NO CAMPO: Frio ainda não afeta agricultura

Na contração do efeito, produção de frutas é uma das culturas beneficiadas com tempo gelado

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Atualizado há 8 anos

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Plântulas de aveia, em fase inicial de desenvolvimento. (Foto: Nei Kukla).

Neste ano, o frio veio realmente com força, inclusive, antes do início oficial do inverno. Na prática, ele só começa no dia 21 mas, no Vale do Iguaçu, o tempo gelado já é rotina e as geadas, marcantes, severas e diárias, especialmente desde o dia 6. No início desta semana as geadas mais fortes cobriram a região.

E, se na área urbana o efeito de tanto frio é notado em carros com escapamento saindo fumaça ou pedestres cheios de roupas, no campo, o impacto é outro. Afinal, a agricultura é uma fábrica a céu aberto, sujeita ao que Deus – e a natureza – mandam.

O técnico agrícola Nei Antônio Kukla olha com atenção para os efeitos do tempo na área rural. Para ele, o inverno será exatamente como a prévia da estação vem sendo: de temperaturas baixas e mais geadas. Kukla vê nesta definição de estação – e das outras também – o equilíbrio que a produção de alimentos precisa. “Para a agricultura, temos problemas quando este frio severo ocorre fora do seu tempo, ou seja, geadas muito cedo afetam as lavouras safrinhas, como tem ocorrido já este ano em algumas áreas do Paraná onde acontece o cultivo de milho safrinha”, explica. Da mesma maneira, frio intenso tarde demais compromete as produções de trigo, por exemplo, que sofrem com a redução da qualidade dos grãos.

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Geada na Serra do Leão, em União da Vitória

Neste ano, por conta dessa onda congelante, podem ser afetados os produtos da pecuária. O preço do leite, por exemplo, pode subir. “Pois o inverno rigoroso nem sempre pega os produtores preparados com reserva de alimentos para os animais e as propriedades acabam tendo deficiência em alimentação à base de pasto, além do conforto térmico. Neste caso, a baixa temperatura também afeta negativamente a produção”, define Kukla. No caso do corte – animais para abate – a queda de produção e consequentemente a alta no preço do leite e da carne são praticamente certos para o ano.

Nem tudo é ruim

Por outro lado, algumas culturas tem o frio como seu principal adubo. É o caso das frutas. Boas produções de pêssegos, maçãs e peras dependem de até 500 horas de frio para que realmente expressem o seu potencial. “Na nossa região temos várias propriedades que já estão desenvolvendo a fruticultura como uma alternativa de diversificação e, com certeza, os produtores começam a comemorar por este acúmulo de horas de frio que vem ocorrendo para essas culturas”, explica Kukla.

O secretário da Agricultura de Porto União, Roberto Bonfleur, também espera pés carregados nas arvores frutíferas. Para ele, o frio ajuda – e muito – no controle de pragas, o que favorece ainda mais a produção. “Aguardava-se por vários anos estas geadas mais intensas, justamente para que as características produtivas de nossa região e o controle sanitário proporcionado pela natureza tenham o fim esperado”, avalia.

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Em Cruz Machado, baixas também cobriram os campos, porém, não há registros de grandes perdas. (Foto: Marcelo Kloczko).

Pouco prejuízo e preparação

Para Kukla, apesar do frio intenso e geadas um tanto precoces, as perdas significativas ainda não aconteceram. “Pois a maioria das colheitas já foi realizada e daqui para frente os produtores entram com as culturas de inverno como o trigo, aveia, azevém, culturas estas que têm o seu ciclo natural no período de inverno”, avalia.

Recolher a fruta do pé, o leite do rebanho, os grãos do milho, depende de preparação e paciência. “Se sei que teremos um frio prolongado com a possibilidade de ocorrer geadas em meados de setembro, não vamos colocar sementes no campo de culturas de verão tão cedo, deixar para plantar mais tarde um pouco. A informação ainda é a principal ferramenta na agricultura para que se tenham os melhores resultados, com menor custo e menor risco”, ressalta.