Se esconder do câncer não resolve, alerta oncologista

Falar sobre o câncer e os riscos que traz para a saúde é importante durante todos os meses do ano, mas em outubro, especialmente, as atenções são voltadas para a prevenção do câncer de mama. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa é de que, para cada ano do triênio 2023-2025, sejam registrados 73.610 novos casos da doença no país, o que resulta em uma taxa de incidência de 41,89 casos a cada 100 mil mulheres. No Brasil, descartando tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais frequente em mulheres, sendo que as taxas mais altas estão presentes no Sul e Sudeste do país. Encerrando o Outubro Rosa, o oncologista especializado em mastologia, doutor Charles Ronald Van Santen, esteve nos estúdios da FM Verde Vale – 94.1 no sábado, 28 de outubro, durante o programa União é Notícia – 2ª Edição, para elucidar algumas dúvidas a respeito do tema.

Divulgação/Sociedade Brasileira de Mastologia


Confira a entrevista

Oncologista especializado em mastologia, doutor Charles Ronald Van Santen

Rafael Peruzzo (RP): Doutor Charles, estamos no Outubro Rosa, mas o câncer de mama é uma preocupação constante. Os dados mostram uma incidência cada vez maior do câncer de mama entre as mulheres em todo o mundo. Qual é a importância da prevenção e de que forma ela pode ser feita?

Doutor Charles (DC): A prevenção tem vários aspectos. A prevenção beneficia a pessoa que é acometida pela doença. Beneficia o sistema de saúde, em que barateia muito os custos do atendimento às pessoas quando percebem a doença precocemente. E também no contexto familiar. Então vários âmbitos são beneficiados pelo diagnóstico precoce. E sempre é bom lembrar que existe a prevenção primária, evitar que a doença venha a existir, e existe a prevenção secundária, que é você diagnosticar precocemente uma doença. Bons hábitos de vida que são importantes para quem tratou, que é atividade física, alimentação de frutas e verduras, pouca gordura. Isso é importante tanto para não ter o câncer de mama quanto para quem diagnosticou um câncer de mama e quer aumentar as chances de cura.

No aspecto de prevenção e diagnóstico precoce, o foco principal é a partir dos 40 anos. As mulheres a partir de 40 anos, todo ano, devem fazer a mamografia. [Elas] não gostam muito. Aperta a mama, mas é importante, pode salvar sua vida. O que chamamos de diagnóstico precoce é perceber um nódulo com menos de um centímetro e meio. Nessa situação você tem uma chance de cura de mais de 90%. Você pode evitar tratamentos dolorosos ou mutilações, uma retirada da mama. E você pode fazer uma cirurgia parcial da mama e, com isso, [ter] menos sequelas do tratamento. Você pode, talvez, evitar uma quimioterapia, que pode ser desgastante também, e com isso o tratamento se torna mais fácil e com muito mais chances de cura e, por isso, também mais barato para o sistema de saúde porque ele não vai despender de tantos tratamentos. E, além de que, a pessoa socialmente vai estar produtiva, trabalhando, fazendo normalmente o que ela sempre gosta de fazer, apenas tendo um gap, um intervalo no tempo de vida dedicado ao tratamento e logo retorna as atividades ou nem para algumas vezes.

RP: Doutor, sabemos que o câncer pode ter fatores genéticos também envolvidos, mas quais outros fatores podem levar a mulher a ter a doença?

DC: Tem algumas situações que favorecem. Por vezes ela pode ter um câncer aleatório e, independente dos fatores de risco, ela pode desenvolver. Às vezes tem alguma frustração de alguns pacientes que falam “poxa, mas eu faço atividade física, como bem, fiz tudo” e ainda assim tem a doença. Existem os fatores genéticos. Existem os fatores próprios do envelhecimento das células. O fator principal da alta incidência de câncer de mama é o envelhecimento. As pessoas estão envelhecendo mais. No Japão mais ainda, mas aqui no Brasil também, apesar que comparativamente a países desenvolvidos ainda a faixa etária média é um pouco mais baixa, mas já estamos passando aí dos 70 anos, então o envelhecimento das células do corpo favorece ao desenvolvimento de câncer.

