No último dia 20 de junho, morreu minha Mãe, ÚRSULA BRAUCHNER WALDRAFF, de um câncer agressivo. Decorreram apenas duas semanas entre o diagnóstico e a partida. Sequer houve tempo para os preparativos psicológicos e as acomodações da alma, necessários à fragilidade humana.
Sou o pai de uma belíssima menina de 08 anos, chamada LORENZA, que era apaixonada pela Vovó ÚRSULA, a quem descreverei para que não se perca na memória distante de sua Primeira Infância.
Para a LORENZA, a vovó ÚRSULA e o vovô HORST são de um lugar mágico e feliz chamado PORTO UNIÃO DA VITÓRIA, para onde ela vem em festas, no Natal e na Páscoa.
Não procurem essa cidade nos mapas.
Ela só existe na cartografia emocional dos privilegiados que beberam a água mágica do Iguaçu sagrado.
É a terra encantada, onde andam pelas ruas coloridas, personagens de contos de fadas e onde fica a verdadeira casa do Papai Noel e do Coelhinho da Páscoa, com todos os detalhes, cheiros, enfeites, sabores e luzes.
É assim que esse PAI começa a falar de sua MÃE para sua FILHA.
ÚRSULA nasceu em 1943, na cidade gaúcha de Ajuricaba. Descendia de prussianos e austríacos. Era filha de Linus e Albertina Brauchner. Tinha três irmãs, Lore, Evelin e Guiomar. Veio para Porto União da Vitória com a família na primeira leva das emigrações gaúchas em direção ao norte, em 1950, para o Eldorado paranaense.
Fincou fundo suas raízes, nessas terras fecundas. Casou-se com Horst Adelberto Waldraff e teve três filhos: eu, Célio (casado com Cristiane), e meus irmãos César (casado com Andréa) e Silvana (casada com Eliézer).
Com meu pai, HORST, viveu uma história de amor de 63 anos com seu único namorado – 6 anos de namoro, que iniciou aos 13 anos idade e mais 57 de casados.
Passaram juntinhos e inseparáveis mais de 90 dias do isolamento da COVID.
Sua maior riqueza eram os cinco netos, Iarima, Gabriella, Henrique, Lara e Lorenza, cuja criação acompanhou com gratidão devotada ao Pai de Todos. Tinha plena consciência da benção que isto significa, nesse mundo de tragédias e infortúnios.
Formou os três filhos em cursos superiores, eu próprio em Direito, César em Engenharia Civil e Silvana em Fonoaudiologia.
Uma de suas maiores alegrias foi participar das formaturas de suas netas Iarima em Odontologia e Gabriella em Medicina. Preparava-se para as formaturas de seu neto Henrique e de sua neta Lara em Medicina. Estará presente de outra forma…
LORENZA, ainda novinha, dá seus primeiros passos na Escola, mas já sente o peso da responsabilidade dessa família estudada. Mas terá um Anjo cuidadoso a acompanhar de perto os seus passos.
Dona ÚRSULA estudou no nosso glorioso Colégio Santos Anjos, onde as santas freiras a formaram Professora.
Também frequentou o curso de Letras na nossa FAFI e estudou tardiamente o Espanhol. Era uma pintora cheia de paixão e uma cozinheira de imenso talento. Chamava a atenção a sua beleza, elegância, educação, gentileza, carisma e discrição.
Exerceu o magistério até a aposentadoria, em tempos em que a dignidade dessa profissão era devidamente reconhecida.
Aliás, no tempo em que nosso País, ao tratar com dignidade os Professores, moldava a dignidade com que queria tratar a si próprio.
Das muitas mensagens que recebi nesses dias difíceis, uma amiga lembrou que das vezes em que encontrava dona ÚRSULA, sentia o impulso de “ajustar a coluna para tentar ficar ligeiramente mais apresentável à uma dama, de respeitável presença”.
Doce lição de autoestima pela melhor de todas as Pedagogias: o exemplo.
Certa feita, ao conversar com uma Professora idosa, contou-me que, ao ser nomeada para uma cidade do interior do Paraná, foi recebida com banda de música, discursos, bandeirolas e foguetório. O salário de Professora era suficiente para sustentar com fartura uma Família.
Hoje, esses sinais estão trocados.
Porém, pela força do lindíssimo exemplo materno, segui também o caminho do Magistério, em uma trilha que acabou me levando até a UNIGUAÇU – que, em muito, por ela nasceu. É uma instituição em que a valorização do professor e do ensino, por isso tudo, vem de casa.
Para LORENZA, destaco ainda a fé da Vovó ÚRSULA, que se manifestava da forma mais completa, pelo Principal e Primeiro dos Mandamentos cristãos: “Ama o Próximo”!!!
Ao contrário do que querem alguns filósofos niilistas, para a Vovó ÚRSULA, como ensinado em João XIII, “Deus (e não o demônio) está nos outros”.
Por fim, a família Waldraff agradece a todas as manifestações de solidariedade. Tenham a certeza que conseguiram nos confortar e atenuar a dor.
Passado o maior trauma e o luto, a saudade vai espinhar de vez em quando, as lembranças amenas e suaves vão nos consolar, como uma brisa leve, mas vai ficar a dúvida do Poeta:
Por que Deus permite que as mães vão embora? Mãe é luz que não apaga quando sopra o vento e a chuva desaba, água pura, ar puro, puro pensamento. …
Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca!
Mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino.
Célio Horst Waldraff
Mantenedor da UNIGUAÇU. Vice-Presidente do Tribunal do Trabalho do Paraná. Mestre e Doutor pela UFPR, Mestre pela Universidad Internacional de Andalucia, Espanha. Pós-Doutorando pela Universidade de Florença, Itália. Professor de Direito Processual do Trabalho da UFPR.