Golpes virtuais já geraram ao menos R$76 mil em prejuízo para munícipes da região em 2024

Entre os dias 1º de janeiro e 06 de março deste ano, o 27º Batalhão de Polícia Militar de União da Vitória registrou 24 casos de estelionato em meio eletrônico nos municípios que compreendem o destacamento. Nos casos registrados em boletim de ocorrência, os golpes de internet geraram um prejuízo de, ao menos, R$ 76 mil às vítimas. O levantamento foi realizado por O Comércio.

Golpes virtuais já geraram ao menos R$76 mil em prejuízo para munícipes da região em 2024

Hooded computer hacker stealing information with laptop on colored studio background

Os depósitos realizados pelas vítimas, geralmente via PIX, vão de valores mais baixos, como R$ 100,00, até grandes montantes, na casa dos R$ 20 mil. Em um dos casos investigados pela 4ª Subdivisão Policial (SDP) de União da Vitória, registrado no ano passado, a vítima teria sido ludibriada pelos criminosos após realizar buscas por um empréstimo pessoal na internet. Pouco tempo depois, os golpistas entraram em contato com a vítima pelo WhatsApp, dizendo ser funcionários de um banco e oferecendo um empréstimo no valor de R$ 10 mil.

Para que o empréstimo fosse concluído, os golpistas pediram para que a vítima fizesse um depósito no valor R$ 465,00. Após realizar a transferência, outra pessoa entrou em contato, se apresentando como gerente do banco e informando que a transação teria falhado e pedindo um novo PIX, dessa vez no valor de R$ 500,00. “Ela teria percebido que caiu num golpe. Teria inclusive comentado com os meliantes que achava que se tratava de um golpe, que não ia fazer mais transferência nenhuma, mas eles tem uma lábia muito grande, conseguem ludibriar a vítima de uma forma em que ela acaba, ao final transferindo mais mil reais para eles”, relata o delegado Andrey Malinovski, responsável pelo caso.

A história utilizada pelos golpistas para convencer a vítima a realizar mais transferências foi a de que, caso os valores não fossem depositados, o ato acarretaria em uma quebra de contrato, o que geraria uma cobrança por meios judiciais. Com medo de ficar com “o nome sujo”, a vítima cedeu às exigências dos criminosos. O prejuízo total ficou na casa dos R$ 2,5 mil.

Durante as investigações, que tiveram início em agosto de 2023, os suspeitos foram identificados. Participaram do golpe dois homens e uma mulher, todos moradores da cidade de São Paulo (SP). “A gente conseguiu chegar neles de uma forma até tranquila. Fizemos o interrogatório de todos, então agora eles estão para ser indiciados. Até o final do mês a gente vai finalizar”, comenta o delegado.

O grupo poderá ser indiciado pelos crimes de estelionato, fraude eletrônica, associação criminosa e por lavagem de dinheiro, visto que o valor depositado pela vítima foi dissipado em várias contas bancárias pelos golpistas. A vítima não foi ressarcida, mas poderá requisitar uma restituição por meio de uma ação na esfera cível.


Como identificar um golpe

Para se identificar uma ação criminosa na internet, é preciso saber os tipos de artimanhas utilizadas pelos golpistas. Na maioria dos casos, o golpe é realizado utilizando os sentimentos da vítima contra ela. “Um golpe sempre está envolvido com a sensação de urgência, certo? Então eles criam um senso de urgência na vítima para que ela aja rapidamente e muitas vezes sem pensar. Outro ponto também é a vantagem. Eles criam aquela percepção de que a vítima vai se sair na vantagem com aquela oferta que eles estão fazendo. Pode ser a oferta através de um falso boleto, ou pode ser a oferta, como é o caso de algumas transações do Pix, onde você faz o depósito de um valor e eles prometem ressarcir aquele valor dobrado após alguns minutos. Nesse caso, eles trazem aquela falsa sensação necessária de uma oferta vantajosa”, explica o advogado Flavio Medeiros, sócio fundador do Conecta Educação Digital, empresa voltada à conscientização sobre a utilização saudável da tecnologia.

Outros sentimentos utilizados durante um golpe podem envolver a confiança, como nos casos da oferta de emprego online, em que a vítima precisa depositar uma certa quantia para desbloquear as tarefas. Nesse tipo de golpe, os criminosos chegam a cumprir o combinado no início do processo, para que a vítima acredite que está lidando com pessoas de boa fé. Porém, quando a quantia necessária para desbloquear as tarefas passa a aumentar, o retorno esperado não vem. “E é importante destacar que esse valor que eles estão pagando para você são valores que já foram retirados de outras vítimas”, aponta Flavio.

Golpes virtuais já geraram ao menos R$76 mil em prejuízo para munícipes da região em 2024

O medo também é uma tática utilizada pelos criminosos. Nesse caso, geralmente, os golpistas fingem ser atendentes de um banco e mentem para a vítima que sua conta está sendo invadida. É importante destacar que telefonar para um cliente para informar que a conta está sendo invadida não é uma conduta adotada pelas agências bancárias.

A ganância é mais um sentimento que joga ao lado dos golpistas. Neste caso, a vítima recebe a proposta de fazer um PIX em um valor X para receber a quantia multiplicada alguns minutos depois. Na esperança de ganhar dinheiro rápido, acaba perdendo. Pessoas curiosas também podem correr perigo de cair em golpes, geralmente naqueles em que um link suspeito é enviado para a vítima, na maioria das vezes junto de um texto chamativo alertando para uma promoção. Ao clicar no link o celular ou computador é acessado remotamente pelos criminosos. Há, ainda, o golpe da empatia, em que os farsantes criam campanhas falsas de arrecadação em prol de uma pessoa em situação de necessidade.

