ninguém trabalhar digamos assim. O governo demorou muito para começar a trabalhar, então meio que foi indo aos poucos. E aí teve essa recessão, a Libra caiu e agora que estão novamente lutando contra essa crise. Não é tanto a crise energética como por exemplo a Itália e a Alemanha vão sofrer bem mais porque dependem do gás russo. Aqui não é tanto, mas os preços subiram bastante, inflação, então o governo está bem mais preocupado para lidar com isso”, completa Angela.

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