O uso da estética para incentivo da autoestima

Os cuidados com a saúde envolvem diversos aspectos, entre eles a estética. À primeira vista, este pode parecer um tema de interesse apenas dos mais vaidosos mas, na realidade, é um fator importante para a manutenção da autoestima. No Brasil, cerca de 1,5 milhão de procedimentos são realizados anualmente de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), tanto por questões de saúde quanto por estética. Contudo, engana-se quem acredita que estética envolve apenas procedimentos mais invasivos, como as cirurgias plásticas.

Massagens, limpezas de pele para extração de cravos e espinhas, o design de sobrancelhas e até mesmo a maquiagem estão inclusos no mundo da estética, sem contar os procedimentos com laser, preenchimentos, e àqueles envolvendo injetáveis, como o botox. Alguns desses, apesar de menos invasivos, também podem trazer riscos caso não sejam realizados por profissionais habilitados.

Kelly Silva é uma aficionada pela estética. Desde jovem demonstrou interesse pela maquiagem, começando a atuar profissionalmente na área ainda na adolescência. Hoje, há cerca de sete anos como maquiadora, também buscou aperfeiçoamento em um curso de estética e cosmetologia. Com essa formação, Kelly é habilitada a trabalhar com a formulação e manipulação de cosméticos, além da limpeza de pele e peeling. “Nunca me vi fazendo outra coisa. Sempre gostei de me cuidar, sempre gostei de me maquiar, de arrumar e aí com isso virou trabalho. O que eu gostava eu consegui transferir para as pessoas, então o meu hobby virou meu trabalho e isso faz com que eu me sinta realizada”.

O uso da estética para incentivo da autoestima

Kelly Silva, maquiadora e esteticista. Foto: arquivo pessoal


Aumentando a autoestima

Para Kelly, a estética é uma ferramenta poderosa para a recuperação da autoestima. Uma de suas principais aliadas é a maquiagem. Por ser algo superficial, seu maior benefício é a possibilidade de mudar a imagem de forma temporária. “Se a pessoa não se sentir bem ela pode lavar o rosto e está tudo certo, não vai interferir em nada”.

A esteticista lembra de oportunidades em que pode maquiar clientes que se sentiam mal por conta da acne, tendo a chance de fazer com que aquelas mulheres se vissem de uma maneira diferente. Kelly, contudo, explica que seu estilo de maquiagem visa ressaltar a beleza natural de suas clientes, ao invés de mudar completamente a fisionomia. “Meu objetivo não é transformar a pessoa demais. O meu estilo de maquiagem é algo que a pessoa se sinta bem confortável. Às vezes tem gente que nunca usou maquiagem e se vê maravilhosa. Me sinto bastante realizada trabalhando com a maquiagem”.

Em seus atendimentos, Kelly busca deixar seu estúdio o mais aconchegante possível para que o cliente se sinta seguro e confiante. O gesto é importante para garantir que até aqueles mais receosos aproveitem esse momento dedicado ao seu bem estar. “Às vezes a gente é até  um pouco psicólogo porque as pessoas vêm aqui só para conversar, é aquele momento que ela precisa para relaxar, para desligar. Tem muita cliente que trabalha o dia inteiro, que é mãe, tem o trabalho de casa é super estressada e me fala ‘meu Deus aqui eu esqueço do mundo, esqueço de tudo’. (…) A estética está aí só para agregar na vida das pessoas na questão de bem estar e saúde”.

A esteticista afirma que a maior parte de suas clientes são mulheres, mas que os homens têm começado a se interessar mais pela área da estética. E, em sua opinião, é uma tendência para ambos os grupos a quebra de paradigmas a respeito da procura de procedimentos estéticos. “Hoje na verdade está bastante em alta a questão da estética. Todo mundo quer se cuidar, todo mundo está procurando melhorar alguma coisa que incomoda. Hoje se investe bastante, tem muita tecnologia, então o profissional investe muito e o paciente sabe do custo e da mesma forma vem procurar. Hoje eu acho que caiu bastante essa questão do preconceito contra a estética. É claro que tem muita gente que acha que isso não tem necessidade, mas já caiu bastante. Tem uma procura muito grande tanto de homens como mulheres. No meu caso é bem esporádico cliente homem, mas eu já atendi. E eu sempre tento jogar dizendo ‘ah você vai se sentir melhor, vai ficar mais bonito, você vai ver que fica diferente para melhor, vai ver essa diferença em você’”.

A popularização de temas ligados à estética em redes sociais também é um fato destacado por Kelly. Para ela, a exposição a publicações sobre procedimentos estéticos e produtos instiga o público a se interessar mais pela área. Mas a profissional alerta para os perigos por trás desse interesse quando ele não vem junto de um senso crítico. “Tudo tem a questão de equilíbrio, às vezes é demais. Os cuidados são tão exagerados que se tornam, às vezes, no meu ver, uma doença. A pessoa perde noção do bonito, perde noção do equilíbrio”.

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A preocupação de Kelly pode ser traduzida pela expressão “falta de bom senso estético”. Quem aborda o tema é a dermatologista Elisa Kubo. Segundo ela, o senso estético é algo adquirido pelo profissional ao longo do tempo, e que o permitirá alcançar resultados que sejam harmoniosos. “Às vezes o que o paciente quer não vai ficar tão bonito no rosto da pessoa, então cabe a nós, profissionais injetores, ter esse bom senso estético no intuito de ter resultados naturais, elegantes e belos. Não todo esse exagero que a gente tem visto na mídia. Os resultados pelos quais eu almejo são muito diferentes do que você está vendo na internet. Preenchimento labial, por exemplo, é um procedimento muito bonito de resgate da autoestima de uma mulher ou de um homem, só que o que está acontecendo é que existe o que a gente chama de overfilled, é muito produto para uma beleza que é artificial. Eu gosto muito de realizar os procedimentos de uma forma natural. É o resgate da beleza. Não é transformar a pessoa em outra, mas sim mantê-la bela”, explica.


