NA HISTÓRIA: Rádio impacta 86% da população

De Roquette Pinto ao podcast, emissoras se reinventam para entrar em sintonia com seu público

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Atualizado há 5 anos

Roquette Pinto é considerado o pai do rádio brasileiro (Fotos: Reprodução).
Roquette Pinto é considerado o pai do rádio brasileiro (Fotos: Reprodução).

“O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre”

Edgard Roquette Pinto

Mesmo sendo um veículo de comunicação antigo, o rádio continua presente nos lares brasileiros. E forte. Hoje, é comemorado o Dia Nacional do Rádio. A data escolhida é uma referência ao aniversário de Roquette Pinto, criador da Rádio Sociedade, a primeira emissora de rádio do Brasil, que começou a operar em 1923.

Um pouco em cada lugar

Em 1887, a descoberta do alemão Henrich Hertz sobre a propagação das ondas eletromagnéticas, plantou a semente do que viria a se tornar o primeiro veículo de comunicação em massa do mundo.

Já em 1896, graças à descoberta de Hertz, o físico italiano Guglielmo Marconi conquistou a patente de uma invenção, um transmissor de sinais sem fio – o rádio.

Roberto Landell de Moura criou uma das versões de aparelho radiofônico em 1900
Roberto Landell de Moura criou uma das versões de aparelho radiofônico em 1900

Por coincidência, quatro anos depois, o rádio também foi “inventado” no Brasil.  O padre-cientista, Roberto Landell de Moura, do Rio Grande do Sul, produziu aparelhos de transmissão e a recepção de sinais sonoros, dos quais obteve patentes brasileira e americana.

Segundo o Portal de Conteúdos Educacionais do Ministério da Educação (MEC), ainda em 1900 ele realizou uma demonstração de transmissão e recepção de sinais de voz, em São Paulo, mas não teve seu trabalho reconhecido, nem teve apoio das autoridades.

Nos Estados Unidos, em 1906, Henry Harrison Chase Dunwoody patenteou a Galena, um detector de cristal com sulfeto de chumbo natural, que se tornou uma espécie de receptor de rádio artesanal.

A galena era ligada à uma antena por um arame fino, e o som transmitido era captado pela antena, passava pelo cristal e era ouvido através de fones de ouvido. No Brasil, a galena foi bastante utilizada nas décadas de 20 e 30, pois podia ser montada em casa, com apenas cinco peças: cristal de galena, indutor, condensador variável de sintonia e fones de ouvido.

Em 1920, o início da Era do Rádio

A eleição presidencial americana de 1920 foi o assunto motivo da criação da primeira estação de rádio, no dia 2 de novembro, pela empresa Westinghouse. A estação se chamava KDKA, e foi instalada na cidade de Pittsburgh, Pennsylvania.

KDKA foi a rádio pioneira americana
KDKA foi a rádio pioneira americana

A Westinghouse foi a pioneira, pois durante a I Guerra Mundial ela fabricava os aparelhos de rádios de comunicação para os soldados americanos. Depois da guerra, a empresa acabou ficando com um grande estoque de aparelhos, e o jeito de comercializa-los foi instalar uma antena e transmitir algo que as pessoas se interessassem em ouvir.

Após isso, o número de emissoras e de ouvintes começou a crescer ao redor do mundo, iniciando então, a Era do Rádio.

Em território nacional

Segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), o nascimento do rádio no Brasil aconteceu em 7 de setembro de 1922, com a transmissão do discurso do presidente Epitácio Pessoa durante as comemorações do centenário da Independência do País, inaugurando a radiotelefonia brasileira.

A primeira emissora de rádio foi criada graças à Edgard Roquette Pinto, um médico que pesquisava a radioeletricidade para fins fisiológicos e convenceu a Academia Brasileira de Ciências a patrocinar a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, após ouvir a transmissão feita pelo presidente.

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Mais conhecida apenas como Rádio Sociedade, a emissora começou a operar em 30 de abril de 1923. Os programas eram, em sua maioria, educativos e abordavam temas relacionados à física, à química, à história natural, botânica, higiene, agricultura e outros assuntos que ensinassem os ouvintes sobre algo, afinal, Roquette Pinto afirmava que o “rádio era a escola de quem não tinha escola”.

É por causa de Roquette Pinto, criador da primeira emissora de rádio no Brasil, que o Dia Nacional do Rádio é comemorado no dia 25 de setembro, data do seu nascimento, em 1884.

Roquette Pinto

Edgard Roquette Pinto não foi “apenas” o pai do rádio brasileiro. Graduado em Medicina, foi membro da Academia Nacional de Medicina, da Academia Brasileira de Letras e também foi o fundador do Instituto Nacional de Cinema Educativo, dentro do MEC.

