“O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre”
Edgard Roquette Pinto
Mesmo sendo um veículo de comunicação antigo, o rádio continua presente nos lares brasileiros. E forte. Hoje, é comemorado o Dia Nacional do Rádio. A data escolhida é uma referência ao aniversário de Roquette Pinto, criador da Rádio Sociedade, a primeira emissora de rádio do Brasil, que começou a operar em 1923.
Um pouco em cada lugar
Em 1887, a descoberta do alemão Henrich Hertz sobre a propagação das ondas eletromagnéticas, plantou a semente do que viria a se tornar o primeiro veículo de comunicação em massa do mundo.
Já em 1896, graças à descoberta de Hertz, o físico italiano Guglielmo Marconi conquistou a patente de uma invenção, um transmissor de sinais sem fio – o rádio.
Por coincidência, quatro anos depois, o rádio também foi “inventado” no Brasil. O padre-cientista, Roberto Landell de Moura, do Rio Grande do Sul, produziu aparelhos de transmissão e a recepção de sinais sonoros, dos quais obteve patentes brasileira e americana.
Segundo o Portal de Conteúdos Educacionais do Ministério da Educação (MEC), ainda em 1900 ele realizou uma demonstração de transmissão e recepção de sinais de voz, em São Paulo, mas não teve seu trabalho reconhecido, nem teve apoio das autoridades.
Nos Estados Unidos, em 1906, Henry Harrison Chase Dunwoody patenteou a Galena, um detector de cristal com sulfeto de chumbo natural, que se tornou uma espécie de receptor de rádio artesanal.
A galena era ligada à uma antena por um arame fino, e o som transmitido era captado pela antena, passava pelo cristal e era ouvido através de fones de ouvido. No Brasil, a galena foi bastante utilizada nas décadas de 20 e 30, pois podia ser montada em casa, com apenas cinco peças: cristal de galena, indutor, condensador variável de sintonia e fones de ouvido.
Em 1920, o início da Era do Rádio
A eleição presidencial americana de 1920 foi o assunto motivo da criação da primeira estação de rádio, no dia 2 de novembro, pela empresa Westinghouse. A estação se chamava KDKA, e foi instalada na cidade de Pittsburgh, Pennsylvania.
A Westinghouse foi a pioneira, pois durante a I Guerra Mundial ela fabricava os aparelhos de rádios de comunicação para os soldados americanos. Depois da guerra, a empresa acabou ficando com um grande estoque de aparelhos, e o jeito de comercializa-los foi instalar uma antena e transmitir algo que as pessoas se interessassem em ouvir.
Após isso, o número de emissoras e de ouvintes começou a crescer ao redor do mundo, iniciando então, a Era do Rádio.
Em território nacional
Segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), o nascimento do rádio no Brasil aconteceu em 7 de setembro de 1922, com a transmissão do discurso do presidente Epitácio Pessoa durante as comemorações do centenário da Independência do País, inaugurando a radiotelefonia brasileira.
A primeira emissora de rádio foi criada graças à Edgard Roquette Pinto, um médico que pesquisava a radioeletricidade para fins fisiológicos e convenceu a Academia Brasileira de Ciências a patrocinar a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, após ouvir a transmissão feita pelo presidente.
Mais conhecida apenas como Rádio Sociedade, a emissora começou a operar em 30 de abril de 1923. Os programas eram, em sua maioria, educativos e abordavam temas relacionados à física, à química, à história natural, botânica, higiene, agricultura e outros assuntos que ensinassem os ouvintes sobre algo, afinal, Roquette Pinto afirmava que o “rádio era a escola de quem não tinha escola”.
É por causa de Roquette Pinto, criador da primeira emissora de rádio no Brasil, que o Dia Nacional do Rádio é comemorado no dia 25 de setembro, data do seu nascimento, em 1884.
Roquette Pinto
Edgard Roquette Pinto não foi “apenas” o pai do rádio brasileiro. Graduado em Medicina, foi membro da Academia Nacional de Medicina, da Academia Brasileira de Letras e também foi o fundador do Instituto Nacional de Cinema Educativo, dentro do MEC.
Ele também colaborou com a missão de Rondon em 1912, quando filmou os índios Nhambiquaras. Ainda, realizou estudos e foi professor de história natural e fisiologia.
Por ter um espírito empreendedor e se interessar tanto pela biologia e natureza quanto a tecnologia, foi um nome importante para os dois ramos, e chegou a ser o diretor da Faculdade Nacional de Medicina. Ele realizou as primeiras demonstrações televisivas no País, em 1929, e escreveu diversas obras literárias.
