Por que a tensão entre países pode impactar o preço da gasolina?

João Alfredo Nyegray, doutorando, coordenador do curso de Comércio Exterior e professor de Geopolítica e Negócios Internacionais na Universidade Positivo (UP), explicou sobre como o conflito entre Rússia e Ucrânia pode impactar o preço da gasolina no Brasil.

imagem de joão alfredo que falou sobre relação do preo do petróleo com conflitos mundiais

João Alfredo Nyegray foi o convidado do programa CBN Linha Aberta no sábado, 29. A entrevista na integra você confere na página da CBN Vale do Iguaçu.

Entre os motivos para o conflito estão o compromisso de que a Ucrânia nunca se junte à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan); limitações às tropas e armas que podem ser implantadas nos países que aderiram a essa aliança após a queda da União Soviética (URSS) e a retirada da infraestrutura militar instalada nos estados do Leste Europeu.

Segundo João Alfredo, o conflito iminente pode impactar o preço do petróleo, causando uma forte volatilidade nos mercados globais. A Rússia é o segundo produtor de petróleo do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos, enquanto a Ucrânia é uma importante rota de energia, que movimenta exportações russas de gás natural para a Europa.

De acordo com potências do Ocidente, cerca de 100 mil soldados russos já estão posicionados, já a Ucrânia tem treinado civis para um possível ataque. Enquanto isso, o preço do barril do petróleo já chega a quase US$ 90 (90 dólares americanos), já que muitos países têm antecipado as reservas caso o conflito realmente aconteça.


Confira a entrevista

Jornal O Comércio (JOC): O senhor acredita que o preço do petróleo deve subir apenas caso a Rússia invada a Ucrânia ou esse conflito iminente já causa impacto no mercado?
João Alfredo Nyegray (JAN): O conflito já vem causando impacto. Algumas semanas atrás o preço do barril do petróleo estava na casa dos 80 dólares. No início desta semana (24 de janeiro) o preço subiu para 85 dólares e nesta sexta-feira (dia 28) estava na casa dos 90 dólares. Ou seja, nós já estamos percebendo o aumento no preço do barril do petróleo, porém, conforme essas tensões, elas vão ganhando novos contornos.

JOC: Por que a tensão entre Ucrânia e Rússia pode impactar o preço da gasolina?
JAN: Tanto Ucrânia quanto Rússia são produtores/ exportadores de petróleo e de gás natural; eles fornecem para os países da Europa e para outras nações pelo mundo. Como se trata de um produto que é global por excelência, uma vez vez que todas as nações precisam desses insumos, qualquer alteração em fornecimento e quantidade faz com que os preços oscilem. Caso, por alguma razão, seja ela militar ou não, russos ou ucranianos acabem por diminuir a sua produção isso vai gerar um consequente aumento nos preços. E, este aumento nos preços acaba vindo parar justamente nos nosso bolsos.

JOC: Caso aconteça a invasão, o preço do barril do petróleo poderá chegar a quanto?
JAN: É difícil estimar. Mas particularmente eu acredito que possa passar dos 100 ou 110 dólares. Uma vez que a Petrobras utiliza os preços internacionais na sua própria política de preços é fato que este aumento vai ser repassado à nós. Além disso, nós não podemos esquecer que toda a inflação acumulada em 2021, que foi a mais alta dos últimos anos, teve um peso muito grande nos combustíveis; porque os combustíveis acabam encarecendo todo o resto, como é o caso dos alimentos e demais produtos dos mais variados, por conta do transporte. Este seria um dos grandes problemas no aumento do preço do petróleo e da continuidade dessas tensões entre russos e ucranianos.

JOC: Quais impactos para o Brasil?
JAN: Bom, o impacto direto para o Brasil seria sentindo na questão do petróleo. Uma vez que a política de preços da Petrobras indexou o valor dos combustíveis nacionalmente ao valor internacional do petróleo e quando esse valor sobe nós acabamos sentindo no nosso bolso porque afetam o nosso mercado doméstico. Este é mais um daqueles casos em que acaba nos mostrando como um conflito que esteja ocorrendo, ainda que distante de nós, acaba reverberando no nosso bolso. Por mais que exista uma distância geográfica muito grande entre Brasil, Rússia e Ucrânia, a distância econômica é bastante reduzida justamente pelas tecnologias que nós temos hoje e pelo atual estado de interconectividade da economia global.

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