Opinião: “Cobertor curto + personalismo = tragédia na gestão pública”

Por gentileza, dá um desconto, engenheiro adora equação. Mas, se você analisar comigo, verá que esta equação, diferente daquelas da escola, não complica, mas explica muita coisa.

Peço que me acompanhe no raciocínio.

Existem muitas demandas na área da educação, talvez seja difícil eleger a mais importante, mas acredito que a escola em tempo integral seja aquela que oferece mais respostas aos problemas das cidades e da família. Todavia, a velocidade de implantação deste modelo é nula ou pequena e priorizar esta questão é sempre assunto para a próxima gestão.

Quando se pensa na área de saúde, são tantas as necessidades, agravadas pela alteração de prioridades provocada pela pandemia, que se torna também difícil eleger prioridades. Prefeitos e gestores optam sempre pela construção de novas unidades, mas, ouso afirmar, as famílias estão muito mais preocupadas com o tempo de espera, espaço entre o pedido de exames e consultas e seu atendimento, que causa transtornos e, muitas vezes, exige que se gaste dinheiro com particulares em eventos que deveriam ser atendidos pelo poder público.

Se a tua preocupação é com a infraestrutura da cidade, normalmente defasadas pela limitação de recursos perene neste setor, saiba que as ações de perfumaria, recape e remodelação de praças são muito mais atendidas que as urgentes adequações de drenagens públicas, redes de esgoto, água ou mesmo redes elétricas, e evoluções de cada setor.

Sem necessidade de percorrer os demais setores, por serem estes os mais relevantes, fecho o raciocínio te perguntando por que razão, as obras de vitrine, que permitem placas e festas de inauguração são sempre as preferidas em detrimento das mais importantes e próximas das prioridades da população?

Se você está pensando, é muito provável que nossas respostas convirjam para a mesma leitura; os nossos gestores têm as suas prioridades que quase nunca são iguais à escala da sociedade. E, começamos a entrar na avaliação efetiva do problema, nossa democracia, por razões que jamais serão escancaradas na legislação, tem extrema dificuldade de enxergar com a nossa ótica. O que é urgente para o povo, muitas vezes nem mesmo é relevante para os prefeitos porque eles são movidos por outra lógica; o calendário eleitoral.

Sem placas e festas de inauguração, não se alavanca os índices de aprovação. Por deficiência em nossa formação política, também não somos treinados para valorizar ações de longo prazo. Prefeito que enterra dinheiro em obras de infraestrutura, ou em ações sem visibilidade na educação ou na saúde, são, quase sempre penalizados com avaliações precárias que acabem limitando seus projetos eleitorais.

Projetos eleitorais? Pronto! Apareceu o item fundamental na cabeça de todo e qualquer gestor público, com raras e honrosas exceções.

Político tem projeto pessoal, tem família, grupo político e cada um destes mais próximo de si e mais importante na definição das prioridades do município. Isto sem nem mesmo citar aqueles, que você conhece tão bem, cujo único conselheiro aceitável é o espelho que lhe permite exercitar seu narcisismo.

Estamos em ano eleitoral e esta discussão pode ser um bom horizonte para a definição de voto e preferência, embora, lamento registrar, isto não tem solução de curto prazo. Repetindo o nome ou escolhendo outro, a rotina se retroalimenta e, logo a seguir, estarão de novo pensando nas eleições seguintes.

Eleições seguintes? Foi bom tocar neste assunto porque me permite citar o único antídoto capaz de mudar esta rotina cruel. Será que existe algo assim que motivaria políticos a mudarem suas prioridades e ter um olhar mais próximo das necessidades populares?

Existe! Muito mais simples do que se imagina, basta proibir reeleições no Brasil para o Executivo que os resto se ajeita em poucos anos.

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