Opinião: “Antissemitismo à brasileira”

O Brasil é mesmo um país que vive na vanguarda do atraso. Enquanto governantes e intelectuais do mundo civilizado demonstravam consternação com as vítimas dos ataques terroristas do grupo Hamas, membros do governo petista, professores universitários progressistas, alguns jornais e celebridades de esquerda relativizavam até mais não poder os ataques.

Existem milhões de maneiras de se mostrar favorável à causa palestina sem que para isso você precise se comportar como um imbecil. A melhor delas, em um momento como este, é condenar os ataques, ser solidário às vítimas, compreender com sensibilidade o momento e, após a poeira baixar, expor politicamente seu ponto de vista em redes sociais, imprensa ou dentro das gaiolas universitárias onde professores encontram em adolescentes pueris o público ideal para sua fala autoritária.

Por estas bandas, nossos pensadores progressistas não apenas deixaram de aguardar com mínimo respeito o momento adequado para trazer seu ponto, como chegaram ao cúmulo de se manifestar em apoio aos crimes cometidos pelo Hamas. A incapacidade de crítica à sua própria crença denota fanatismo e, embora ser fanático não seja crime, é um importante sinal de burrice. E a burrice não deixa de ser um dos motivos que levam as pessoas ao cometimento de crimes.

Para defender com unhas e dentes seu fanatismo, culparam as vítimas do massacre, celebraram mortes, disseram que atos de terrorismo são uma retaliação justificável e colocaram na conta da reação furiosa de Israel a culpa pela ação do Hamas, como se a consequência legitimasse a causa. Fato é que, ao defender a motivação de um crime, ofende-se a vítima. No caso concreto, defender o terrorismo do Hamas contra judeus é flertar com o antissemitismo que, no Brasil, é crime equiparado ao de racismo.

Curiosamente, quem se comporta desta forma agora são os mesmos personagens que há pouco tempo condenavam o fanatismo bolsonarista, seu discurso de ódio e agressão a valores democráticos. Os mesmos que, diante do risco do bolsonarismo ser reconduzido ao poder, prometeram representar uma alternativa civilizatória. São estas mesmas figurinhas carimbadas que andam nestes últimos dias pelas redes sociais, sem qualquer freio, promovendo uma espécie de antissemitismo à brasileira, por meio do qual, desde que haja alinhamento ideológico, tudo é válido, inclusive culpar a vítima e inocentar de seus crimes o algoz.

André Marsiglia é advogado e professor. Especialista em liberdade de expressão e direito digital. Pesquisa casos de censura no Brasil. É doutorando em direito pela PUC-SP e conselheiro no Conar. Escreve semanalmente para o Poder360, onde este artigo foi originalmente publicado.

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