Paixão por cuidar da pele

Elisa é um exemplo de especialista em questões ligadas à autoestima. Após seis anos na faculdade de medicina, dois de especialização em clínica médica e mais dois em dermatologia, a profissional possui a qualificação necessária para tratar doenças envolvendo pele, cabelo e unhas. Também pode realizar cirurgias dermatológicas e procedimentos estéticos. A paixão pela área surgiu já nos primeiros anos da graduação, e a possibilidade de poder ajudar pessoas a voltarem a se sentir bem consigo mesmas veio como recompensa. “A nossa pele é a nossa fronteira entre nós e o mundo, então tudo que aparece de diferente na superfície da nossa pele, do nosso cabelo, da nossa unha, isso interfere muito na nossa qualidade de vida. Às vezes algumas pessoas têm, por exemplo, acne, que são as famosas espinhas e isso por mais que seja às vezes uma pequena quantidade, mexe tanto com o emocional da pessoa que às vezes ela não consegue nem se olhar no espelho. Então a minha satisfação é poder resgatar isso, poder melhorar a pele dessa pessoa ao ponto de elas voltarem a se amar”, comenta.

O cuidado com a pele, aponta a médica, deve começar desde cedo. Elisa indica que o interessante é procurar um dermatologista já nos primeiros sintomas de mudança no aspecto da pele, como no caso do surgimento de espinhas em adolescentes. “Hoje o que eu vejo muito são as mães já preocupadas com os filhos então eu já vou dando algumas orientações básicas a partir do momento em que essa criança, esse adolescente começa a ter algum sinal diferente, não esperar que tenha tantas lesões de acne, aí a gente já começa a fazer um cuidado diário com a pele dela. É importante não só para a parte de skincare mas avaliar a pele como um todo, verificar se ela está saudável, verificar manchas, lesões de pele, será que tudo isso está normal? Claro, câncer de pele em criança é muito raro, agora uma pessoa que tem 40, 50, 60 anos e nunca foi ao dermatologista e já tomou muito sol é importante a gente avaliar, verificar como está a pele dela”.

O uso da estética para incentivo da autoestima

Elisa Kubo, dermatologista. Foto: arquivo pessoal

Elisa também cita o papel da internet nos hábitos de cuidados com a pele. Segundo a dermatologista, algumas pessoas tendem a criar sua própria rotina de skincare sem antes procurar um profissional. Tal ato pode ser prejudicial, pois o paciente pode começar a misturar produtos que não farão bem para a sua pele. “Às vezes as pessoas começam a usar cremes muito oleosos que não são bons para a pele dela, não que os produtos não sejam bons, mas elas começam a ter alguma acne cosmética, ou seja, essas espinhas surgem por conta de produtos inadequados para pele dela. Em segundo lugar, dependendo do tipo de produto ou então dá a mistura de produtos, essa pessoa vai começar a ter uma sensibilização da pele levando até a um quadro de uma dermatite. Começa a irritar tanto a pele que ela não tolera mais nenhum produto e vamos ter que tratar isso para futuramente podermos retomar algum cuidado diário com a pele. Fora isso há também alguns casos mais graves ainda de eczemas, quadros alérgicos, e dependendo às vezes de algumas misturas domésticas ocasionando até queimadura”.

Quanto ao desejo de realizar algum procedimento estético, Elisa indica que sejam procurados profissionais aptos para a atividade, como dermatologistas e cirurgiões plásticos. “Eu sempre gosto de enfatizar que o mais importante é você ter a confiança no profissional que está tratando o teu rosto e também verificar a parte da formação desse profissional, se ele é qualificado. Também entender que o nosso intuito é deixar você mais bela, melhorar a qualidade da tua vida através desses procedimentos dermatológicos”.

E para aqueles que sentem vontade de realizar procedimentos mas tem medo ou até mesmo algum tipo de preconceito, Elisa lembra que o cuidado com a pele é um cuidado de fora para dentro, que surte efeitos no emocional do paciente. “A partir do momento em que você está bem com você, com seu espelho, a tua vida fica melhor, por isso que eu acho que é muito importante a gente entender o que está acontecendo com essa pessoa que veio me procurar. Se ela tem algum receio, se ela tem alguma coisa que esteja incomodando no rosto, no corpo dela, é porque melhorando isso a gente não vai melhorar somente aquela imperfeição mas a gente vai mudar melhorar a vida dela porque ela vai conseguir trabalhar melhor, ela vai conseguir se ver melhor, ela vai conseguir se olhar no espelho, fazer uma maquiagem e ver que está bem. Apenas trabalhando alguma coisa que ela não se sinta bem, que seja uma acne ou que seja a realização de um botox, ela vai se perceber mais bonita, ou ele vai ser perceber mais belo, e tudo isso vai impactando na vida dessa pessoa, não só no quesito estética mas no quesito relacionamento. Às vezes as pessoas não conseguem se relacionar direito por vergonha de alguma coisa no seu rosto, na sua pele, e quando a gente começa a melhorar isso, tudo vai melhorando”.

 

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