“O golpe, se você parar para analisar, se você parar, respirar e pensar antes de efetuar qualquer tipo de transação, qualquer tipo de PIX, você consegue perceber nos nuances que aquilo se trata do golpe. Por isso, nós sempre destacamos a importância de se ter um pensamento crítico. É pensar assim: mas realmente existe uma pessoa que vai receber R$ 100,00 agora e daqui a meia hora vai me retornar R$ 200,00? De onde que ele vai tirar esse dinheiro? Então isso é a nuance do pensamento crítico”, destaca o advogado.


Quem é mais suscetível?

Ninguém está imune ao vírus do golpe. Basta um momento de desatenção para virar uma vítima. E a ardilosidade dos criminosos é tamanha que os golpes são aplicados de acordo com o perfil da vítima. Mas, segundo Flavio, as chances de cair em uma armação crescem quando não se tem familiaridade com a tecnologia. “Para cada tipo de golpe existe um público que está mais propenso a cair. Mas é principalmente a falta de experiência e o conhecimento sobre os riscos, mais a parte de você não ter um pensamento crítico sobre aquilo que está ocorrendo, que torna a pessoa cada vez mais propensa a ser vítima”.

Para o advogado, a forma mais eficaz de se prevenir de um golpe é a educação digital, incutindo na população o senso crítico necessário para que seja capaz de identificar os crimes. “É aquele pensamento onde as pessoas não confiam plenamente em nenhuma pessoa que acabou de conhecer, a ponto de estar realmente fazendo uma transferência de um valor para uma conta de um terceiro que ela nunca viu na vida, achando que aquele terceiro vai agir com honestidade. Não ter essa empatia de achar que a pessoa do outro lado da rede realmente vai agir com você com a mesma honestidade que você está agindo com ela. Esse é o pensamento crítico. É você sempre estar pensando e ao mesmo tempo desconfiando do que está ocorrendo”.


Fui vítima de um golpe. E agora?

A chance de se conseguir recuperar o dinheiro perdido em um golpe é baixa. O Banco Central possui o Mecanismo Especial de Devolução (MED), criado especificamente para aumentar as chances da vítima reaver seu dinheiro em caso de fraudes. O problema, entretanto, é que os criminosos estão um passo à frente. O MED tem um prazo de sete dias, após acionado, para entrar em contato com a instituição financeira que recebeu o montante e analisar as informações a respeito da transferência. Mas, como no caso investigado pela 4ª SPD, a maioria dos criminosos, quando recebe o PIX da vítima, pulveriza a quantia em várias contas bancárias, o que torna o rastreamento praticamente impossível.

“Raras vezes um processo vai acabar onde a pessoa realmente tenha um retorno financeiro, o ressarcimento do seu prejuízo, em cima da instituição bancária. Por quê? Porque é muito difícil hoje você conseguir comprovar que a instituição bancária tem responsabilidade em cima daquele tipo de golpe. Na grande maioria dos golpes, a instituição bancária não deixou uma porta aberta, uma falha de segurança para que você tenha sido vítima, mas sim, com a forma que o golpe foi orquestrado, você mesmo fez todos os procedimentos para que tenha ocorrido a transferência e você tenha sido vítima do golpe”, destaca Flavio.

A recomendação, mesmo que não seja possível recuperar o valor, é de que a vítima compareça à delegacia e registre um boletim de ocorrência. É importante estar munido com a maior quantidade possível de informações sobre o golpe e o golpista, como número de telefone, prints das conversas e identificação de perfil em rede social quando o golpe é aplicado no Facebook ou Instagram, por exemplo.


Proteja seus dados

Proteger as informações que se compartilham no mundo virtual é essencial. Muitos dos golpes aplicados utilizam dados informados nas redes sociais, por exemplo, para ludibriar terceiros. Por isso, Flavio indica que a presença nas redes sociais deve ser feita com cautela. “Se você tem a sua rede social, quanto mais você posta o que que você gosta, o que que você curte, o que que você faz, quem são teus amigos, quem são teus parentes, mais você vai dar munição para aquele golpista estar entrando em contato e passar algum tipo de golpe em você”.

Outra dica do advogado é ativar mecanismos de segurança nas redes sociais, como a autenticação de dois fatores, que dificulta a invasão de criminosos. “Também, você tem que estar sempre atento às informações que você vai estar compartilhando com outras pessoas. Isso é muito importante. Não compartilhar informações de cunho pessoal, principalmente para pessoas que vocês nunca viram na vida. Então, essas são uma das formas de você se proteger dentro da internet”, completa.

A recomendação de Flavio é que as redes sociais sejam fechadas, e que se tenha contato apenas com amigos e conhecidos. Caso o desejo seja ter uma conta com muitos seguidores, a indicação é que se evite postar informações pessoais. “Se você quer ter uma plataforma aberta, com conteúdos diversificados para todo tipo de pessoas e você quer uma grande quantidade de seguidores, é importante que você não fique postando muito informações pessoais tuas ali dentro daquela plataforma. Se é uma plataforma de criação de conteúdo, então você cria um conteúdo para aquela plataforma sem expor muito a sua vida, porque quanto mais informações você expõe nas redes sociais, mais força vocês estão dando para quem está ali do outro lado trabalhando em algum tipo de golpe”.

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