“Pais devem se educar para saber como educar os filhos”, diz filósofo

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Atualizado há 4 anos

(Foto: Reprodução).
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Não é difícil encontrar pais que  acreditam que acharam o padrão de sucesso para criar os filhos. O problema é que muitas dessas estratégias são baseadas nas vivências e na opinião pessoal dos pais, sem levar em consideração que crianças também possuem personalidade, quereres e em alguns casos até  opinião. Mas e quando os pais também não têm condutas coerentes? E se os filhos possuem um grau de compreensão tão elevado que já não obedecem só por obedecer? Como evitar conflitos e encontrar uma educação equilibrada?

O filósofo e escritor Fabiano de Abreu aponta que educar dentro do próprio princípio sem a busca de uma lógica e um entendimento amplo sobre as razões do filho pode acarretar problemas de mal comportamento e incompreensão.

“Para educar alguém precisamos educar a nós mesmos. Muitos pais esquecem que os comportamentos dos filhos são o reflexo dos próprios comportamentos, funcionamos muito como espelhos, uma base”, explica.

Levando em consideração essa lógica, uma criança rebelde não deixará de ser rebelde apenas por ser repreendida. O progenitor ou quem estiver encarregado da sua educação deve tentar entender o motivo da rebeldia e conseguir remediar de forma racional. Deve ainda, desbravar caminhos para que a própria criança possa compreender e, por vontade própria, tentar mudar o seu comportamento, defende o especialista.

Lidando com filhos acima da média

Não são apenas crianças rebeldes que tendem a ser problemáticas quando o assunto é educar. Aprender a lidar com uma criança acima da média também pode ter seus poréns. Um exemplo é a criança com um cognitivo avançado devido à sua alta inteligência numa idade que não tem experiência ainda para ter consciência do seu comportamento.

Fabiano elucida que esse tipo de filho vive uma dualidade: experiência vs inteligência com o cognitivo baseado nesta inteligência. “Portanto, o seu comportamento pode ser entendido de uma forma diferente e assim, o adulto não sabe lidar com esta educação”, aponta.

Outro fato é que crianças inteligentes tendem a mentir, o que não necessariamente é um padrão de comportamento mau.

“A mentira faz parte do mundo infantil, por conta da fantasia, do pensamento mágico. Usar a inteligência para mentir manipulando, os que a amam para obter o resultado final a seu favor é completamente natural. Deve existir, contudo, alguém que identifique os excessos e saiba delimitar, cortar e impor limites para proteger essas crianças delas mesmas”, defende Fabiano.

Possuir uma inteligência mais avançada também pode fazer com que pais negligenciem a criação dos filhos. “Ser inteligente não significa que a criança não precise ser guiada, amada e educada. Não devemos acreditar que se a criança é inteligente, o tempo junto com a sua inteligência a fará se auto educar ou ela, sozinha, encontrará uma forma para ter um bom futuro. Traumas ou uma má educação na infância refletem-se nos problemas desta criança quando se tornar adulto”, alerta.

Fabiano defende que a inteligência pode sim ser responsável pela auto educação e percepção do que é melhor para si, mas nunca sem supervisão e limites impostos. A criança tem que sentir que o mundo não gira em torno dela, que há mais para além da sua existência e que para cada escolha ou ato há uma consequência. “Ensinar a saber lidar com as perdas e com os ganhos, saber dosear a excitação e a frustração é um dos principais papéis dos pais”, defende.

O adulto, ao educar, não se deve deixar cegar. A inteligência emocional é uma presença constante entre pais e filhos, para o bem e para o mal e, muitas vezes, os pais não enxergam verdadeiramente as situações que têm perante si, garante o filósofo.

“O emocional pode atrapalhar com toda a certeza, e por vezes é preciso criar um pouco de distância para compreender as problemáticas. Temos que contribuir para que o seu futuro seja bom, recheado de bastantes conquistas sempre vinculadas ao uso pleno da sua inteligência e capacidades”, recomenda.

Para entender melhor:

Cognitivo: é uma expressão relacionada ao processo de aquisição de conhecimento. O processo cognitivo envolve diversos fatores e nuances dentro do conhecimento e das percepções através da arquitetura da mente — memória primitiva, o inconsciente, o sobre inconsciente, o pré consciente e o consciente. A experiência é parte relevante no desenvolvimento do cognitivo.

Inteligência: É genética e se configura com características muito próprias desde o nascimento. Uma pessoa de grande inteligência tende a ser um intelectual e intelectual é quem tem e busca conhecimento de determinados temas.

Intelecto: pode ser trabalhado e desenvolvido dentro do conhecimento adquirido e da experiência.