José Almiro mora dentro de Uno

Por três anos, homem de 72 anos divide noite e dia em sua casa ‘móvel’; natural de Mallet, no Paraná, José diz já ter percorrido várias cidades brasileiras

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Atualizado há 4 anos

– Sabe o satanás? Sabe? Tem muita gente ruim nesse mundo. É assim que José Almiro Almeida inicia o seu diálogo.

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(Fotos: Wannessa Stenzel)

Ressabiado, ele olha os dois lados da rua e cumprimenta com um tímido ‘bom dia’. Depois de uns cinco minutos, deixa de desviar o olhar e passa a falar sobre a sua vida. Ele quer contar seus 72 anos, em menos de uma hora, e de maneira acelerada. Ele mistura tempo verbal e a ordem cronológica dos fatos.

O homem ficou conhecido no Vale do Iguaçu por morar dentro de um Uno vermelho com placas de Joinville (SC).

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José Almiro mora há três anos no Uno, estacionando um dia em Porto União, no outro em União da Vitória.

De nome José e de sobrenome Almeida, sua casa móvel tem aproximadamente 5 m² e serve de dormitório e armário.

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É do lado do caroneiro do Uno que ele improvisou uma cama, onde ele colocou um colchão, forrados com lençóis e travesseiros. No carro, ele leva roupas e alguns objetos que vai ganhando no caminho por onde passa.

José conta que é aposentado e recebe R$ 1.045. As despesas mensais é com alimentação, dele e da Bia, sua cachorrinha de estimação adotada na rua em Curitiba (PR). Ele ainda conta que da aposentadoria sobram uns trocados para encher o tanque do Uno.

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“Vivo de forma simples, sem apego à coisas materiais”, diz.

Conta ele:

“Eu fiz um acerto com um restaurante de União da Vitória. A marmita tem um preço especial para mim, de R$ 15, por R$ 10 reais. Coloco bastante feijão e arroz e tenho direito a dois pedaços de carne. Almoço bem e sobra comida para o jantar”. 

O café da manhã e da tarde é ele quem prepara. Faz a bebida com água fria mesmo e diz já estar acostumado.

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Bom de conversa, ele diz não ter contato com família.

“Já tive uma esposa e a honra de ser pai. Foram as circunstâncias e nem sei contar como tudo aconteceu. Muita gente me passou a perna e perdi tudo”.

José conta que já teve propostas para morar em um bairro de União da Vitória. Ele não sabe explicar de quem veio a ideia, se da Assistência Social, ou da própria comunidade, mas que não aceitou. Ele fez as contas e o custo com combustível seria muito alto para deslocar até a área central de União da Vitória e Porto União.

“Quando perguntam o meu endereço, digo que moro na área central das cidades e tenho muitos amigos”.

 

Ele garante que conheceu diversos cidades brasileiras, como Curitiba (PR) e Salvador (BA).

“Já tive oferta de emprego e fui até lá. Não deu certo, mas conheci as cidades. Em todos os lugares fui com meu Uno, ele é movido por Deus”.


E você caro leitor, já viu esse Uno vermelho parado por aí?

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Ele adotou uma cachorrinha de estimação chamada de Bia