Março azul marinho alerta para prevenção do câncer de intestino

O mês de março, para a saúde, tem a cor azul marinho, e simboliza o período de conscientização para prevenção do câncer de intestino. A campanha é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed), da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).

Março azul marinho alerta para prevenção do câncer de intestino

Foto: Freepik

O câncer de cólon e reto, como é clinicamente chamado o câncer de intestino, já é o segundo maior em prevalência para ambos os sexos, ficando atrás apenas do câncer de próstata no caso dos homens, e do câncer de mama no caso das mulheres. Em 2023, estima-se que 45.630 brasileiros tenham sido diagnosticados com a doença. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), entre o triênio 2023/2025, 136 mil pessoas devem ser vítimas do câncer de intestino no país. O número de óbitos pela doença, no ano passado, está na casa dos 21 mil.

Uma das maiores preocupações com relação ao câncer de intestino é o fato da doença, na maioria dos casos, ser identificada em fase avançada. Um dos motivos, segundo o gastroenterologista Ricardo Monte Junior, é que os sintomas costumam aparecer apenas quando a lesão no órgão já é de grande porte. A essa razão deve-se a importância dos exames preventivos. “Quanto maior a lesão, a tendência é uma lesão mais agressiva, mais invasiva, [logo] pior o prognóstico. A ideia é não esperar ter sintomas para começar a fazer os exames. Devemos fazer uma rotina de rastreamento nas pessoas que não têm sintomas”.

O especialista indica que os exames preventivos devem ter início a partir dos 45 anos, desde que a pessoa não tenha casos de câncer colorretal na família. Do contrário, é necessário identificar a idade com que o parente próximo foi diagnosticado, e diminuir dez anos desse índice. Ou seja, se um membro da família registrou câncer de intestino aos 45 anos, os exames preventivos para os parentes devem começar aos 35. “Começamos com exames de fezes, sangue oculto, ou até colonoscopia, porque através desses exames a gente consegue detectar pólipos, que são as lesões precursoras do câncer de intestino”, explica.

Dr. Ricardo Monte Junior. Foto: divulgação

Os sinais de alerta de que algo pode estar errado na saúde do órgão são a mudança de hábitos intestinais, mudança no formato das fezes, emagrecimento, sangramento e anemia. Esses itens, contudo, também podem estar presentes em outras doenças, por isso é importante que se procure um médico ao notar algum dos sintomas. “Pega uma doença de Crohn, uma retocolite ulcerativa: pode dar diarreia, pode dar sangramento. Uma gastroenterite, que é uma infecção, normalmente é um curso mais agudo. Como tudo na medicina, uma coisa muito importante é a história clínica e o exame físico. Hoje em dia, na medicina moderna, a gente fica muito voltado a exame, a exame complementar, exame de imagem, tecnologia. Mas uma história e uma anamnese bem feita, um exame físico bem feito, pode dar muita pista e diminuir a quantidade de exames da complementação”, comenta Ricardo.


Pólipos e sangramento

Um exame inicial para detecção de problemas intestinais é o de sangue oculto nas fezes. O doutor relata que a presença de sangue pode estar atrelado a diversas patologias, a mais comum sendo as hemorroidas, mas também podendo estar presente em casos de infecção, inflamação, doença diverticular, displasia, entre outros. Contudo, uma vez que o sangue seja visto a olho nu, o exame de sangue oculto já pode ser dispensado e substituído por um mais detalhado. “Toda vez que tiver sangue nas fezes ou sangue oculto positivo, a gente tem que completar esse rastreamento com a colonoscopia, ou uma colonoscopia virtual, mas tem que ser avaliado esse revestimento. O que não pode acontecer é: eu tive um sangramento, depois fiz sangue oculto nas fezes, veio negativo, não vou fazer mais nada. Não, já sangrou uma vez. Ou eu fiz dez exames, deu sangue oculto positivo em uma ocasião, vou repetir para ter certeza. Não, já está positivo uma amostra. Só vai ter segurança e garantia dizendo que não tem lesão fazendo o exame complementar”.