Algumas outras situações, como começar com as menstruações antes dos 12 anos, parar tarde com as menstruações, ou seja, uma menopausa tardia, isso favorece que a mulher tenha picos de hormônio durante a vida. Cada vez que ela tem um ciclo de menstruação, o hormônio sobe e desce no corpo. Esses picos, esse subir e descer de hormônios no corpo, favorece que a mulher possa desenvolver o câncer de mama e, por isso também, a amamentação e ter filhos diminui a probabilidade da mulher ter câncer de mama. Quanto mais filhos ela tem, quanto mais tempo ela amamenta, menos picos de hormônio ela vai ter no corpo e com isso menos chances de desenvolver o câncer.

Assim como fatores que a gente chama de mutáveis, ou seja, fatores que você pode intervir. Como você pode intervir? Tendo uma boa alimentação rica em frutas e verduras diariamente, tendo uma alimentação pobre em açúcar excedente. Eu até falo de uma dieta do diabético, uma dieta pobre em açúcar ou em massas também, e também evitar gorduras e produtos industrializados. Eles favorecem o desenvolvimento de gordura no corpo. A gordura no corpo está relacionada com hormônio e favorece o desenvolvimento de câncer. E a prática de esportes é fundamental também. Pelo menos que tenha uma prática de meia hora ao dia, seis dias por semana, é uma das formas de recomendação que se faz, que possa ter o mínimo de atividade de moderada a intensa. A gente brinca de não sair para caminhar olhando os passarinhos, né? Tem que suar um pouco a camisa, não é simplesmente “eu fui caminhar, encontrou a comadre aqui, ali”. Isso não é exercício físico. Exercício tem que acelerar o coração um pouquinho, tem que caminhar para suar a camisa ali pelo menos, ou a forma de esporte que você quiser, que você referir. É muito importante.

RP: O quanto avançaram os tratamentos? Qual a diferença, por exemplo, de 10, 15 anos atrás para os dias de hoje? O quanto a medicina conseguiu avançar no sentido de oferecer tratamentos mais promissores?

DC: Desenvolveu bastante, sabe? Nos meus tempos de formação, fazem 20 anos ou um pouquinho mais. Basicamente, a gente tinha uma situação em que a mulher acima de 65 anos fazia tratamento com comprimido e abaixo de 65 quimioterapia e não havia muita seleção dos detalhes a respeito do tumor para saber que tipo de tratamento teria que ser feito para aquele tumor específico, para aquela pessoa em especial. Hoje, a gente faz um tratamento personalizado do tumor e da pessoa no sentido de saber se ela tem outras doenças, saber se ela toleraria aquele tratamento, as perspectivas de vida da pessoa e ainda assim as características do tumor, as características moleculares. De acordo com alguns receptores e algumas características daquele tumor, a pessoa toma um determinado medicamento ou não.

Ainda avançamos um pouquinho mais nisso, que hoje ainda tem a característica genética, que é além da molecular, que de acordo com alguns testes genéticos, nessas situações familiares, como comentamos, que 10% mais ou menos dos casos são genéticos, que existe uma ligação familiar de ter a doença. Essas situações. Além de que, antes tinha uma vantagem de poder prevenir os familiares ou fazer cirurgias preventivas, como o famoso caso da Angelina Jolie, aquela atriz famosa que, com a doença genética, precisou retirar as mamas e pelo risco de câncer. Ainda assim, hoje temos um medicamento específico para essa mutação genética. Então, além da situação de prevenção, hoje já permite até pelas mutações genéticas você fazer um tratamento direcionado à mutação.

RP: Ou seja, antigamente era um tratamento, digamos, generalizado, mais geral. Hoje você consegue especificar, fazer uma coisa mais personalizada, é por aí, doutor?

