Mesmo sem casos de transmissão local, dengue é preocupação na região

O Paraná registrou 8.441 casos de dengue em pouco mais de uma semana. A informação foi confirmada pelo informe epidemiológico divulgado pela pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) na quarta-feira, 14. Em todo o período sazonal, que teve início em julho de 2023, o estado já registrou 37.516 casos. O Paraná contabilizou 15 óbitos pela doença nos últimos sete meses.

Mesmo sem casos de transmissão local, dengue é preocupação na região

Foto: de Mohamed Nuzrath por Pixabay

No Brasil, o número de casos prováveis desde 1º de janeiro alcançou a marca de 512 mil. Em comparação com o mesmo período de 2023, o país registrou um aumento de 297,6% nos casos de dengue. A alta colocou o Brasil em alerta. A estimativa do Ministério da Saúde é de que, em 2024, o número total de casos chegue a 1,9 milhão, podendo, contudo, variar entre 1,4 milhão e 4,2 milhões.

Entre os estados com maior número de casos, o Paraná aparece na quarta posição, atrás do Distrito Federal, São Paulo e Minas Gerais, o líder do ranking, com 171.769 casos (33,52% do total nacional). Em Santa Catarina, segundo o último informe epidemiológico, o número de casos prováveis até 15 de fevereiro era de 13.002.

Em uma tentativa de diminuir os casos e proteger um grupo considerado de risco, o Ministério da Saúde incorporou a vacina Qdenga ao Sistema Único de Saúde (SUS). O imunizante, produzido por um laboratório japonês, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2023, e já pode ser encontrado na rede particular. O esquema vacinal é realizado com aplicação de duas doses, com intervalo de três meses e é indicado para pessoas com idade entre 4 e 60 anos. Atualmente, o preço de uma dose está na casa dos R$ 400,00.

A imunização pelo SUS também foi aprovada e as doses disponibilizadas pelo Ministério da Saúde já foram distribuídas para os 521 municípios selecionados pela pasta. No Paraná, 30 municípios foram incluídos na lista. Santa Catarina ficou de fora dessa primeira rodada de distribuição dos imunizantes, que deverão ser aplicados em crianças de 10 a 14 anos, faixa etária que apresenta o maior número de internações.

“A vacinação, do modo como está vindo, na quantidade de vacinas que foi proposto pelo Ministério, é um esforço do Ministério mas é completamente inócuo para nós aqui no Paraná. Estamos em epidemia em metade do estado. Eu quero chamar a atenção de todos para continuar cuidando da remoção do foco do mosquito dentro de casa. Oitenta e cinco por cento dos focos se encontram dentro da casa das pessoas ou no território do fundo do quintal, por exemplo. Ninguém combate a dengue sozinho. É uma doença que se combate comunitária e solidariamente. Então, antes de pensar em vacinar só, vamos pensar em remover os focos, limpar o fundo da casa da gente, limpar o terreno baldio que fica ao lado da nossa casa, cuidar e reclamar na prefeitura quando tiver que reclamar do acúmulo de água nas vias públicas ou ainda nas próprias praças. Nós temos que estar todos juntos”, comentou o secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto, em visita à União da Vitória.


Na região

Segundo o informe epidemiológico divulgado pela Sesa-PR, a 6ª regional de Saúde é a que apresenta menor número de casos de dengue no estado. São cinco confirmados, sendo quatro deles importados, ou seja, o paciente se infectou em uma cidade fora da região. Até o momento, os nove municípios da regional registraram 57 notificações e 20 casos prováveis. “Não temos nenhum caso de dengue autóctone confirmado ainda na nossa regional de saúde. Nenhum dos municípios, mas nós temos um caso de dengue confirmado em São Mateus do Sul. O que a gente está buscando entender é se essa pessoa adquiriu dengue lá na cidade de São Mateus do Sul ou se ela trouxe importado de alguma outra localidade que ela possa ter viajado. Dentro dos próximos dias a gente deve ter uma resolução, uma resposta para esse caso”, explica José Alfredo Rocha Júnior, diretor geral da 6ª Regional de Saúde.