Quanto aos pólipos, Ricardo relata que se tratam de uma alteração do revestimento do intestino, mas que nem todos os casos avançam para um câncer, e, em algumas situações, podem ser retirados durante a colonoscopia. “O que importa também é o tipo do pólipo. Tem alguns subtipos que são mais agressivos, o tamanho do pólipo e a localização. Então, eu posso ter um pólipo que era um pólipo maior que um centímetro, que teria um componente mais agressivo, e às vezes tem um paciente que tem vários pólipos que são hiperplásticos, que não têm maior repercussão”.


Tratamento

O que define qual tratamento será empregado em uma situação de câncer colorretal é o tamanho da lesão e a disseminação. Segundo o gastroenterologista, quando o câncer está instalado nas camadas superficiais do órgão, é possível ressecar a área durante a colonoscopia. “Se o paciente tem um pouco de invasão já das camadas mais profundas, aí o tratamento é cirúrgico. Claro, tem que avaliar se o paciente tem condições: idade, localização [do câncer], mas preferencialmente cirúrgico. Muitas vezes faz esvaziamento dos gânglios ao redor, porque isso também vai definir se vai necessitar quimioterapia adjuvante ou não, e também avaliar se tem alguma disseminação à distância, se tem já metástase, que são essas lesões que fugiu do câncer de intestino. Está no fígado, no pulmão, que também podem às vezes dificultar um pouco o tratamento”, completa.

Março azul marinho alerta para prevenção do câncer de intestino

Uma dúvida muito comum, segundo o médico, é a respeito da retirada de parte do intestino durante o tratamento. Ricardo aponta que esse tipo de intervenção, quando necessária, apesar de um pouco assustadora, não impede que o paciente tenha qualidade de vida. “Na maior parte das vezes tirando a lesão do intestino, se não tiver mais que quimioterapia, radioterapia, é para o paciente ter uma vida normal. Até porque, tirando uma parte só do intestino não é para ter maiores repercussões. O que às vezes pode acontecer se tirar uma parte um pouquinho mais extensa ou tirar a parte final, pode ter algum problema de continência, soltar um pouco o intestino, mas é um paciente que pode fazer exercício físico, sem restrição. Com dieta adequada, não vejo um problema maior. O que dificulta um pouco é durante o tratamento, porque tem que fazer quimioterapia, não é uma coisa tão simples. É uma coisa que muitas vezes tem muitos sintomas adversos, então talvez fique um pouquinho mais limitado naquele período. É um paciente que vale a pena uma vigilância. Tem que fazer exames pelo menos nos primeiros cinco anos um pouquinho mais de perto, com colonoscopia, tomografia, exames laboratoriais, para daí definir que está curado com cinco anos após doença”.


Prevenindo a doença

Além dos imprescindíveis exames preventivos, manter hábitos saudáveis também é importante para que se mantenha a saúde intestinal. A má alimentação acaba se tornando um grande fator de risco quando não há equilíbrio. “Possivelmente esse é o maior fator de risco para lesões gastrointestinais, até porque a nossa dieta está ruim. A gente não está com uma dieta adequada. Correria do dia a dia, stress, isso acaba virando uma cascata. O paciente ganha peso. Isso muda a microbiota, muda o microambiente intestinal. A gente tem que manter o intestino saudável, manter nossas bactérias boas, saudáveis. Isso protege quanto a formação de lesões, que são os processos oncogênicos. Você comendo alimentos ultraprocessados industrializados, conservantes, isso vai matando as nossas bactérias boas, acaba mudando um pouco o microambiente intestinal, isso também é agressor a nossas células intestinais e acaba culminando com o aumento das lesões gastrointestinais”, alerta Ricardo.

O médico indica que uma alimentação pensada na saúde intestinal deve conter três grupos essenciais de alimentos: frutas, verduras e fibras. Quanto às proteínas, o melhor é optar por carnes magras. Ricardo também orienta que, se possível, se opte pelo consumo de alimentos orgânicos e que se dê preferência ao preparo caseiro das refeições. “Talvez essa seja a prevenção até principal e mais simples, mas que não é fácil aderir. Hoje em dia a maior parte dos pacientes que consultam por alguma patologia, querem, às vezes, um remédio mágico, uma coisa mágica para fazer, para melhorar. Mas talvez o mais importante ou uma coisa básica, simples, que tem uma efetividade grande e tem documentação, é melhorar os hábitos”.

Possui alguma sugestão?

Clique aqui para conversar com a equipe de O Comércio no WhatsApp e siga nosso perfil no Instagram para não perder nenhuma notícia!

Voltar para matérias