Ele também colaborou com a missão de Rondon em 1912, quando filmou os índios Nhambiquaras. Ainda, realizou estudos e foi professor de história natural e fisiologia.

Por ter um espírito empreendedor e se interessar tanto pela biologia e natureza quanto a tecnologia, foi um nome importante para os dois ramos, e chegou a ser o diretor da Faculdade Nacional de Medicina. Ele realizou as primeiras demonstrações televisivas no País, em 1929, e escreveu diversas obras literárias.

Roquette Pinto faleceu em 18 de outubro de 1954, aos 70 anos, no Rio de Janeiro, mesma cidade em que viveu sua vida inteira.

Repórter Esso e o Radiojornalismo brasileiro

Em 28 de agosto de 1941, a Rádio Nacional lançou o Repórter Esso, programa pioneiro do Radiojornalismo brasileiro. ‘O Primeiro a Dar as Últimas’, era o slogan do noticiário, que iniciou suas transmissões cobrindo a Segunda Guerra Mundial, com notícias enviadas por uma agência internacional de notícias dos Estados Unidos. Romeu Fernandes começou o programa anunciando o ataque aéreo da Alemanha à Normandia, na França.

Heron Domingues foi apresentador do Repórter Esso por 18 anos
Heron Domingues foi apresentador do Repórter Esso por 18 anos

Na televisão, o programa foi ao ar do dia 1º de abril de 1952 a 31 de dezembro de 1970.

Após 27 anos no ar, o Repórter Esso ensinou suas atividades em 31 de dezembro de 1968, com direito à emoção e lágrimas ao vivo do seu último locutor, Roberto Figueiredo.

Os ouvintes existem

Se quem acreditava que o rádio iria morrer quando a televisão começou a ser comercializada lá nos anos 1930, soubesse a quantidade de ouvintes que, em pleno século 21 ainda recorrem ao áudio para se informar, se educar e se entreter, ficaria surpreso. Iria talvez se arriscar e dizer que o rádio é imortal. E é mesmo. O rádio continua sendo um meio de comunicação forte e influente, mesmo em um momento em que o YouTube, as inúmeras plataformas digitais e as redes sociais recebem tanta atenção.

Segundo o levantamento do Book da Rádio 2018, feito pela Kantar Ibope Media, 86% da população das 13 maiores regiões metropolitanas do País ouvem rádio. Desses ouvintes, três a cada cinco escutam o rádio diariamente.

Na região da Grande Curitiba, a porcentagem é maior que a média geral: 87% dos moradores escutam rádio, com uma média diária de quatro horas, sete minutos e 57 segundos.

Os ouvintes da região metropolitana da Grande Goiânia apresentam a maior média de tempo ouvindo as rádios: são cinco horas, 21 minutos e 17 segundos por dia.

Além do radinho

No estudo, a Kantar levou em consideração o número de ouvintes que escutam rádio pela internet. O tempo médio que o ouvinte via web consome o conteúdo em áudio diariamente, é de duas horas e 21 minutos. E esse consumo cresce: em comparação com os dados apresentados no Book da Rádio de 2017, aumentou em 14 minutos o tempo médio, pois era de duas horas e sete minutos.

Mas, por quê ouvir rádio?

Você está cozinhando. Correndo entre a pia e o fogão, levando panelas e pratos, cortando ingredientes e temperando a comida, com pressa, para que tudo fique pronto para o almoço e você não se atrase para o trabalho. Você está usando todos os seus sentidos: o paladar para experimentar, o olfato, o tato, sua visão, tudo focado para preparar os alimentos da forma correta. Sua audição é o sentido que está mais relaxado, é o menos necessário em todo esse processo. E é simplesmente ouvindo que você consome o conteúdo do rádio. Não há necessidade de parar de se mexer, por exemplo, como exige a televisão, para prestar atenção. Você liga o rádio e escuta, seja música, entrevistas ou notícias. É só escutar. Simples assim.

Além da praticidade de poder ouvi-lo em casa, no trabalho, se exercitando ou no trânsito e a qualquer momento, existem outros motivos que tornam o rádio o meio de comunicação democrático que ele é.

Um “radinho”, daqueles a pilha, custa menos de R$ 50. Mais fácil que isso, apenas o celular: a maioria dos aparelhos oferece o acesso às Rádios FM sem gastar os dados móveis. Basta conectar o fone de ouvido e pronto, é possível ter acesso a músicas e informações onde estiverem.

Para quem quer fazer com que seu negócio seja conhecido, o rádio é o espaço certo. Com spots (produção em áudio) reproduzidos principalmente nos horários de pico, que costumam ser no início da manhã e da tarde, existe a oportunidade de tornar a sua marca algo familiar para milhares de ouvintes.

O podcast vai substituir o rádio?

