“Guilherme é um super menino que supera barreiras todos os dias”

Mãe de União da Vitória escreve livro sobre como identificar e como lidar com crianças diagnosticadas com TDAH e dislexia


Se fosse para escolher uma roupa para presentear Andreza Kerli Corrêa Dalgallo certamente seria uma capa. Isso mesmo! Uma capa de super heroína, como, quem sabe, aquela usada pela Mulher-Maravilha.

Andreza é mestre em Educação no Vale do Iguaçu e diagnosticou a dislexia e o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) no filho pré-adolescente ainda na infância. Foram anos de estudo até entender – e aceitar – como estes transtornos de aprendizados de origem neurológica iriam afetar a vida de Guilherme.

Por conta do diagnóstico, mãe e filho se aproximaram ainda mais e se tornaram grandes amigos. A mestre se aprofundou nas patologias e as estudou ipsis litteris por anos. Tamanho foi o seu envolvimento com o assunto que no dia 14 de janeiro comemorou o lançamento do seu livro Aventuras de uma mãe: Meu filho super(ando) barreiras / TDAH & Dislexia. Juntamente com Andreza, Guilherme também participou do evento com a mãe e autografou os livros.

Segundo a mãe, foi uma data de contentamento para a sua família.

“O Guilherme treinou uma assinatura para autografar os livros. Ele ficou muito feliz e eu mais ainda; é uma obra que ajudará muita gente”, diz.

O lançamento aconteceu junto com a inauguração do espaço pedagógico e terapêutico Adriana Mary, que fica no antigo Shopping Vale das Cachoeiras, na rua Marechal Floriano Peixoto, em União da Vitória. Nas páginas, a educadora compartilha as suas aventuras enquanto mãe de uma criança normal, mas que aprende de uma maneira diferente.

Andreza não ficou sozinha pelo caminho; contou com o apoio  do esposo José Paulo Dalgallo e da filha Milena família para a  auxiliar na sociabilidade e aprendizado do Guilherme.

“Quando recebemos um diagnóstico real de que o nosso filho tem alguma dificuldade, neste caso na aprendizagem, nosso mundo desmorona; é difícil se convencer de que isso realmente possa estar acontecendo porque passamos por um momento de medo. Medo esse de que nosso filho seja excluído pelo sistema escolar e até mesmo pela sociedade. É preciso lançar mãos dos tabus impostos pela sociedade e aceitar que todos somos diferentes e também temos maneiras diferentes de aprender, desde que nosso tempo seja respeitado e as adaptações curriculares necessárias seja realizadas. Toda criança tem direito de aprender e obter sucesso em suas aprendizagens”.

(Arquivo Pessoal)

A dislexia é um distúrbio genético que dificulta o aprendizado e a realização da leitura e da escrita. O cérebro, por razões ainda não muito bem esclarecidas, tem dificuldade para encadear as letras e formar as palavras, e não relaciona direito os sons às sílabas formadas. Como sintoma, a pessoa começa a trocar a ordem de certas letras ao ler e escrever. Estima-se que mais da metade dos disléxicos não sabe que tem o transtorno e de acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), a esse é o distúrbio de maior incidência nas salas de aula e atinge entre 5% e 17% da população mundial. Eles definem a dislexia como transtorno de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração.

Já o TDAH é um transtorno neurobiológico de causas genéticas, caracterizado por sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade. Aparece na infância e pode acompanhar o indivíduo por toda a vida. Segundo dados divulgados em 2019 pela Organização Mundial de Saúde, cerca de 4% da população adulta mundial têm o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

O filho de Andreza foi diagnosticado com dislexia e TDAH, aos seis anos de idade. Hoje, aos 11 anos, o menino sonho alto e quer fazer história.


CONFIRA A ENTREVISTA:

JORNAL O COMÉRCIO (JOC): Aventuras de uma mãe: Meu filho super(ando) barreiras / TDAH & Dislexia. Qual foi a sua principal inspiração?

ANDREZA KERLI CORRÊA DALGALLO (AKCD): O meu filho Guilherme. Hoje ele está com 11 anos de idade, porém, quando iniciou os seus estudos  estava com seis anos. Ele estava no final do 1º Ano quando eu notei as dificuldades de aprendizagem. A caminhada foi longa, com muitas dúvidas e sobre como diagnosticar, porque eu precisava achar meios de ajudá-lo. Eu já imaginava que ele fosse hiperativo, mas o diagnóstico de dislexia foi uma surpresa. Eu tive muito medo de que ele fosse rejeitado, entre outras situações, e eu como mãe só queria protegê-lo. Eu sei que ele vai superar as barreiras e chegar lá. Quando a gente (mãe e familiares) recebe um diagnóstico de que o seu filho tem um transtorno neurológico – neste caso o TDAH e a dislexia, logo vem o pensamento de que você terá que aprender a lidar com a situação. O Guilherme é um super menino e que supera  barreiras todos os dias. Eu senti também como mãe que a sociedade precisa abrir mais os olhos para as pessoas que apresentem dificuldades. Tive tantas situações e pensei: não sou apenas eu que estou passando por isso! Eu sei que outras mães também possuem filhos com dislexia ou TDAH ou tantos outros que não tiveram a oportunidade de um diagnóstico. Meu intuito ao escrever o livro foi compartilhar a experiência e o conhecimento para ajudar o meu filho e a comunidade em geral com as situações vivenciadas em casa e na escola.

