Opinião: “No Brasil, extrema direita é uma mentira da esquerda”

Ouvi de um analista político progressista que Lula se uniu a Geraldo Alckmin nas últimas eleições para que o Partido dos Trabalhadores pudesse finalmente se assumir como uma opção alternativa aos que desgostam da esquerda. Para o analista, o PT é hoje um partido de centro e a esquerda é composta de partidos como PSOL ou PCO. Este movimento, na visão dele, tem sido importante para blindar a democracia contra a extrema direita.

Curioso que, neste quadro pintado, só existe a extrema direita, a direita mesmo não existe. Como extremar um pensamento inexistente o analista não explicou. O raciocínio dele pode ser uma tolice, mas mostra bem como funciona a cabeça de quem sai por aí chamando todo opositor de “extrema-direita”.

Para estas pessoas, na melhor das hipóteses, o pensamento de direita é um lugar tão desconhecido como é o Brasil aos estrangeiros que respondem que nossa capital é Buenos Aires. Na pior das hipóteses – a mais provável – fundir o pensamento de direita ao prefixo “extrema” é uma forma de criminalizar a oposição e se manter no poder.

Afinal, extremos são combatidos com controle e prisão, não com debate e eleição. A direta ser enxergada como um antro de radicais é conveniente para impedir que seus adeptos e candidatos sejam incluídos na política.

A extrema direita não existe no Brasil – é apenas um espantalho político da esquerda. Há alguns meses, para este Poder360, em um artigo intitulado “A criminalização do pensamento de direita”, escrevi:

“A narrativa que se espalhou foi a de que a esquerda progressista representava mais que uma alternativa política; era uma saída civilizatória e tudo aquilo que era de direita passou a significar barbárie. O pensamento de direita foi criminalizado, transformado em uma blasfêmia à democracia, algo perigoso e que deve ser combatido”

Enquanto o pensamento de direita não for legitimado e respeitado como parte do jogo político, teremos no poder uma troca de bastão entre amigos, parceiros. Os adversários serão sempre vistos como o mal, como um perigo à democracia. Sendo que o perigo é justamente a ausência de possibilidade de alternância ideológica.

Criminalizar pensamentos sob a desculpa esfarrapada de que assim se preserva a democracia, talvez, seja o ato mais antidemocrático cometido nos últimos tempos em nossa República mequetrefe.

André Marsiglia é advogado e professor. Especialista em liberdade de expressão e direito digital. Pesquisa casos de censura no Brasil. É doutorando em direito pela PUC-SP e conselheiro no Conar. Escreve semanalmente para o Poder360, onde este artigo foi originalmente publicado.

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