Roquette Pinto faleceu em 18 de outubro de 1954, aos 70 anos, no Rio de Janeiro, mesma cidade em que viveu sua vida inteira.
Repórter Esso e o Radiojornalismo brasileiro
Em 28 de agosto de 1941, a Rádio Nacional lançou o Repórter Esso, programa pioneiro do Radiojornalismo brasileiro. ‘O Primeiro a Dar as Últimas’, era o slogan do noticiário, que iniciou suas transmissões cobrindo a Segunda Guerra Mundial, com notícias enviadas por uma agência internacional de notícias dos Estados Unidos. Romeu Fernandes começou o programa anunciando o ataque aéreo da Alemanha à Normandia, na França.
Na televisão, o programa foi ao ar do dia 1º de abril de 1952 a 31 de dezembro de 1970.
Após 27 anos no ar, o Repórter Esso ensinou suas atividades em 31 de dezembro de 1968, com direito à emoção e lágrimas ao vivo do seu último locutor, Roberto Figueiredo.
Os ouvintes existem
Se quem acreditava que o rádio iria morrer quando a televisão começou a ser comercializada lá nos anos 1930, soubesse a quantidade de ouvintes que, em pleno século 21 ainda recorrem ao áudio para se informar, se educar e se entreter, ficaria surpreso. Iria talvez se arriscar e dizer que o rádio é imortal. E é mesmo. O rádio continua sendo um meio de comunicação forte e influente, mesmo em um momento em que o YouTube, as inúmeras plataformas digitais e as redes sociais recebem tanta atenção.
Segundo o levantamento do Book da Rádio 2018, feito pela Kantar Ibope Media, 86% da população das 13 maiores regiões metropolitanas do País ouvem rádio. Desses ouvintes, três a cada cinco escutam o rádio diariamente.
Na região da Grande Curitiba, a porcentagem é maior que a média geral: 87% dos moradores escutam rádio, com uma média diária de quatro horas, sete minutos e 57 segundos.
Os ouvintes da região metropolitana da Grande Goiânia apresentam a maior média de tempo ouvindo as rádios: são cinco horas, 21 minutos e 17 segundos por dia.
Além do radinho
No estudo, a Kantar levou em consideração o número de ouvintes que escutam rádio pela internet. O tempo médio que o ouvinte via web consome o conteúdo em áudio diariamente, é de duas horas e 21 minutos. E esse consumo cresce: em comparação com os dados apresentados no Book da Rádio de 2017, aumentou em 14 minutos o tempo médio, pois era de duas horas e sete minutos.
Mas, por quê ouvir rádio?
Você está cozinhando. Correndo entre a pia e o fogão, levando panelas e pratos, cortando ingredientes e temperando a comida, com pressa, para que tudo fique pronto para o almoço e você não se atrase para o trabalho. Você está usando todos os seus sentidos: o paladar para experimentar, o olfato, o tato, sua visão, tudo focado para preparar os alimentos da forma correta. Sua audição é o sentido que está mais relaxado, é o menos necessário em todo esse processo. E é simplesmente ouvindo que você consome o conteúdo do rádio. Não há necessidade de parar de se mexer, por exemplo, como exige a televisão, para prestar atenção. Você liga o rádio e escuta, seja música, entrevistas ou notícias. É só escutar. Simples assim.
Além da praticidade de poder ouvi-lo em casa, no trabalho, se exercitando ou no trânsito e a qualquer momento, existem outros motivos que tornam o rádio o meio de comunicação democrático que ele é.
Um “radinho”, daqueles a pilha, custa menos de R$ 50. Mais fácil que isso, apenas o celular: a maioria dos aparelhos oferece o acesso às Rádios FM sem gastar os dados móveis. Basta conectar o fone de ouvido e pronto, é possível ter acesso a músicas e informações onde estiverem.
Para quem quer fazer com que seu negócio seja conhecido, o rádio é o espaço certo. Com spots (produção em áudio) reproduzidos principalmente nos horários de pico, que costumam ser no início da manhã e da tarde, existe a oportunidade de tornar a sua marca algo familiar para milhares de ouvintes.
O podcast vai substituir o rádio?
Na terra do áudio, o rádio é rei. Porém, os podcasts estão aumentando e se destacando e, aos poucos, revolucionam a forma de consumir conteúdos em áudio.