Apesar da pouca incidência de casos, José reforça que todo cuidado é pouco, e que a população deve manter a prevenção contra os focos de dengue. “A vacina para dengue deve estar disponível em grande escala a partir do próximo verão. O Instituto Butantan se comprometeu em fazer ao menos 40 milhões de doses para o Brasil, mas é para o próximo verão. Neste verão a gente não tem uma cobertura mínima, então não podemos deixar de ter todos os cuidados que a gente sabe bem quais são. A partir do ano que vem também é importante que a gente continue sempre com todos os cuidados, mas teremos a vacina. É importante também falar que a vacina que está disponível esse ano, ela não protege para o tipo de dengue 3 e 4. O tipo 3 tinha poucos casos notificados e está voltando a ter um número maior de casos, então precisa de um cuidado redobrado. Não é pelo fato de ter a vacina que podemos relaxar nas questões de cuidado que faz parte de cada pessoa. Não é só a Secretaria de Saúde, Secretaria de Obras que tem obrigação nessa questão. Cada um faz a sua parte”.

O secretário de Saúde de União da Vitória, Diego Train, completa com a informação de que o município não possui nenhum caso confirmado de dengue, mas que a administração possui um plano de contingência que consiste em “identificar os sintomas na população e promover o controle”. Diego também destaca que o município realizou um forte trabalho nas áreas afetadas pela enchente para evitar a proliferação de focos do Aedes Aegypti, mosquito vetor do vírus.


“Eu estava com dengue”

Não foi de pronto que Anaguita Vasconcelos Neves identificou que estava com dengue. Moradora de União da Vitória, a dona de casa foi contaminada durante uma viagem a Londrina para visitar a irmã. Em um primeiro momento, a forte dor de cabeça, acompanhada por tontura e dor nos olhos que começou a sentir, foi confundida com uma crise de sinusite.

Os primeiros sintomas surgiram em um sábado. Fazia muito calor, e Anaguita optou por se refrescar perto de um ventilador. “Acordei três e meia com dor de cabeça. Falei: pronto, agora essa sinusite atacou de verdade por conta que eu exagerei na água gelada e no ventilador. (…) Aí eu tomei uma Dipirona”, relembra. Por sorte, o medicamento não está na lista de contraindicados para o tratamento da dengue. Mas o anti-inflamatório que Anaguita pensou em tomar um pouco mais adiante, sim. “Cheguei até a comprar o remédio que é anti-inflamatório, mas não usei. Porque eu, mesmo achando que fosse sinusite, tinha uma coisa que dizia assim: não toma que não é sinusite”.

Os anti-inflamatórios podem aumentar o risco de sangramento em pacientes com dengue, bem como as aspirinas, o ácido acetilsalicílico e os corticoides. É por isso que, ao apresentar sintomas da doença, a recomendação é que se evite a automedicação, exatamente pelo grande número de fármacos contraindicados.

Ainda no sábado, a mulher começou a sentir calafrios. Após dormir, acordou melhor e pensou que a Dipirona havia melhorado sua crise de sinusite. A irmã de Anaguita estava de cama, já com suspeita de dengue, e aconselhou a dona de casa a realizar um teste para saber se também estava contaminada.

No domingo, Anaguita também ficou acamada. Estava com fortes dores pelo corpo e sentia um amargor na boca. Também passou a sentir náuseas, que a impediam de comer, mesmo quando estava com fome. Na terça-feira surgiu a coceira pelo corpo. Foi então que decidiu ir até uma farmácia para realizar o teste e, assim que contou seus sintomas para o farmacêutico, a confirmação veio na hora. Mesmo assim, realizou o exame de sangue, que confirmou a suspeita.

