Pesquisa analisa perfil de crianças e adolescentes internadas por Covid-19 no Brasil

Um estudo publicado no dia 10 de junho, na revista científica The Lancet, aponta os riscos da Covid-19 para a saúde de crianças e adolescentes brasileiros com idade entre zero e 19 anos. Os pesquisadores Eduardo Oliveira, Enrico Colosimo, Ana Cristina Simões e Silva, Robert Mak, Daniella Martelli, Ludmila Silva, Hercílio Martelli-Júnior e Maria Christina Oliveira analisaram dados referentes a 11.613 crianças e adolescentes brasileiras com resultado RT-PCR positivo e que tenham sido hospitalizadas devido ao vírus.

 

Os dados são referentes ao período que compreende os dias 16 de fevereiro de 2020 a 09 de janeiro de 2021 e foram obtidos no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), mantido pelo Ministério da Saúde.

 

Segundo o estudo, a região sudeste foi a que mais registrou casos de internação de crianças e adolescentes por Covid-19, sendo 4.065 no total, seguido por nordeste, com 3.388 casos; norte, com 1.841 casos; centro-oeste, com 1.356 casos; e sul, com 963 casos.

 

Contudo, como existe disparidade no número de habitantes em cada região, os pesquisadores fizeram o cálculo de casos por milhão, para comparar o número de casos com relação à população. Seguindo esse conceito, percebe-se uma mudança de posições entre as regiões. Levando-se em consideração os casos por milhão, a região norte aparece no topo do ranking, com taxa de 330.4, seguido pela região centro-oeste, com 330.0; região nordeste, com 227.0; região sudeste, com 210.5; e região sul, com 144.5.

 

O grupo de crianças com idade inferior a dois anos foi o que mais registrou casos de internação, sendo 4.051 no total (34,9%), seguido pela faixa das crianças com idade entre 2 e 11 anos, com 3.973 casos (34,2%), e pelos adolescentes com idade entre 12 e 19 anos, com 3.589 casos (30,9%). Os meninos foram a maioria dos casos de internação, com 6.031 registros (52%). Os casos de meninas internadas representam 5.568 registros (48%).

 

 

Crianças com idade inferior a dois anos também foram a maioria das mortes de pessoas com até 19 anos no período: foram 354 casos (40%), seguido por adolescentes com idade entre 12 e 19 anos, com 338 casos (38,1%), e crianças com idade entre 02 e 11 anos, com 194 casos (21,9%), o que representa uma curva em U nos casos de óbitos por Covid-19 entre crianças e adolescentes.

 

 

Das 9.181 crianças cuja etnia estava descriminada no SIVEP-Gripe, as negras ou pardas representaram a maioria das internações registradas no período, com 5.784 casos (63%), seguido por crianças brancas, com 3.191 casos (34,8%); crianças indígenas, com 127 casos (1,4%); e crianças asiáticas, com 79 casos (0,9%). Crianças e adolescentes negros também representaram o maior número de óbitos por Covid-19 no período, sendo 493 casos (66,5%), seguido por brancos, com 214 casos (28,9%); indígenas, com 26 óbitos (3,5%), e asiáticos, com oito casos (1,1%).

 

Os cinco sintomas mais comuns entre as crianças e adolescentes internados foram febre (7.604 casos), tosse (6.673 casos), dispneia, ou seja, dificuldade para respirar ou respiração ofegante (5.527 casos), desconforto respiratório (5.056 casos), e saturação de oxigênio inferior a 95% (3.685 casos).

 

 

Das crianças e adolescentes que vieram a óbito, 581 chegaram ao hospital apresentando dispneia; 564 apresentavam desconforto respiratório; 559 apresentavam febre; 504 apresentavam saturação de oxigênio inferior a 95%; e 413 apresentavam tosse. Vale ressaltar que uma criança podia apresentar mais de um dos sintomas citados.

 

Os pesquisadores também buscaram identificar se as crianças e adolescentes que foram internados possuíam algum tipo de comorbidade. Dos 11.613 casos estudados, 8.352 (71,9%) não possuíam comorbidades; 2.780 (23,9%) possuíam um tipo de comorbidade; 403 (3,5%) possuíam dois tipos de comorbidades; e 78 (0,7%) possuíam três ou mais tipos de comorbidades.

 

As cinco comorbidades mais identificadas nas crianças e adolescentes foram asma (867 casos); distúrbio neurológico (706 casos); malignidade, ou seja, uma condição que aumenta a propensão de uma doença, principalmente tumores, tornarem-se progressivamente piores e mais agressivos (581 casos); doença cardíaca (379 casos) e doenças hematológicas, também conhecidas como doenças sanguíneas (269 casos).

 

Das crianças e adolescentes que vieram a óbito devido a Covid-19 no período, 438 (49,4%) não apresentavam comorbidades; 347 (39,2%) apresentavam um tipo de comorbidade; 81 (9,1%) apresentavam dois tipos de comorbidades; e 20 (2,3%) apresentavam três ou mais comorbidades.

 

 

As comorbidades mais presentes em crianças e adolescentes que faleceram no período por razão do vírus foram doenças de cunho neurológio e oncológico (125 casos cada); doenças de cunho cardiológico (83 casos); doenças de cunho renal (40 casos); doenças de cunho hematológico e diabetes (33 casos cada), asma e demais doenças de cunho pulmonar (32 casos cada); algum tipo de síndrome (24 casos) e obesidade (23 casos).

 

Segundo o estudo, das 838 crianças e adolescentes que vieram a óbito, 261 (31%) morreram sem dar entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Dessas, 36% residiam no norte ou no nordeste, enquanto de 23% residiam no sul ou no sudeste.

 

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