Os podcasts são arquivos de áudios que podem ser ouvidos em qualquer momento, e que costumam estar disponíveis para os ouvintes em programas de broadcast. É uma mídia nativa da internet, e se diferencia do rádio pela sua disponibilidade e pela variedade de formatos que pode ser construído e pela forma que pode transmitir uma história ou promover um debate.
Segundo os resultados da PodPesquisa de 2018, a qualidade e diversidade do conteúdo e também a liberdade para ouvir quando e como quiser são os fatores que lideram como motivos para consumir a mídia. A pesquisa ouviu mais de 22 mil pessoas e, a maioria delas, escuta podcasts pelo smartphone (92,1%) e acompanha regularmente cinco programas diferentes (11,1%).
Mas isso não é ruim para o rádio? Não necessariamente. Os podcasts são uma boa forma de ampliar engajamento e o conhecimento de sua marca. Segundo Daniel Starck, diretor geral e jornalista do Tudo Radio, um terço das personalidades mundiais de rádio produzem podcasts, para agregar mais ouvintes para o próprio rádio. “O boom do podcast está muito relacionado com o investimento das rádios e de outros meios de comunicação e, também, com a evolução dos smartphones”, explicou em sua fala durante o 25º Congresso Paranaense de Radiodifusão.
No Vale do Iguaçu
Na região de União da Vitória e Porto União, o rádio tem destaque. É difícil entrar em uma casa que não tenha um aparelho de rádio ligado. Atualmente, são sete emissoras que informam e entretêm quem mora no Vale. Das sete, duas delas se tornaram filiais de grandes emissoras de rede do País, uma em 2017 e outra em 2018.
CBN Vale do Iguaçu
A Rádio União AM 1070 se tornou a CBN Vale do Iguaçu FM 106.5. A antiga União ficou no ar por 74 anos, de 1943 até o dia 2 de setembro de 2017. A CBN Vale do Iguaçu estreou sua programação local dois dias depois, no dia 4 de setembro de 2017.
Nesses dois anos no ar, a programação da CBN Vale do Iguaçu foi ganhando corpo. Profissionais das mais diversas áreas, passaram a integrar o time de colunistas da emissora. Gestão de pessoas, alimentação saudável, saúde, economia, sustentabilidade, aventura, são alguns dos temas presentes na programação.
Jovem Pan FM 98.3
Já a Top FM 98.3, que entrou no ar no dia 3 de fevereiro de 1989, foi a primeira rádio da região a transmitir ao vivo sua programação via internet. A Top acabou se tornou a Jovem Pan FM 98.3 União da Vitória, que estreou no dia 27 de março de 2018.
Antena 1 FM 104,1
Por bastante tempo, o Vale do Iguaçu contou com apenas uma rádio nacional: a Antena 1 FM 95.3 de Porto União, estação da rede nacional de formato adulto-contemporâneo que transmitia também na região. Em outubro de 2018, a emissora passou a funcionar na frequência 104,1.
FM Verde Vale 94.1
A Verde Vale foi a primeira emissora em frequência modulada (FM) a iniciar suas atividades em União da Vitória, em 1987, atingindo todos municípios vizinhos com sua programação. A emissora tem como objetivo proporcionar música e interatividade para seus ouvintes.
Rádio Educadora Uniguaçu 101.9 FM
Em novembro de 2017, a rádio Educadora se tornou a Rádio Uniguaçu 101,9FM. O veículo nasceu de uma junção da Fundação Sagrado Coração de Jesus e o Centro Universitário do Vale do Iguaçu (Uniguaçu), com uma programação totalmente regional.
Porto União FM 97.9
A Rádio Comunitária de Porto União surgiu como a Associação Comunitária e Cultural Porto União em 24 de outubro de 1997. Em 2006, obteve permissão da Anatel para entrar no ar e, desde então, a Rádio Comunitária se mantém com os apoios culturais, que são as propagandas por baixos preços para pequenas empresas da região que querem divulgar os seus serviços. A programação é composta por músicas nacionais, notícias e avisos para a população do Vale do Iguaçu.
Rádio Colmeia AM 1230
No dia 6 de agosto de 1956 entrava no ar pela primeira vez a Rádio Difusora Colmeia, em Porto União.
Depois de um ano funcionando em caráter experimental, a emissora passou a transmitir de modo oficial e permanente. Atualmente, a programação da emissora inclui notícias locais, nacionais e até internacionais e, também, horários musicais e programas esportivos. A característica principal, como rádio comunitária, é ser leiga, democrática, apartidária e sem fins lucrativos.
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