DC: Exatamente. Assim você pode ter um diagnóstico que na biópsia veio, carcinoma ou até mais detalhadamente, carcinoma ductal. Dentro do carcinoma ductal, a gente pode ter 10 tipos de doenças diferentes, com comportamentos diferentes previstos, perspectivas de cura, perspectivas de medicação a ser usada. E assim, de acordo com essas características, você faz a trajetória de tratamento, perspectiva de resultados também.

RP: A Solange, nossa ouvinte, gostaria de saber mais sobre Bi Rads 1, 2, 3, 4. Também pergunta se o uso do DIU e outros métodos contraceptivos podem contribuir para o avanço do câncer?

DC: Ótima pergunta. Muito interessante isso. A gente percebe muito que as pessoas chegam ao consultório tendo o Bi Rads como diagnóstico de câncer. Isso não é real. Na verdade, o Bi Rads é uma classificação radiológica que vai nos contar se naquele ultrassom, raio x ou ressonância existe mais ou menos possibilidades de existir um câncer. Ou seja, com Bi Rads 1 e 2, eu tenho uma situação benigna e que não preciso fazer biópsia. Um Bi Rads 3, fique atento. Talvez esse nódulo, esse achado se desenvolva e daqui a seis meses você tenha que fazer biópsia. Bi Rads 4 e 5 [indica que se] faça a biópsia que tem probabilidade de ter doença, mas não quer dizer que o Bi Rads 4 e 5 está escrito ali “você tem câncer”. Está escrito ali “Investiga porque é importante ser esclarecido se é doença ou não”. Então o Bi Rads é uma classificação radiológica de risco de doença em que direciona o médico especialista que está atendendo a dizer se precisa ser feita uma investigação ou não e um acompanhamento mais acirrado ou menos acirrado ou mais frequente ou menos frequente daquela situação encontrada.

Na situação de contraceptivos, em todas as situações que envolvem hormônios, sempre existe uma preocupação. Quanto ao uso do DIU, existem DIU que tem hormônio e DIU que não tem hormônio nenhum. Quanto a ele favorecer a promover o câncer, não promove. Mas em pacientes que têm diagnóstico de câncer existe uma tendência a pedir que retirem o DIU com conteúdo hormonal. O DIU que não tem hormônio não tem problema.

A questão do anticoncepcional é muito debatida. Todo o congresso é discutido a respeito. Nunca houve comprovação de que o anticoncepcional oral, nas doses que hoje os modernos usam, que ele vai favorecer a ter câncer. Antigamente a dosagem dos hormônios anticoncepcionais era muito maior. Ali sim existia uma preocupação grande e um favorecimento ao câncer pelo anticoncepcional oral. Hoje em dia não existe essa situação mais. Não foi comprovado isso, ao contrário da reposição hormonal para a mulher menopausada. A mulher que parou as menstruações e tem os calorões próprios de parar de menstruar. E é exatamente aquela idade que é a idade de maior risco de câncer de mama. Lá pelos 50, 60 anos às vezes um pouquinho antes. Essa situação, nesse momento é que a mulher mais tem risco de câncer e parou de menstruar. Ali é muito importante que antes dela pensar em tomar um comprimido de reposição para tirar os sintomas da menopausa, que ela faça todos os exames de mama. Ter a certeza que na mama não tem nada. Ela não tendo fatores familiares de risco de câncer de mama. Aí sim ela pode fazer uma reposição hormonal se for muito necessário. Se ela não tiver sintomas, talvez não seja interessante. Ela vai ter um risco de câncer de mama e não tanto benefício pela reposição hormonal. Então tem que ter muito cuidado com isso e não estender muito. Tentar usar o mínimo de tempo possível, de preferência menos do que quatro ou cinco anos, porque quanto mais tempo a mais disso [reposição hormonal], mais chance de câncer de mama.

RP: Doutor, falando um pouco sobre os pacientes com câncer, imagino que seja humanamente muito difícil separar o lado emocional do profissional porque é uma doença que impacta demais a pessoa que recebe o diagnóstico e também a família do paciente. De que forma o senhor procura lidar com todo o processo, desde a comunicação do diagnóstico ao paciente, passando pelo tratamento em si, que por vezes é muito debilitante, até uma possível cura? Como que o senhor trabalha com todo esse processo?