JOC: A senhora citou que que a sociedade hoje apresenta múltiplas inteligências. Comente.

AKCD: O que eu quero dizer é que uma pessoa é boa nisso e outras naquilo. O que precisamos é somar essas inteligências e contribuir com o aprendizado de todos, porém respeitando cada um com a sua particularidade.

 JOC: A senhora é mestre em educação e por conta de sua experiência conseguiu detectar as dificuldades de aprendizagem do seu filho logo na infância. Diria então que pela falta de conhecimento de alguns sobre a dislexia e TDAH podem haver adultos que nunca foram diagnosticados com a síndrome?

AKCD: Sim. Ainda existem muitos adultos que sofrem com isso. Estudos com os quais tive contato relataram que quando algumas mães diagnosticaram o filho, houve a necessidade de testagem dos pais. Foi então que o médico diagnosticou que os pais também sofriam com a TDAH ou dislexia, ou ambos. Outro exemplo é o exame feito com ressonância magnética, que no caso de uma pessoa hiperativa o cérebro não para, mesmo estando sedado; ele continua ativo. É preciso aprender como lidar com a pessoa. No meu caso, aprendi que com ele (Guilherme) primeiro é necessário acalmá-lo para depois conversarmos. É uma aventura o nosso dia a dia.

JOC: TDAH tem influência genética?

AKCD: Pode vir a ter sim. Assim como talvez o neto seja diagnosticado ou o filho do neto. Não é uma questão certa mas alguém na geração pode desenvolver o TDAH.

(Arquivo Pessoal)

 

JOC: Após o diagnóstico de TDAH e dislexia, o que mudou na vida do Guilherme?

AKCD: Foi difícil no começo porque eu como educadora já tinha um conhecimento prévio do assunto. É complicado as pessoas julgares e falarem que o seu filho não aprende por preguiça, que não é doença, que é uma bobagem ou que o TDAH e dislexia não existem. Percebi que quando a gente conhece o assunto e trata devidamente é um passo muito importante para a pessoa e para a família. Após o diagnóstico eu pensei: será que compartilho com o Guilherme? Refleti sobre o assunto e acreditei que ele tinha o direito de saber sobre o que acontecia. Falei à ele que o cérebro era diferente dos demais, porém com muita capacidade de aprender assim como todos. A primeira conversa foi com ele e depois para a família e amigos. Expliquei que ele precisava de adaptações e que com o diagnóstico eu poderia ajudar o meu filho. Eu, como mãe, mudei da água para o vinho. O meu filho precisava de mim e, por isso, eu abri mão de tudo, do meu emprego, para me esforçar e ficar ao lado dele e contribuir para o seu aprendizado.

 JOC: Espaço Pedagógico & Terapêutico “AM” Adriana Mary, do que se trata?

AKCD: Foi inaugurado no dia 14 de janeiro juntamente com o lançamento do livro. O espaço homenageia a minha querida irmã. Cursamos a faculdade juntas, eu Letras e ela Matemática. Após cursarmos Pedagogia juntas. Minha irmã trabalhou na Secretaria de Educação de Porto União e eu em União da Vitória. Tínhamos muitos planos para contribuir com a educação. Infelizmente minha irmã nos deixou em 2017, aos 42 anos de idade, em decorrência de um câncer. Tenho certeza que de onde ela estiver estará muito feliz com o espaço que hoje auxilia no atendimento e intervenção Pedagógica às necessidades específicas de aprendizagem (dificuldade ou transtorno). Contamos com atendimento de fisioterapia e terapias alternativas, que além de auxiliar no desenvolvimento da coordenação motora, pode atuar na diminuição da ansiedade e traumas que influenciam diretamente na aprendizagem.


Serviço

Demais informações sobre o “AM” Adriana Mary, espaço e tempo de aprendizagem – Pedagógico e Terapêutico, podem ser obtidas pelo telefone (42) 9 9166-9497.


“O meu filho precisava de mim e, por isso, eu abri mão de tudo”

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