Saudades da Ucrânia, um programa que marcou o Vale do Iguaçu

“13h, pontualmente. Estamos iniciando para você pelas ondas das turbulentas águas do Iguaçu o programa Saudades da Ucrânia”. Era assim que, durante 36 anos, o programa que dava voz às tradições ucranianas na inesquecível Rádio União iniciava sua programação. Comandado pelos irmãos João Sliwinski Primo e Mário Sliwinski, o programa Saudades da Ucrânia marcou gerações no Vale do Iguaçu e na região.

Saudades da Ucrânia, um programa que marcou o Vale do Iguaçu

Mário nos estúdios da Rádio União durante apresentação do programa Saudades da Ucrânia. Foto: arquivo pessoal

A ideia do programa surgiu em 1981, durante uma conversa entre João e o então diretor da rádio, Miguel Kalinoski. De pronto, o Saudades da Ucrânia conquistou espaço e importância na comunidade ucraniana. Era durante sua hora de duração aos domingos que eventos eram divulgados e que a tradição ucraniana era mantida por meio das músicas que tocavam na programação. O acervo musical pessoal de João era, na época, uma das poucas fontes de músicas ucranianas nas cidades e, por isso, escolheu compartilhá-la com a comunidade.

O programa só chegou ao fim em 2017, com o encerramento das transmissões da Rádio União. Mário, que atualmente é aposentado, lembra com carinho do programa. “Que saudades, hein? Pois é, esse programa iniciou por obra do acaso. Certa vez conversando com o então proprietário da Rádio União, o finado o senhor Miguel Kalinoski, o mesmo cedeu gratuitamente um horário e assim iniciou o programa Saudades da Ucrânia, que perdurou por mais de três décadas ininterruptamente, sempre no ar. No início éramos em várias equipes e com o passar do tempo fiquei eu, ‘solito’. (…) Fiquei até o final, bem ou mal, mas conduzindo o programa até o dia derradeiro, um dia muito triste porque a Rádio União, os transmissores foram desligados e, conjuntamente, o nosso programa também foi”.

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Mário explica que a comunidade ucraniana é apegada às suas tradições, e procura sempre mantê-las vivas, seja por meio da música, do folclore, dos costumes, da língua, dos ritos e, porque não, do programa Saudades da Ucrânia. “Quando a Rádio União parou as transmissões, foram desligadas as suas atividades, o programa parou também. Ficou aí aquele vazio, pois o programa já tinha se tornado um hábito todos os domingos. O pessoal, quando acontecia de faltar luz, alguma coisa, o pessoal me cobrava ‘daí, o que que aconteceu?’ Quando o programa parou ficou aquele vazio para os ouvintes e também para mim, que já era aquele vício. Que nem dizia o povo, se não tinha o programa no domingo não era domingo”, comenta.


Preocupação com a Guerra

Como descendente de ucranianos, Mário se demonstra preocupado com o conflito entre Rússia e Ucrânia, e descreve o povo ucraniano como pacato, humilde e trabalhador. “É inadmissível, no século 21, vermos essas atrocidades por parte não do país opositor apenas, e sim por um carrasco, um ser desprovido de sentimentos e também desprovido de coração. Em pleno século 21 a nossa pátria mãe Ucrânia se deparando mais uma vez com a opressão no mais alto grau”, lamenta.

Mário atribui a Guerra à ganância de poderosos, e declara que, para ele, o mundo seria mais bonito se todas as nações se apoiassem. “Fica aí a pergunta: onde vamos parar com essa ganância, essa ganância desenfreada? O planeta é tão belo, ou seria ainda mais belo se as nações se dessem as mãos impulsionando umas às outras. Hoje o mundo presencia na Europa uma guerra suicida, levando em conta a desproporção bélica entre ambos. A ganância em termos globais é uma erva daninha, ela se traduz nos dias de hoje que traz consigo esse imenso abismo entre ricos e pobres. A olhos vivos nos deparamos com o aumento da criminalidade. A criminalidade é o preço que se paga por isso pela ganância”.

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O receio de Mário é de que, se o ser humano optar por continuar com conflitos, a Terra continue em seu lugar, mas que seus hóspedes padeçam perante as guerras. “Hoje a humanidade como um todo está se dizimando, não tem mais respeito algum, não se tem mais pudor. Os meios de comunicação cada vez mais evoluídos, televisão, internet e outros, tudo isso é uma dádiva de Deus. É uma pena que o uso está sendo direcionado para o mal”.

Apreensivo, o ex-locutor pede para que a população se una em uma corrente de pedidos para o bem do povo ucraniano. “Finalizo pedindo a todos os ucranianos, a todos os os nossos ouvintes que nos unamos em oração para que o mais breve possível cesse essa guerra brutal. Slava Ukraini. Viva a Ucrânia!”

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