Opinião: “Direita x Esquerda não é o jogo principal de 2024”

Sempre que houver eleições, o confronto entre os dois polos será evidente, mas, basta observar o histórico, não é esta questão que está no centro das decisões de voto nas eleições municipais.

Foto: José Cruz/Arquivo/Agência Brasil

Importante observar que o conjunto de fatos relevantes em centros maiores é diferente dos pequenos e médios municípios. O candidato nos grandes centros é muito mais uma referência do que alguém que o eleitor efetivamente conheça, como acontece em eleitorados menores, logo a possibilidade que seu perfil ideológico seja avaliado é muito maior porque isto se soma ao grupo ou partidos que lhe dão sustentação, gerando um conjunto de informações que ajudam o cidadão comum a se posicionar em relação a ele.

Em eleitorados menores, sem segundo turno, a eleição é uma conta de chegada, quem conquista mais votos, será o vitorioso, por óbvio, mas é um detalhe relevante porque nenhum deles precisa fazer maioria simples, como nos grandes municípios, reduzindo a importância da rejeição na definição da eleição. Logo, a disputa é centrada em somar votos seduzindo diferentes segmentos do eleitorado com bandeiras que lhes sejam atraentes. Histórico de vida, recall eleitoral, credibilidade, grupo político e bandeiras eleitorais são as variáveis mais importantes a serem consideradas. Mas, é fundamental frisar, nem o melhor plano de governo consegue reverter votos se não for assinado por um candidato respeitado pela cidade. A credibilidade e o conceito superam de longe as ideias, diria com tristeza que, quase 70% dos eleitores das cidades menores, sequer percebe o debate sobre planos e projetos, estes são apenas uma fantasia, um requisito legal das candidaturas, com honrosas exceções.

Nos grandes centros, com disputa em dois turnos, é preciso entender que, por todo o processo, duas variáveis exigem monitoramento detalhado; a intenção de votos e a rejeição do candidato. São respectivamente o piso e o teto de cada candidato, cada item com suas exigências. O piso precisa ser suficiente para permitir, ainda que na arrancada final, chegar entre os dois primeiros, e o segundo, teto da candidatura, deve permitir, caso se atinja a primeira meta, que se ultrapasse a maioria simples. Logo, o foco é diferente para cada etapa; preocupação maior com o piso na primeira etapa, sempre definindo estratégias que não reduzam o teto, fator decisivo no segundo turno.

Este raciocínio é que permite perceber por que o contexto ideológico é importante nestas disputas. Ocorre que a métrica ideológica é, talvez, o fator que mais contribua com a definição do teto de cada candidatura, ainda que não implique em alterar o piso, índice de intenção de votos. Por esta razão, a disputa da direita x esquerda se torna realmente efetiva apenas onde a disputa tem dois turnos, isto sem desconhecer que postura mais acentuadas, de um lado ou outro, podem, mesmo em pequenos redutos, contribuir para simpatia ou rejeição eleitoral.

Outro detalhe relevante é que, nos pequenos centros, as candidaturas estão focadas quase que integralmente no resultado eleitoral; disputam porque buscam o poder. Todavia, nas grandes cidades, uma disputa majoritária é um trampolim, uma possibilidade relevante de se tornar um bom ativo eleitoral. O palanque eletrônico e o nível de exposição pode alterar o cacife até de candidatos derrotados nos pleitos seguintes e isto permite que nem sempre o objetivo de muitas candidaturas seja vencer, mas gerar uma imagem positiva e maior o recall, nível de conhecimento da população.

Outro fator relevante é que, muito mais que em 2020, as redes sociais assumiram a política é, tudo indica, serão o cenário mais importante do debate eleitoral. Ponto positivo para a ampliação da participação popular e da possibilidade de muito mais atores na cena política e, sempre lamentável, até mais que os nefastos fake news, 2024 poderá ser marcada pela presença abusiva de deep fakes, alavancados pelo fácil acesso aos aplicativos de IA que podem tornar o ambiente muito mais tumultuado.

É apenas o início do ano, o cidadão comum só agora se liga nas notícias da sucessão municipal, mas, nos bastidores, a campanha segue intensa, com previsão de altas temperaturas logo após o carnaval.

Seguiremos atentos e torcendo para que aja um mínimo de discussão e comprometimento dos candidatos com planos e ideias.

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