DC: Nessa situação é importante que a pessoa se sinta acolhida. Esse é o primeiro ponto. E que tenha a segurança de que está sendo buscado o melhor para ela. A agilidade no diagnóstico ajuda bastante também porque dá uma ansiedade danada você fazer uma biópsia e não ter a resposta. Nesse meio tempo, de uma a três semanas, passa um mundo na cabeça. Desde o que vai acontecer comigo? Quais as minhas perspectivas? Os planos já mudam todos. E esse momento até refaz o pensamento da pessoa por alguns aspectos, até que ela repense muita coisa na vida em que não deixa de ser um amadurecimento. Geralmente as pessoas que passam por esse processo de diagnóstico e tratamento de câncer por muitos motivos amadurecem muito. Porque esses dilemas da vida fazem com que se repense no valor de pequenas coisas e grandes coisas. E tem a parte que a gente repensa tudo. Agora, o fator de ter apoio familiar, seja do marido, seja da mãe, seja do pai, seja dos filhos. A mulher que em idade jovem tem o diagnóstico geralmente o fator filho ajuda muito, porque pela força que ela tem de saber que vai ter um filho dependendo dela, isso dá uma força a mais. Então o envolvimento familiar é fundamental. Por vezes existe uma situação de doença avançada e, graças a Deus, na mama hoje você, mesmo com metástases, com doença que já saiu do foco inicial que é a mama e foi para os ossos, foi para o pulmão e fígado, ainda assim temos muita oportunidade de tratamento. Existem muitas medicações e você consegue hoje cronificar a doença. O que é cronificar? Conviver com a doença sob controle, com qualidade de vida. Essa é uma luta para quem tem doença metastática e os resultados são possíveis. Não é porque ela tem o diagnóstico, a doença saiu da mama, que ela tem a vida necessariamente com dias contados. Ela pode prosseguir muitos anos com a doença controlada. Isso depende do perfil da doença, depende de vários detalhes, mas existe oportunidade de tratamento.

RP: Doutor, tem uma pergunta que muitos pacientes de câncer fazem: quem tem a doença pode fazer exercício físico? Deve fazer exercício físico ou não pode fazer exercício físico?

DC: Na situação de ter o diagnóstico de doença, o mais importante é a gente tentar minimizar a situação de sentir-se doente. Por vezes é difícil isso. Em algum momento vai ter efeito colateral de tratamento. Fez a cirurgia e vai ter algum momento em que a pessoa está limitada [para fazer] os exercícios físicos pelo tratamento de alguma forma. Mas nos momentos em que o tratamento não limita a atividade física, seja por um efeito colateral de uma náusea ou alguma falta de apetite, uma tontura ou mesmo um pós-operatório, fora desses momentos, quanto mais atividade física, melhor. A pessoa consegue se desafiar ali a vencer os efeitos colaterais. Até tem uma situação curiosa, alguns medicamentos quimioterápicos têm um efeito cardiológico deletério, ou seja, podem fazer mal ao coração, e existem vários estudos já, um deles até curiosamente fez com que as mulheres fizessem atividade física durante a administração do quimioterápico com a bicicleta ergométrica, e outras faziam exercício nos intervalos da quimioterapia e outras não faziam exercício. Até as que faziam exercício durante a quimioterapia tinham um resultado um pouquinho melhor, mas basicamente as que fizeram exercício protegeram mais o coração do que as que não fizeram. Lógico, não é feito na prática. Ninguém faz quimioterapia andando de bicicleta. Mas foi um estudo até curioso. Lembro essa situação, comento essa situação para mostrar que estar em tratamento de câncer não significa ficar estagnado e sedentário, significa que, dentro do máximo possível, continue com as atividades físicas ou até inicie dentro do que o corpo permite, dentro do que o corpo aceita, sem lesões, sem extrapolar, mas dentro do que se permite ali alguma atividade física é interessante.

