Opinião: “Conservadorismo forte, mas bolsonarismo em risco”

O explosivo julgamento que o STF promove atualmente dos réus do 8 de janeiro pode ter muitos condenados, mas parece cada vez mais cristalino que a vítima maior não está presente; Jair Bolsonaro pode estar vivendo seu epílogo político, embora o movimento que representa, o conservadorismo, não será afetado por nenhuma das sentenças a serem proferidas.

O primeiro turno de 2022 já apontou para uma vitória contundente da direita, com a eleição de um expressivo número de representantes, maioria do Congresso se consideramos a régua desde o centro até a ponta direita.

Os números finais, com a vitória de Lula, podem ser atribuídos com maior intensidade aos excessos verbais de Jair, origem maior de sua rejeição, que conseguiu superar a do adversário, condenado e descondensado com inúmeras acusações de corrupção.

A verdade é que o conservadorismo conseguiu se mostrar maior que qualquer outro movimento político brasileiro, mas foi incapaz de enfrentar a verborragia de seu candidato, todavia não parece que será afetado por nenhuma das questões controversas que atingem Jair Bolsonaro.

As razões transcendem os aspectos políticos e se justificam muito mais pela pauta de costumes, ressalvados alguns excessos, que alinham a maioria dos brasileiros, desde pequenas questões se estendendo as extensas discussões sobre aborto ou drogas, para citar as pautas mais relevantes.

Não se trata de desprezar o capital político de Jair, que disputa com o presidente o título de maior eleitor nacional, ambos, seguramente, oscilando em torno de 15% do eleitorado, mas de perceber que nenhum deles tem capilaridade para atingir maioria absoluta sem composições ou discursos que conquistem a fatia central, ou não identificada, do eleitorado. Todavia, Bolsonaro perde a essência de seus discursos com os fatos já elucidados e a delação de Mauro Cid, em curso, e outras prováveis que se seguirão e, sem a necessária coerência, independentemente de sua condenação, não terá fôlego para novas disputas presidenciais.

Todos sabem que vácuo não se sustenta em política e, desde já, alguns nomes já se credenciam para assumir a liderança deste movimento. Tarcisio, Zema, Ratinho e Eduardo Leite, talvez nesta ordem, largam nesta disputa que, se produzir um único vitorioso, terá tamanho suficiente para enfrentar Lula em 2026.

A fragmentação pode dificultar estas projeções embora o primeiro tempo das eleições possam produzir o resultado que não saia dos bastidores da política.

Lógico que é uma leitura ainda muito distante dos fatos e que pode evoluir para outros caminhos, mas algumas conclusões podem ser assumidas desde já; apenas o bolsonarismo está sendo julgado e pode ser sepultado, o conservadorismo segue forte à procura de lideranças mais preparados para o debate político.

Julgo que esta definição pode ser de muita relevância na cena política nacional porque podemos estar evoluindo das anacrônicas disputas personalistas para um intenso debate ideológico, se possível recheado de planos e ideias. Talvez seja desejar muito, mas, esteja certo, podemos estar assistindo o início de um novo ciclo, muito mais estimulante, da política brasileira.

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