Opinião: “Muito além das guerras externas”

Todo os olhos do planeta se dirigem ao Oriente Médio, ainda que a invasão da Ucrânia também incomode porque fere a ordem mundial. São questões que impactam pelo aspecto humanitário, mas que produzem reflexos de ordem econômica por impactarem insumos energéticos fundamentais; petróleo e gás. Todavia, o cenário interno também não é confortável.

A eterna preocupação com a economia consome o sono e a tranquilidade dos brasileiros pressionados por demandas diversas; desemprego, renda, juros e, em especial, perspectivas. Projetar um futuro de curto prazo sem turbulências é primordial para que o cidadão comum resgate a confiança em dias melhores.

A verificação primária das variáveis aponta para melhoria significativa. Inflação sob controle, juros em queda e previsão de crescimento econômico modesto, mas animador, a despeito disto, todos sabem que economia depende de confiança, e a instabilidade política a compromete, e de macro fatores externos sob os quais não temos nenhum domínio. Mas vencer a guerra econômica, embora prioritária, não é nossa única batalha.

Para além do clima de intolerância que não refluiu, a insegurança da população, gritante em vários estados, produz efeitos terríveis na alma do brasileiro que vê reduzido a natural alegria e espontaneidade que nos caracteriza e, acredite, deixa milhões de brasileiros atentos à oportunidades de buscar esperança em outras terras.

Temos, em alguns estados, clima velado de guerra civil, com a segurança pública incapaz de limitar a ação de milicianos e quadrilhas organizadas, notadamente no Rio e Bahia. Não dá mais para contemporizar. Se o exército, que flertou com aventuras antidemocráticas, quer reconquistar a admiração do brasileiro, como sempre ocorreu na nossa história, precisa assumir o combate ao crime organizado.

Além disto, temos a intensa disputa no jogo político, afetado pelas ações fora das quatro linhas de oito de janeiro. Foi apenas o ápice de ações que se sucederam sem nenhum apego à ética. A prorrogação do mandato de Sarney e a liberação da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, obtidas por meios deploráveis no Congresso, submetido à realidade das emendas generosas, iniciou um processo que tem só um sentido; a luta insana de cada grupo para se manter no poder a qualquer preço, literalmente.

Tenho insistido que nosso arcabouço jurídico não permite controle de reeleições de chefes que seguem com a caneta cheia, assinando favores e rasgando recursos públicos, sem critérios técnicos, fato que nivela, por baixo, todos os ex-presidentes e tem como resultante o profundo descrédito na classe política.

Precisamos rezar para a paz mundial, é necessário torcer para que as consequências das disputas externas não comprometam nossa economia, mas, principalmente, é fundamental um olhar crítico para o ambiente interno.

O Brasil é a nossa casa e precisa ser também pacificado.

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