RP: A medicina coloca várias possibilidades, tratamentos, cirurgias. Hoje em dia a possibilidade de cura de um tumor cresceu consideravelmente. Já existe, doutor Charles, alguns exames que mostram que a pessoa é potencialmente propícia a desenvolver algum tipo de câncer? Tem como detectar algo que te indique isso e a partir daí se antecipar, monitorar e prevenir a doença?

DC: Existem situações bastante polêmicas. Até a situação genética, como falamos. BRCA1, BRCA2, TP53, esses são os genes mais comuns. Existem muitos outros. Existem painéis de 40, 50 genes. Houve já várias discussões e até hoje é polêmico. Por exemplo, já houve situações em alguma empresa, em alguns países que tem mais acesso a esses exames, e exigiam de saber alguma coisa a respeito da situação genética. Então isso é muito complicado. A disseminação de informação assim pode ser favorável ou não. A pessoa pode usar isso para prevenção de doença como isso pode ser taxado como privação trabalhista, social e tudo mais. Tem vários âmbitos a serem analisados disso, mas no sentido da pessoa prevenir as doenças, a situação genética é bem interessante porque se você sabe que tem um fator familiar, por exemplo BRCA1, BRCA2, TP53, que são os genes relacionados ao câncer de mama e ovário, também pâncreas, endométrio e outros, mas basicamente falando do câncer de mama, a pessoa pode fazer uma cirurgia para prevenir o câncer. Ela pode tirar a glândula mamária, mantém a pele e o mamilo, substitui por prótese e assim ela diminui 90% as chances de que ela possa desenvolver o câncer. Isso a partir dos 35 anos pode ser realizado. Em geral essa faixa etária que se usa, desde que já não tenha acontecido casos de câncer mais jovem ainda na família, porque se as incidências de câncer naquela família são mais jovens do que isso, até antes disso a prevenção pode ser interessante. Assim como o câncer de ovário também a partir dos 40 anos, quando já é tolerável a mulher ficar menopausada. Ali ela pode já fazer a prevenção retirando os ovários para que não desenvolva o câncer de ovário. Se ela já tem documentado, já fez o teste, sabe que tem a mutação genética, ela tem essa oportunidade. E se ela não quer fazer cirurgias, se ela não quer se submeter a cirurgias, ela tem a chance de usar medicações preventivas ou até fazer exames numa frequência maior sabendo que ela é de alto risco. Ao invés da mamografia apenas ou até ultrassom complementar, ela faz também uma ressonância anualmente. Então permite que faça exames mais detalhados para a situação da pessoa.

RP: Doutor Charles, nossa ouvinte Rita pergunta se ela pode ter câncer de mama mesmo sem histórico na família?

DC: Ter câncer de mama pode ser aleatório em 90% dos casos, ou seja, você não tem nenhum fator como comentávamos antes. Às vezes a pessoa é atleta, come da forma melhor possível e ainda assim ela desenvolve câncer. Então o fato de ter uma vida exemplar no sentido preventivo de câncer, ela pode desenvolver também assim. É um erro numa multiplicação celular. Uma célula se divide errado, não veio o sistema de defesa do corpo para corrigir, essa célula se multiplica de forma desordenada e gera um nódulo e do nódulo gera uma situação que pode se espalhar no corpo. Câncer basicamente é isso. Então mesmo que ela não tenha fator genético e os outros fatores ela acaba podendo desenvolver. Existem os tumores aleatórios que a gente diz, ou ao acaso, e existem os tumores relacionados à questão genética. Então não depende de ter familiares com câncer ou não. O fato de ter familiares com câncer pode estar aumentando o risco da pessoa desenvolver câncer porque ela pode ter uma mutação genética.

RP: Doutor, a Neusa pergunta se é necessário fazer a mamografia anualmente e também com qual idade é ideal que se comece a fazer a mamografia?

