EMPÓRIO DO EMPRESÁRIO: E o governo, só deve fazer lombadas?

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Atualizado há 8 anos

Não somente a nível acadêmico essa pergunta deveria ser constantemente realizada, mas em todos os setores de qualquer sociedade civil livre. Obviamente que a pergunta não é sobre lombadas mas, sim, deveria ser: “qual a função do governo? Qual a função do Estado?”

Adam Smith foi o primeiro a se aventurar nesse universo e afirmar que o governo deveria intervir em qualquer sociedade o mínimo possível. Assim, segundo sua visão o governo deveria ser um incentivador da economia e que a economia se “viraria” por si só e se responsabilizaria de cuidar das mazelas, dos problemas da sociedade. Foi o que ele chamou de a “mão invisível” do mercado. Em outras palavras Smith afirmou: deixem que a economia resolve os problemas da sociedade e, portanto, “o Estado deve interferir o mínimo possível na economia e na sociedade”. Seguindo seus conselhos, várias nações modernas implantaram sua teoria e se transformaram em potencias mundiais, entre elas podemos citar a Inglaterra, os Estados Unidos, a Alemanha, entre outros. Lembrando que estamos em 1776 e que a sua teoria convencionou chamar-se de “liberalismo” ou de “Estado mínimo”.

Outros vieram, com menos brilho nos próximos anos, mas Karl Marx foi o próximo a ser tão efusivo e incisivo como Adam Smith. Marx interpretou que a função do governo, em qualquer sociedade, deveria ser a de controlar toda a economia e incentivá-la de maneira total. Ou seja, sua função seria a de controlar tudo na sociedade, inclusive empresas, segurança, educação e saúde. Segundo Marx a função do governo seria a de interferir profundamente na sociedade a ponto de que suas mazelas sejam por ele (o Estado) resolvidas. O ano era 1867 e sua teoria ficou famosa como sendo o início da “Teoria Socialista”, ou do estado totalitarista inspirando nações como a China, a União Soviética e a própria Cuba a realizarem sua revolução.

Após veio o grande Keynes que afirmou que nem um, nem outro. O inglês afirmou que o governo deveria intervir medianamente. Sua teoria foi escrita na década de 1930 e durante as décadas de 1950 e 1960, o sucesso da economia keynesiana foi tão retumbante que quase todos os governos capitalistas adotaram suas recomendações. Keynes defendeu uma política “econômica”, repetindo “econômica” de Estado medianamente intervencionista, através da qual os governos usariam medidas fiscais e monetárias para mitigar os efeitos adversos dos ciclos econômicos – recessão, depressão e booms. Suas ideias serviram de base para a escola de pensamento conhecida como economia keynesiana e foram e são tão coerentes que até mesmo Barack Obama e Gordon Brown, 80 anos depois, as utilizaram para aliviar os efeitos da recessão do final da década passada.

Todos os autores, geniais cada qual em sua visão, tinham o interesse de descrever como deveria ser regida a economia de uma nação, talvez nenhum desejava explicar qual seria a função de um governo, mas todos acabaram influenciando sociedades inteiras e tiveram um ponto em comum. Todos acreditavam que o governo tinha um papel de extrema relevância em qualquer sociedade: a de incentivar seu crescimento.

Sabemos que poucos administradores públicos brasileiros conhecem essas teorias que orientam reis, Presidentes e Primeiros Ministros do mundo desenvolvido, mesmo porque somos os campeões em rasgar teorias bem fundamentadas. Mas, nós, como sociedade, devemos nos perguntar qual o papel que desejamos que nossos governos desempenhem? Desejamos que ele apenas preencha buracos no asfalto? Que ele se preocupe somente com o PA do hospital? Ou desejamos que o governo seja um alavancador do desenvolvimento econômico regional incentivando a criação de empregos e a distribuição da renda? Somos a favor de um governo intervencionista ou de um governo progressista? Funcionários do governo pagos para cuidar da Indústria e do Comercio e da economia devem se preocupar em trazer novas empresas a fim de criar novos empregos ou devem incentivar a indústria local e o seu crescimento?

A propósito, lombadas são obstáculos. Desejamos que os governos ponham obstáculos em nossas vidas e que interfiram em nossas empresas?

Alvaro Concha é consultor de empresas

(alvaroconcha@gmail.com)