Opinião: “A rejeição nas eleições municipais”

As pesquisas eleitorais para o pleito majoritário de 24, que já aparecem no cenário em muitos municípios, não tem rigor técnico e nem mesmo seguem todas as variáveis do processo eleitoral, mais que isto, algumas delas são apenas tracking, verificações telefônicas, manipuláveis, se assim o desejado, por absoluta falta de exigências legais.

Todavia, se tomadas em conjunto, minimizam as leituras tendenciosas e podem oferecer uma boa foto do quadro eleitoral. Importa registrar que o papel das pesquisas precisa ser revisto porque, se não definem eleição, contribuem por interferir na expectativa dos eleitores que fluem ao sabor de suas informações.

Estamos no meio do caminho, um ano à frente das eleições passadas e igual distância do pleito seguinte, nada mais natural que as pesquisas atuais refletirem muito mais o fato real, resultado da anterior, que o fato futuro, intenção de votos para o próximo ano, logo, é fácil concluir, os números destes levantamentos, não mais que isto, mostram, com muito mais força, o recall, índice de lembrança dos nomes consultados, e isto está diretamente relacionado ao nível de exposição no pleito anterior e sua visibilidade atual, muito maior se detentor de mandato.

Deste modo, não há muita surpresa nos números de intenção de votos; mais conhecidos, mais preferência, assim como recall mais positivo. Verificando os resultados disponíveis, todos aqueles bem colocados já estiveram em cargos públicos, além de disponibilizarem suas fotos nas urnas de várias outras eleições.

A surpresa fica por conta dos elevados índices de rejeição que, em patamares superiores às edições anteriores. Tal fato sempre foi comum a quase todos os players previstos para a eleição, agora sofrem um inchaço e, de maneira surpreendente, as rejeições são mais expressivas que a intenção de voto para praticamente todos os postulantes. É preciso refletir sobre isto porque este fato repete às eleições nacionais onde, sem juízo de valor, Lula e Bolsonaro eram menores que suas rejeições.

A primeira indicação é que o eleitor, cansado de tantas decepções com suas escolhas, segue cada vez mais desconfiado e exigente. Todos sabem que as qualidades, ainda que alardeadas, fluem com menor velocidade que eventuais deslizes de qualquer pessoa, se for político, trate isto de maneira exponencial. Também sinaliza um descrédito na classe política, cada vez menos pessoas acreditam que este é o caminho para resolver nossas demandas, e isto é preocupante porque ainda não inventaram nada, decente e razoável, que sirva de alternativa à democracia representativa.

Indica também que o novo eleitor, este sim uma entidade definitiva, face à nova política ainda circunstancial, de posse de novos e poderosos instrumentos, ganha voz e, por conta do volume de informações, faz leituras próprias, apresenta e discute suas opiniões e, a cada dia, é menos refém das narrativas tão ao gosto da política tradicional. Ninguém mais vende remédio vencido na farmácia eleitoral e parece que parte da classe política ainda não se deu conta deste fenômeno e, quando consciente, tenta combater com exércitos de disseminação de informações contaminadas, sob as deslumbrantes vestimentas das fakes news. E, preparem-se, se textos primários já convenciam parte dos eleitores, muitos munidos de formação adequada, a nova geração de fakes, turbinados pela IA, enganarão até as mães dos candidatos.

Com um certo romantismo, tento acreditar que apenas o vínculo de nomes razoáveis com ideias interessantes, transformadas em boas bandeiras eleitorais, podem alterar o rumo dos fatos.

Por fim, as regras eleitorais, somadas às conveniências partidárias, letradas em traduzir respostas eleitorais em ação, crava que lançar candidatos é sempre a melhor alternativa para qualquer legenda, logo quem quer ser candidato, basta que se movimente e mostre a carteira, terá legenda disponível, portanto até ocorrerão convergências, mas a tendência de muitos nomes na disputa parece ser a regra em quase todos os municípios.

Portanto, nos bastidores será intensa a busca por composições, na contramão dos interesses partidários, mas convenientes para gerar expectativa eleitoral e garantir, além do preenchimento, fidelidade das chapas proporcionais. Composições servem exatamente para aumentar as odds eleitorais, visto que, você sabe muito bem disto, identidade ideológica só se exige nos extremos.

Lógico, está muito longe ainda, mas, quem é versado em política sabe que eleições se ganham na véspera com um conjunto de ações que atinjam, via marketing, as componentes emocionais e racionais do eleitor e se traduzam em intenção de votos.

Ressalvo, todavia, que tal análise não se sustenta em eleitorados de até dez mil, onde eleições ainda são um clássico entre o atual e o anterior e as variáveis pessoais e financeiras sempre são os fatores decisivos.

Fora deste corte, todo o modelo brasileiro aponta para o confronto entre personalidades e, sem desconhecer a necessidade de nomes competentes para pilotar projetos, são esses a matéria prima ideal para que o eleitor se defina.

A desconfiança dos políticos deveria motivar o segundo passo e exigir ideias e projetos associadas aos nomes, até como forma de reduzir as desilusões eleitorais. Sempre votamos em personalidades e, via de regra, nos decepcionamos por dar um cheque em branco para suas ações.

Não seria a hora de exigir ideias e planos dos candidatos?

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