DC: Tem bastante detalhes nisso, mas vamos ao habitual. Dos 40 aos 70 anos anualmente. Todo ano mamografia a partir dos 40 anos, isso de forma geral. Muito interessante a pergunta porque me faz lembrar de algumas situações. 7% dos casos de câncer são em mulheres com menos de 40 anos, então não é pouco. Existem alguns conflitos de informações que aparecem na internet dizendo que o risco de fazer mamografia, de achar coisa que não é câncer abaixo dos 40 anos. Existe uma chance também de 7%, ou 4.8% [em outros casos], nas pesquisas que falam que podem existir achados em que vão ser biopsiados e não é câncer, não vai dar resultado de câncer e a pessoa passou por uma ansiedade, por uma biópsia que se diria desnecessária. Mas existe 7% de chance dela diagnosticar um câncer e geralmente nas mulheres abaixo de 40 anos existem as chances de que esse tumor seja até um pouco mais agressivo do que na mulher idosa. Então abaixo dos 40 anos, a rigor, não existe indicação de mamografia anual.

Mas é muito importante o autoexame e o exame ginecológico. Ir ao ginecologista, ao mastologista, ao seu médico de confiança e fazer exame das mamas. E quando eu falo exame, é examinar, pôr a mão na mama mesmo, não necessariamente só ir pedir um exame e pronto. É bem importante o exame físico e, a partir dos 40 anos, mamografia e exame físico.

A partir dos 70 anos é outro extremo que chamou bastante atenção. Não é uma regra fechada que você diga com 70 anos agora não precisa mais. Se a pessoa é saudável, ativa e aquilo que a gente comentou, que faz atividade física tem uma saúde plena, as pessoas estão indo até 90, 100 anos hoje, então se a mulher tem uma perspectiva de mais do que 7 anos de vida ou mais do que 10 anos para algumas estatísticas ela tem indicação de fazer mamografia, porque ela tem 10 anos que pode desenvolver e é interessante que ela diagnostique a doença precoce para evitar de ter um câncer que possa ceifar a vida dela. O que se diz assim “ah mas 70 anos, 80 anos ela já não tem por que diagnosticar a doença precoce”. Tem sim! Ela tem chance de viver até os 90 e se você diagnosticar precocemente você pode assim intervir na doença e não deixar que ela seja o motivo da pessoa correr risco de vida.

Então, de forma geral, sem contar os fatores de risco familiares e os fatores próprios da mulher que já fez uma biópsia ou tem alguma achada anterior, na forma geral, sem os fatores de risco, a partir dos 30 ou pelo menos 35 anos de exame físico anual no médico. E a partir dos 40 anos, mamografia. O médico vai indicar se precisa também ultrassom, se precisa também uma ressonância. E até os 70 anos, pelo menos, se a mulher tiver uma perspectiva de tempo de vida de mais do que 10 anos anualmente fazer a mamografia também. Quando eu falo perspectiva de vida é assim, se a mulher tem o risco de vida pelo diabetes, pelo coração, por um derrame aí ela tem uma vida que tem uma perspectiva mais curta porque ela está adoecida por outras coisas então talvez não seja interessante a mamografia. Mas se a saúde é boa, está com uma boa perspectiva de que tenha vários anos pela frente, diagnóstico precoce é importante.

RP: Doutor, deixe um recado para as mulheres a respeito do cuidado com a própria saúde.

DC: 30% dos casos de câncer da mulher são de mama. É a principal causa de mortalidade. É muito importante a prevenção. É muito importante o diagnóstico precoce. É muito importante apalpar a mama. Algumas campanhas fazem o termo “se toque” e realmente, se apalpe, se toque, se examine. Alguns exames não conseguem detectar, algumas situações não são detectadas por exames, então por a mão na mama e comunicar a familiares é muito importante. Existem pessoas que têm até feridas e não procuram o médico. Perceber o nódulo. Percebeu algo diferente? Procura especialista, procura o médico de confiança, procura ginecologista. Ele vai esclarecer se aquilo tem importância. Se esconder da doença não resolve. Faça os exames preventivos como recomendamos na entrevista e não se esconda.

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