Opinião: “A criminalização do pensamento de direita”

Com as eleições de 2018, considerou-se que o bolsonarismo ganhou as massas pelas redes sociais. A esquerda, então, iniciou uma progressiva criminalização do pensamento de direita. A narrativa a se espalhar foi a de que a esquerda progressista representava mais que uma alternativa política; era uma saída civilizatória.

O Brasil jamais foi civilizado, a maior parte dos políticos brasileiros sequer sabe o que é direita ou esquerda e a ideologia é para a maior parte deles mero instrumento de acesso ao poder. Mesmo assim, fizeram crer que o pensamento conservador era o mal do país e o progressismo, a sua salvação. Tomaram as ideologias de direita como sinônimo de bolsonarismo e o bolsonarismo, como sinônimo de imbecilidade – alguns deles, tenho que reconhecer, ajudaram bastante neste intento. O fato é que tudo aquilo que era de direita passou a significar barbárie.

Atualmente, é dessa forma que a história do Brasil é contada pelo governo petista e pelas instituições de Estado que com ele se relacionam ou a ele se submetem. Tudo que é progressista é bom, é moral, visto como a coisa certa a se fazer e a se pensar, ao passo que todo conservadorismo é lixo. Todos que se encaixam no rótulo liberal são vistos como fascistas ignorantes. O pensamento de direita foi criminalizado, transformado em uma blasfêmia à democracia, algo perigoso e que deve ser combatido.

Não à toa, recentemente, o ministro Barroso se sentiu confortável para dizer a uma plateia de estudantes de esquerda: “derrotamos o bolsonarismo”. Ele, provavelmente, não quis dizer apenas “elegemos Lula”, mas sim “derrotamos o mal”. Não à toa também os dentes rangendo dos ministros do Supremo aos réus do dia 8 de janeiro e seus olhos enxutos ao meterem-lhes nas grades por 17 anos.

No entanto, o processo é cíclico. O poder da esquerda governista também começará logo a incomodar. Os políticos entendem pouco de ideologia, mas sabem muito de poder. Quando o governo petista e seus pares concentram camadas exageradas dele sem as repartir com ninguém, flerta com a possibilidade de que a ideologia a ser criminalizada amanhã seja a sua. Algo que, aliás, já ocorreu e mesmo assim o petismo não aprendeu nada.

O mesmo poderá acontecer também com os ministros do Supremo. Emparceirados com as pautas progressistas do governo e seduzidos por sua própria voz, não percebem que seus excessos incomodam e alimentam a possibilidade de que o carrossel da história os transforme em vilões, para que outros heróis surjam.

O poder muda de mãos neste país como quem muda de roupa, as autoridades se submetem ao jogo político como um doente terminal à morte. As ideologias são criminalizadas, uma de cada vez, para que o bastão possa ser passado ao próximo. Tudo por aqui muda apenas para que o poder possa ser usufruído por todos. Por todos, menos pelo povo – óbvio.

André Marsiglia é advogado e professor. Especialista em liberdade de expressão e direito digital. Pesquisa casos de censura no Brasil. É doutorando em direito pela PUC-SP e conselheiro no Conar. Escreve semanalmente para o Poder360, onde este artigo foi originalmente publicado.

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