Opinião: “A economia brasileira na montanha russa”

Se a minha proposta fosse apenas um rápido resumo da economia em 2023, provavelmente todos nós estaríamos muito felizes, pela relação de dados positivos que listo abaixo;

– Aumento do PIB em quase 3%;

– O PIB nominal atinge 2,13 trilhões, ultrapassando o Canadá e colocando o país no Top Ten mundial;

– Inflação em queda e mantida próxima à média durante todo o ano;

– Desemprego em queda, com menor índice desde 2015, e empregos atingem a marca histórica de mais de 100 milhões de brasileiros;

– Queda gradual e contínua dos juros, de 13,75% que resistiu até o meio do ano para 11,75%, valor deste fim de ano com perspectiva de queda maior em 24;

– Aumento real do salário-mínimo de 7,7%, fato que não ocorreu em nenhum ano sob Bolsonaro e Temer;

– Correção da tabela de IR, de R$ 1903 para R$ 2640, livrando milhares de brasileiros da mordida do Leão;

A economia brasileira na montanha russa

Silhouette roller coaster in the park

Claro, poderia ainda registrar a queda do desmatamento, a recuperação do prestígio internacional, ainda que submetida a trapalhadas e contradições, mas, ainda assim, a leitura popular indica queda do prestígio de Lula em 23 e uma persistente desconfiança em relação a seu governo. O que há de errado com Lula 3?

O principal indicativo do humor do brasileiro, a aprovação ao governo em queda, mostra com precisão que o governo continua passeando em uma montanha russa, cheia de emoções e contradições, que não nos permitem confiar e acreditar que seguiremos em processo de melhoria constante. Isto talvez se deva aos inúmeros sinais que setores do governo emitem e que potencializam a crescente decepção dos brasileiros com Lula, em particular, e com políticos, genericamente.

Em 2024, o crescimento deve ser menor, talvez em torno de 2%, recuo preocupante porque poderia confirmar a linha de crescimento da economia. Lógico que há tempo para reversão desta expectativa, embora improvável. O agronegócio que, penalizado pelas condições climáticas, recuou mais de 3%, vai reverter este número em 24 e todos nós sabemos da dependência da nossa balança comercial do agronegócio e do extrativismo, mas ainda assim serão as comodities, inclua o petróleo na lista, que podem ser decisivos no resultado de 2024 e, também sabemos, estes fatores estão atrelados a macro fatores, que, por simplificação, podemos apontar para os resultados das economias chinesa e americana, exceto por novos confrontos significativos no globo terrestre.

Vamos ser mais objetivos? Toda esta leitura supramencionada não interessa e nem mesmo pode ser traduzida por mais de 70% da população brasileira, este universo de brasileiros típicos, com pouca cultura e nenhum interesse por política, entende mesmo é de sinais que consegue traduzir do governo e estes seguem afrontando o bom senso da população. Vamos listar alguns …

O valor nem mesmo é significativo, mas cada vez que se divulga gastos dos cartões corporativos do governo ou das viagens internacionais, o cidadão comum atinge picos de indignação. Pode ser pelos valores elevados, 1 bilhão em viagens internacionais, embora seja justo registrar que menos de 80 milhões foram nas quinze viagens de Lula para 24 países, ou pequenos valores como os 330 mil reais gastos com tapetes, piso e um sofá para decorar a residência presidencial.

A irritação segue com as medidas incompreensíveis do STF, na qual destaco a reversão da decisão do Tribunal de Contas que reabilita o quinquênio para o judiciário que representam 16,3 milhões em janeiro, mas que, no retroativo tomam 832 milhões dos cofres públicos para premiar juízes. Frisando que, depois dos governos Bolsonaro e Temer, só agora o trabalhador comum terá míseros cem reais de aumento real no salário.

Sou capaz de apostar que é na relação com o Congresso que a gritaria nacional incorpora dezenas de decibéis. Ainda que o ano termine com dois fatos positivos, aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, bastante relevantes, a vergonhosa faca no pescoço do presidente, e foi assim também com Jair, afronta a moralidade da nossa política. Não tem inocente nesta história, se não fosse o apego ao poder, os presidentes poderiam ter mais dignidade na negociação, mas os números crescentes das emendas parlamentares, sob qualquer batismo, são indecentes!

Oscilando entre 15 e 16 bilhões entre 2015 e 2018, se mantendo na faixa de 18 bilhões nos dois primeiros anos de Bolsonaro, subiu para 40,1 bi em 21, 28,9 em 22, 37,3 agora me 23, sob Lula e, abusivos 52,2 bi previstos para 2024, sempre com a faca da governabilidade e o revolver do impeachment guardados na primeira gaveta.

Não posso falar por você, mas este último fato me leva ao limite da indignação e me impede de acreditar na moralidade na política nacional, sem nenhum corte na métrica ideológica. A podridão atinge da ponta direita à ponta esquerda com teores mais fétidos no centro. Ou seria pútrido, no Centrão?

Conseguiria, com facilidade, continuar descrevendo minhas frustrações, com uma sequência de notícias ruins que me impediriam de comemorar o réveillon, mas, como uma criança feliz com as emoções de uma montanha russa, prefiro terminar sonhado com a lenta subida do carrinho da economia que me permite olhar o horizonte e acreditar que em 2024 pode ser muito melhor.

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