SEGURANÇA PÚBLICA: Discussão sobre segurança atinge esferas estadual e federal

Explicação sobre estrutura da segurança pública revelou direitos e deveres do judiciário, legislativo e executivo. Aula de cidadania aconteceu durante reunião do movimento Segurança Já

·
Atualizado há 9 anos

seguranXXajXX-reuniao-uniaodavitoria
Comunidade cobrou mais ações de políticos para agilizar a sensação de segurança no município. (Foto: Bruna Kobus).

O debate não era para ser político, mas, a conversa teve uma reviravolta. No encontro de anteontem com os comerciantes que fazem parte do movimento Segurança Já, promotores, delegados e representantes dos poderes executivo e legislativo de União da Vitória, o “mando” político foi durante pressionado.

A posição dos representantes políticos da região não demorou muito para ser questionada. Em resumo, das cinco pautas colocadas à mesa para discussão, apenas uma era de responsabilidade do capitão Gilmar Golemba, da 2ª CIPM de União da Vitória.  Essa é a mudança no sistema de ligações feitas para o número de emergência 193, que ao ser discado demora mais que o usual por ter de “dividir” a linha com a cidade irmã, Porto União. “Quando a gente liga são duas opções, uma para União da Vitória outra para Porto União, ou então aguarde na linha para ser atendido”, explica Sonia Kosera, representante do movimento. “Na hora do desespero nem nos prendemos a esse tipo de situação, acabamos não apertando número nenhum”. No entanto, uma possível resolução para esse problema nem chegou a ser discutida, pois a reunião de quase quatro horas só teve espaço para “lavação de roupa suja”.

Os quatro tópicos restantes se resumiram em competências de nível estadual e federal. A transformação da Companhia Militar em Batalhão, a instalação de módulo móvel em bairros com maior incidência de furtos e roubos, aumento na pena para quem pratica esses crimes e o aumento de efetivo tanto militar quanto civil.

Ao passo que os questionamentos eram feitos, a estrutura deficitária de Segurança Pública Estadual começava a ser colocada às claras. Falta de verba e repasse do dinheiro público, falta de efetivo, de equipamentos de segurança para policias, de estrutura em delegacia, de condições de trabalho e a inversão de valores. Promotores denunciaram que policiais civis tiveram de fazer uma “vaquinha” recentemente entre os colegas para comprar um pneu novo para uma viatura da 4ª SDP. Contudo, a situação da delegacia não se resume a isso. Há um ano havia apenas um delegado responsável pela cidade e mais cinco municípios da região. A Delegacia, que fica no centro de União da Vitória, também serve para encarcerar os criminosos que já deveriam estar cumprindo a pena em outro presídio da região. Segundo o delegado Douglas Possebon Freitas, existem atualmente 50 presos, desses 20 são condenados e as condições da carceragem da 4ª SDP só permitem, por lei, dez presos. A estrutura foi interditada pelo Ministério Público local no início de 2013, mas nada adiantou. “Só temos dois caminhos, do amor e da dor. E nós estamos, infelizmente, caminhando pelo da dor”, disparou o promotor criminal Tibério Quadros. Segundo ele, quando o pedido de interdição foi enviado para o tribunal do Estado a resposta foi enfática: o problema é do Estado, mas só se resolve quando o Estado quiser e puder.

A discussão se ampliou quando o assunto passou para a construção de um presídio no município. Nesse momento a “culpa” pela não instalação na cidade foi distribuída entre políticos presentes e, também, munícipes. Segundo as autoridades já havia terreno para que a construção fosse iniciada, no entanto, por aclamação pública de que a obra seria um ímã para mais bandidos, o projeto esfriou. Promotores da mesa afirmaram que a situação inversa aconteceria. “É claro que um presídio não seria só para presos de União da Vitória, mas com uma estrutura grande como aquela viriam mais policias civis, militares, carcereiros, delegados, carros para rondas e tudo mais”, disse Quadros.

Em outra discussão, sobre a ampliação da 2ª CIPM em Batalhão de Polícia, Golemba foi colocado contra a parede, mas se blindou contra as críticas, dizendo ser um prestador de serviço da segurança tendo ou não efetivo para trabalhar. “Só faço meu trabalho e tento fazer da forma mais assertiva, mesmo com pouco pessoal.”

Atualmente a Polícia Militar de União da Vitória tem pouco mais de 120 policias e não há previsão para ampliação do quadro de funcionários.

A mudança começa no voto

seguranXXajXX-reuniao-uniaodavitoria2
Diretoria do movimento comemorou explicações

Quadros foi o mais aplaudido durante suas falas. Pudera, ele não poupou ninguém de suas críticas, inclusive os comerciantes que estavam logo à frente, sentados. “Há um achatamento das polícias, não tem investimento do Estado e isso é política. Por isso senhores, vejam a importância do voto popular”, exclamou.

O promotor explicou que seus colegas de judiciário estão intimamente ligados com a lei, e se a lei abre brechas para que criminosos sejam libertados, não é um problema pessoal e, sim, da legislação vigente. No entanto, lembrou que as criações das leis são de competência de quem é eleito. “É preciso saber melhor a estrutura para dar seguimento com o debate”, comentou.

Políticos que estavam na reunião se pronunciaram. Um deles, o vereador e presidente da Câmara, Ziliotto Daldin, questionou os munícipes onde todos estavam há cinco anos, quando ele e colegas da empresa Piedade – que haviam sido assaltados na época – foram às ruas pedindo por mais segurança. Daldin disse que o movimento veio tarde, mas que as ações são válidas.

O prefeito de União da Vitória, Pedro Ivo Ilkiv também se autoanalisou e disse “se puxar a orelha” toda vez quando observa o andamento dos projetos. Ilkiv afirmou que a delegacia foi seu objeto de campanha, junto com Jair Brugnago, mas que, no entanto, a situação política mudou e a confiança obtida na formação há três anos já não é a mesma.

Abaixo assinado

Pela pauta se tratar, em sua maioria, de atribuições exclusivas dos poderes estadual e federal, a proposta feita pela promotora Juliana Mitsue Botomé foi de fazer um projeto de iniciação pública endereçada ao governador do Estado e ao secretário de Segurança para que o Ministério Público consiga, de uma maneira formal, auxiliar no andamento das discussões com o governo. Ela ainda pediu para que os projetos com anseios apresentados durante a reunião fossem encaminhados também para todos os deputados estaduais que possuem uma cadeira na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).

A proposta foi acatada pelo grupo que já está colhendo as assinaturas e preparando o documento.

Conseg

A formação do Conselho Municipal de Segurança (Conseg) na cidade foi apontada como uma das soluções para a segurança pública em União da Vitória. Já que a população terá um canal para denunciar as autoridades sobre situações suspeitas. O delegado Possebom reforçou que o trabalho da Polícia depende muito da interação com a sociedade, por isso, a necessidade de informar, nem que de forma anônima, as situações que acontecem em seu bairro. “Só você conhece o bandido ou traficante da sua rua, por isso tem propriedade para denunciar”, disse.