Na terra do áudio, o rádio é rei. Porém, os podcasts estão aumentando e se destacando e, aos poucos, revolucionam a forma de consumir conteúdos em áudio.

Os podcasts são arquivos de áudios que podem ser ouvidos em qualquer momento, e que costumam estar disponíveis para os ouvintes em programas de broadcast. É uma mídia nativa da internet, e se diferencia do rádio pela sua disponibilidade e pela variedade de formatos que pode ser construído e pela forma que pode transmitir uma história ou promover um debate.

Segundo os resultados da PodPesquisa de 2018, a qualidade e diversidade do conteúdo e também a liberdade para ouvir quando e como quiser são os fatores que lideram como motivos para consumir a mídia. A pesquisa ouviu mais de 22 mil pessoas e, a maioria delas, escuta podcasts pelo smartphone (92,1%) e acompanha regularmente cinco programas diferentes (11,1%).

Mas isso não é ruim para o rádio? Não necessariamente. Os podcasts são uma boa forma de ampliar engajamento e o conhecimento de sua marca. Segundo Daniel Starck, diretor geral e jornalista do Tudo Radio, um terço das personalidades mundiais de rádio produzem podcasts, para agregar mais ouvintes para o próprio rádio. “O boom do podcast está muito relacionado com o investimento das rádios e de outros meios de comunicação e, também, com a evolução dos smartphones”, explicou em sua fala durante o 25º Congresso Paranaense de Radiodifusão.

No Vale do Iguaçu

Na região de União da Vitória e Porto União, o rádio tem destaque. É difícil entrar em uma casa que não tenha um aparelho de rádio ligado. Atualmente, são sete emissoras que informam e entretêm quem mora no Vale. Das sete, duas delas se tornaram filiais de grandes emissoras de rede do País, uma em 2017 e outra em 2018.


CBN Vale do Iguaçu

A Rádio União AM 1070 se tornou a CBN Vale do Iguaçu FM 106.5. A antiga União ficou no ar por 74 anos, de 1943 até o dia 2 de setembro de 2017. A CBN Vale do Iguaçu estreou sua programação local dois dias depois, no dia 4 de setembro de 2017.

Nesses dois anos no ar, a programação da CBN Vale do Iguaçu foi ganhando corpo. Profissionais das mais diversas áreas, passaram a integrar o time de colunistas da emissora. Gestão de pessoas, alimentação saudável, saúde, economia, sustentabilidade, aventura, são alguns dos temas presentes na programação.


Jovem Pan FM 98.3

Já a Top FM 98.3, que entrou no ar no dia 3 de fevereiro de 1989, foi a primeira rádio da região a transmitir ao vivo sua programação via internet. A Top acabou se tornou a Jovem Pan FM 98.3 União da Vitória, que estreou no dia 27 de março de 2018.


 Antena 1 FM 104,1

Por bastante tempo, o Vale do Iguaçu contou com apenas uma rádio nacional: a Antena 1 FM 95.3 de Porto União, estação da rede nacional de formato adulto-contemporâneo que transmitia também na região. Em outubro de 2018, a emissora passou a funcionar na frequência 104,1.


FM Verde Vale 94.1

A Verde Vale foi a primeira emissora em frequência modulada (FM) a iniciar suas atividades em União da Vitória, em 1987, atingindo todos municípios vizinhos com sua programação. A emissora tem como objetivo proporcionar música e interatividade para seus ouvintes.


Rádio Educadora Uniguaçu 101.9 FM

Em novembro de 2017, a rádio Educadora se tornou a Rádio Uniguaçu 101,9FM. O veículo nasceu de uma junção da Fundação Sagrado Coração de Jesus e o Centro Universitário do Vale do Iguaçu (Uniguaçu), com uma programação totalmente regional.


Porto União FM 97.9

A Rádio Comunitária de Porto União surgiu como a Associação Comunitária e Cultural Porto União em 24 de outubro de 1997. Em 2006, obteve permissão da Anatel para entrar no ar e, desde então, a Rádio Comunitária se mantém com os apoios culturais, que são as propagandas por baixos preços para pequenas empresas da região que querem divulgar os seus serviços. A programação é composta por músicas nacionais, notícias e avisos para a população do Vale do Iguaçu.


 Rádio Colmeia AM 1230

No dia 6 de agosto de 1956 entrava no ar pela primeira vez a Rádio Difusora Colmeia, em Porto União.

Depois de um ano funcionando em caráter experimental, a emissora passou a transmitir de modo oficial e permanente. Atualmente, a programação da emissora inclui notícias locais, nacionais e até internacionais e, também, horários musicais e programas esportivos. A característica principal, como rádio comunitária, é ser leiga, democrática, apartidária e sem fins lucrativos.

 

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