“Eu fiquei com o meu celular dois dias no silencioso por não poder olhar a tela. Eu não aguentava olhar. Recebi muitas mensagens, mas eu não conseguia responder”, comenta Anaguita sobre a dor nos olhos. O desconforto causado pelas dores no corpo também são lembrados pela dona de casa, que relata nunca ter passado por situação parecida. “Você se sente mal. Se você deitar, está ruim. Se você levantar, está pior. Você vai tomar banho, está com muito calor. Você fica mal. Você não aguenta tomar banho porque no banho você gasta energia. E a dor no corpo, é como se fosse uma gripe muito forte. Aquela gripe que você não consegue ficar em pé mesmo. Você está trabalhando e fala; preciso ir para casa, preciso ir deitar. Aí você chega e desmaia na cama. Então é assim. Você está sentado no sofá e você está segurando seu rosto com a mão, porque você não aguenta ficar com a sua cabeça levantada. Você tem que escorar”.

O tratamento após a confirmação da dengue foi a administração de soro via oral para hidratação, além do consumo de quatro litros de líquido por dia. A recomendação, também, era prestar atenção para qualquer sinal de sangramento.

Agora, se recuperando da doença, Anaguita aponta que a prevenção é o melhor remédio. Mas, caso seja contaminado, ela deixa a dica: “Você tem que ter muita fé. Tem que ter muita paciência”.


Como eliminar criadouros

O Ministério da Saúde indica uma série de ações para que se evite a proliferação do Aedes Aegypti. Manter a caixa d’água fechada, amarrar bem os sacos de lixo, colocar areia nos vasos de planta, deixar pneus em locais cobertos, limpar as calhas, não acumular sucata e entulho e esvaziar garrafas pet, potes e vasos fazem parte das recomendações. Isso porque a fêmea do mosquito deposita seus ovos na água parada. Levam poucos dias para que um ovo ecloda e para que o mosquito chegue a sua fase adulta. Contudo, caso os ovos sejam depositados em recipientes sem água, os ovos podem aguentar entre 300 e 400 dias à espera da condição perfeita para finalizarem seu ciclo.


Sintomas

Segundo o Ministério da Saúde, os principais sintomas de dengue são: dor de cabeça ou atrás dos olhos; febre alta e/ou persistente; náusea e vômitos frequentes; diarreia e/ou forte dor na barriga; diminuição da urina; sangramento espontâneo; dores musculares e nas articulações; manchas vermelhas na pele; extremidades frias e agitação ou sonolência.


Wolbitos

A bactéria Wolbachia tem se mostrado uma arma promissora contra a dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti, como a zika, a chikungunya e a febre amarela. Presente em cerca de 60% dos insetos, a Wolbachia não infecta naturalmente o Aedes Aegypti, contudo, a infecção de ovos pode ser feita em laboratório.

Mesmo sem casos de transmissão local, dengue é preocupação na região

Foto: Flávio Carvalho/WMP Brasil/Fiocruz

Uma vez contaminados com a Wolbachia, os ovos dão origem a mosquitos incapazes de carregar os vírus das doenças citadas. Esses novos Aedes Aegypti são chamados de Wolbitos e, quando adultos, após a reprodução, passam a bactéria para seus filhotes. A longo prazo, a esperança é que Wolbitos sejam a grande maioria no país.

Um exemplo de cidade que utiliza a técnica é Niterói, no Rio de Janeiro. Em 2015, a prefeitura da cidade começou a espalhar os ovos geneticamente modificados. Em 2023, o município alcançou a marca de 100% de seu território coberto pelo método.

A ação tem trazido bons resultados. Em 2015, o número de casos de dengue na cidade era de 158, caindo para 71 em 2016 e 87 em 2017. Em 2018, houve um aumento e 224 pacientes registraram a doença. Em 2019, nova queda, para 61 casos. Em 2020, foram 85 confirmados, caindo para 16 em 2021 e 12 em 2022. Em 2023, foram confirmados 55 casos e, em 2024, até o momento, existem 30 casos suspeitos. As informações são da Agência Brasil.

Para este ano, além de Campo Grande (MS), Petrolina (PE), Belo Horizonte (MG), Niterói (RJ) e Rio de Janeiro (RJ), que já aderiram ao método, a expectativa é de que os Wolbitos cheguem também a Natal (RN) Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Joinville (SC).

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