Da paralisia infantil a autodefensoria da Apae de Porto União

Jovem senhora que superou as dificuldades da vida, recomeçou e conquistou a felicidade. Aos 48 anos, ela é a voz das pessoas com deficiência


Rosinha é uma graça de pessoa. Literalmente, ela é bonita por dentro e por fora. Alguns minutos ao seu lado nos engrandece o dia. Ela é uma jovem senhora que superou as mazelas da vida, recomeçou e conquistou a felicidade. Rosinha é como uma flor. Ela encanta os jardins da vida, exalando delicadeza e inúmeros sorrisos. Hoje, aos 48 anos de idade, ela é a voz das pessoas com deficiência.

Rosa Maria da Silva ficou conhecida não apenas em Porto União, mas também em Santa Catarina. Sua história de vida novamente foi levada a público. Desta vez, o seu porta-voz foi Aluízio Witiuk, durante o programa CBN Entrevista, que foi exibido nesta semana, pela 106.5 FM.

Matriculada na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Porto União (Apae), desde 2017 ela vem atuando no cargo de autodefensora local e regional das pessoas com deficiência.

Nascida em novembro de 1972, em casa, com a ajuda de uma parteira, Rosinha cresceu ao lado de 16 irmãos. De uma vida simples, mas cheia de amor, era da roça que provinha todo o sustento da família.

(Divulgação/Aluízio Witiuk)

Rosinha conta que sua infância, até os sete anos de idade, foi como a de qualquer outra criança. Porém, quando ela deveria descobrir as brincadeiras da vida e amizades, ela foi diagnosticada com a Poliomielite (paralisia infantil) – que é uma doença contagiosa aguda causada por vírus que pode infectar crianças e adultos e em casos graves pode acarretar em paralisia nos membros inferiores. A data do diagnóstico ainda é recordada por Rosinha, 1º de janeiro de 1980.

“Esse dia ficou para sempre em minha memória. Fiquei vários dias no hospital, sem os movimentos, apenas mexia a cabeça para trás”.

Rosinha revela que por vários momentos ela e sua família saíram desenganadas pelos médicos, depois de algumas semanas de internamento.

“Na época minha mãe procurou várias alternativas, uma delas foi procurar benzedeiras, nas quais foram depositadas muita esperança de cura, principalmente depois de começar a recuperar os movimentos através de banhos quentes e ervas medicinais receitados por uma delas; primeiro senti muitas dores; mas logo depois os movimentos foram voltando, primeiro foi a mão direita, depois o pé esquerdo. Tudo isso gerou muita alegria em mim e em minha família, mas infelizmente os movimentos das pernas, que eram muito esperados, não voltaram”, diz.

Rosinha desabafa que nos primeiros anos não entendia o que havia acontecido com ela.

“Eu não sentia mais dor, mas parecia tudo tão distante, tão longe do meu alcance; queria brincar, correr e não podia mais. Ficava sempre em uma cadeira de madeira que meu pai adaptou para mim, pois na época meus pais não tinham nenhuma condição para comprar uma cadeira de rodas”.


Sua mãe, seu anjo

Conta Rosinha que na época dependia muito da mãe.

“Ela fazia tudo por mim sempre e com muito amor, pois via em mim muita vontade de recuperação”.

Foi então que em 1986, Rosa e sua família decidiram morar em São Pedro do Timbó, interior de Porto União (SC). Na época, recorda que era um lugar de pouco acesso, onde as ruas não eram pavimentadas e quase não conseguia se locomover para lugar algum.

Depois de dois anos, a mãe de Rosa conseguiu a primeira cadeira de rodas, tornando a vida da pequena um pouco mais leve, pois já conseguia se movimentar e sair do lugar.

“Eu tinha tanto para aprender, mas minha mãe fazia tudo por mim, não me deixava fazer muitas coisas, pois achava perigoso e tinha medo que eu me machucasse”.

Rosinha começou a frequentar a Apae de Porto União em 1997, onde segue matriculada até hoje.

“Foi nesta Instituição que descobri que poderia fazer várias coisas, como qualquer outra pessoa, como aprender, participar de danças, teatros, participar de aulas produtivas como costurar, dentre tantas outras atividades. Surgiram várias pessoas na minha vida, mostrando para minha mãe através de reuniões na Instituição sobre as minhas capacidades, o que eu poderia fazer e o que era possível. A partir dessa etapa a minha vida mudou e muito, e também melhorou a vida da minha mãe, pois ela diminuiu o seu papel de mãe super protetora e passou a confiar mais em mim e na Apae, me deixando participar de vários projetos como o coral, dança, artesanato, teatro e muitos mais”.

Em 2002, a vida de Rosinha desabou novamente. Sua mãe ficou doente, passando vários dias no hospital, vindo mais tarde a falecer.

“Foi então que bateu o desespero. Eu me perguntava como iria fazer as coisas em casa. Tudo passava em minha cabeça, mas descobri que era muito forte. Aos poucos fui aprendendo a fazer as coisas sozinha. Alguns dias depois minha mãe retornou do hospital com algumas sequelas. Hoje me vejo mais forte, mais segura, acredito mais em mim e no meu potencial”.


Autodefensora

Rosinha ocupa hoje a função de autodefensora local e regional das pessoas com deficiência. O trabalho é mediado na própria Apae, com suporte da direção e equipe pedagógica. Atualmente ela reside em Porto União e afirma autonomia na tomada de decisões. O cargo tem intuito de defender o interesse das pessoas com deficiência; participar das reuniões de diretoria executiva e do Conselho de Administração e participar de eventos promovidos e organizados pelo movimento Apaeano.


Paralisia infantil

A Poliomielite foi praticamente erradicada em países industrializados com a vacinação de crianças, inclusive no Brasil, onde a vacina contra a doença foi incorporada a caderneta de vacinas obrigatórias.

A vacinação é a única forma de prevenção. Todas as crianças menores de cinco anos devem ser vacinadas.

Voltar para matérias