Representatividade é questão importante para desmistificação do Vitiligo

Quem vem à sua mente quando o assunto é vitiligo? Talvez, para aqueles familiarizados com a história, Michael Jackson seja a personificação da doença. Para outros, pode ser uma familiar, um amigo ou um conhecido. Mas a verdade é que, quando se trata dessa condição de pele, achar na mídia um representante pode ser um pouco difícil.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o vitiligo afeta cerca de 0,5% da população brasileira, algo em torno de um milhão de pessoas. Sendo assim, não é tão comum, mas também não tão raro a ponto de ser difícil de encontrar quem conviva com ele. Mesmo assim, a presença da participante Natália no Big Brother Brasil deste ano chamou atenção, afinal, é a primeira vez em 22 anos que uma pessoa com vitiligo participa do programa.

Natália, participante do BBB 22, possui vitiligo

Natália, participante do BBB 22. Foto: Reprodução.

Pelo contraste que causa na pele, devido à despigmentação, o vitiligo possui uma série de estigmas em torno de si. Um deles é o mito de que é contagioso. Mas não é. O vitiligo é uma doença autoimune, causada por fatores genéticos e emocionais, entre outros.

A professora Emanuela Zielke, de 23 anos, também possui vitiligo. Para ela, a presença de Natália em um dos programas mais rentáveis da Rede Globo ajuda a desmistificar a doença. “Ela representa toda a comunidade que tem vitiligo. Lá ela tá mostrando que não transmite e também ela é uma mulher muito bonita, que ama suas manchas e que se aceita como ela é. Então sim, acredito que contribui muito com informações sobre a doença”.


No começo, era só uma manchinha

Emanuela tinha por volta de três anos quando os primeiros sinais de vitiligo surgiram. No começo, se tratava de uma pequena bolinha que apareceu quando seus pais passavam protetor solar em sua pele. Com o tempo, aquela manchinha mais clara, que insistia em não desaparecer, aumentou de tamanho. Em um primeiro momento, Emanuela foi medicada com um tratamento para micose, porém, a mancha continuou aumentando, chegando a triplicar de tamanho. Mesmo após consultas, o diagnóstico demorou a vir. “Falaram que poderia ser uma mancha do sol por passar protetor solar de forma incorreta, ou uma mancha de nascença que estava crescendo junto com o meu corpo, coisas parecidas”, explica.

Mesmo difícil, a busca por um diagnóstico correto não parou. Foi então que um médico realizou vários exames para descartar a possibilidade de outras doenças e, assim, confirmar o vitiligo. “Isso foi em 2001, naquela época quase não tinha estudos e informações mais definidas sobre o vitiligo”, comenta Emanuela.

Após a constatação de vitiligo, uma mancha na perna do irmão de Emanuela também começou a ser vista de outra forma. Até então, os pais acreditavam que aquela era uma mancha de nascença, mas, após novos exames, descobriram que também se tratava de vitiligo. Pouco tempo após, manchas surgiram no corpo do pai de Emanuela, que também foi diagnosticado com a doença. Contudo, apesar de, neste caso, o vitiligo ter atingido três pessoas de um núcleo familiar, não significa que em todos os casos será passado de geração em geração.


Tratamentos para vitiligo são opcionais

O vitiligo não traz riscos à saúde física, mas por se tratar de uma doença de pele, pode afetar a autoestima do portador. Portanto, tratamentos opcionais visam estacionar a progressão das manchas. Tais tratamentos podem ser feitos com uso de cremes, remédios de via oral, fototerapia, laser, e até mesmo uma cirurgia de transplante de melanócitos, células responsáveis pela produção da coloração da pele. “Não precisa passar por nenhum tipo de tratamento. Existem tratamentos que você pode fazer mas é opcional porque o vitiligo ele não dói, ele não muda nada, é só uma questão mais estética e que deixa a pessoa mais vulnerável a queimaduras de segundo e terceiro grau, e assim por diante, porque aonde eu tenho as manchas de vitiligo eu não tenho melanina. Então, se eu queimo, elas acabam queimando um pouco mais. Eu tenho que ter um cuidado redobrado com a minha pele por causa disso, mas não precisa fazer nenhum tipo de tratamento”, aponta Emanuela.

Apesar de não ser necessário, a jovem chegou a passar por um tratamento quando foi diagnosticada com a doença. Tal procedimento consistia em ingerir um remédio e, após, ser exposta ao sol sem proteção para que a pele queimasse para que, então, a mancha desaparecesse. “Eu nunca cheguei a fazer nenhum tratamento mais específico. Eu fiz esse em que eu tinha que me queimar e era bem doloroso. Adiantava até certo ponto, mas eu comecei a ter muita bolha onde eu queimava as minhas manchas e estava sendo mais prejudicial do que ajudando em si”.


Preconceito em torno do vitiligo

A doença acomete cada pessoa de uma forma diferente. Existem casos focais (ou localizados), em que as manchas surgem em até três locais e não aumentam ou aparecem em novos locais, sendo esse o tipo mais comum; há também o generalizado que, como o próprio nome sugere, aparece em vários pontos da pele; dentro dos tipos de vitiligo generalizado existe o universal, mais raro e que acomete 70% ou mais do corpo, como no caso de Emanuela.

O preconceito em torno da doença foi vivenciado pela jovem. Segundo Emanuela, até os 13 anos só saia de casa usando roupas compridas, como calça e moletom, independentemente da temperatura. “Às vezes eu ia de luva pra escola no verão por causa das manchas. Eu também passava maquiagem quando tinha ou queria usar roupas curtas e afins”, comenta Emanuela.

Emanuela possui vitiligo universal.

Emanuela possui vitiligo universal. Foto: Arquivo pessoal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Atualmente, a professora diz não reparar mais em olhares e comentários preconceituosos, mas relata que ainda é algo comum. “Quando eu ia pra praia ou pra algum lugar com piscina eu sempre sofria muito, porque as pessoas saiam de perto, me deixavam sempre sozinha, acredito que por medo de ser algo transmissível. A [situação] mais recente que eu passei foi no mercado. Eu fui pegar um produto e sem querer encostei em um senhor. Na hora ele me repreendeu por encostar nele, me olhou com cara de nojo e chegou a se limpar depois nas próprias roupas, fazendo questão que eu visse”.

É para desmistificar crenças incorretas e ajudar na aceitação de quem possui o vitiligo que a presença na mídia torna-se importante. Foi quando passou a ter contato com modelos e influencers portadoras da doença que Emanuela passou a aceitar seu corpo. Hoje, convivendo em melhores termos com a doença, a jovem pede para que aqueles que também possuem a doença não acreditem em tratamentos milagrosos e deixa um conselho útil a todos. “O importante é a gente se aceitar do jeito que somos”.

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