PANDEMIA: Funeral sem despedida

Funerárias no Vale do Iguaçu agem com sensibilidade e empatia para auxiliar passagem do luto

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Atualizado há 3 anos

“Famílias chegam até nós, nos momentos mais difíceis e dolorosos, que é quando perdem aqueles que amam. Elas chegam na fase da negação do luto. A Covid-19 agravou essa percepção de perda. É como se as pessoas não tivessem morrido, mas sim sumido. O que acontece é que a pessoa vai ao hospital – em alguns casos ficam internadas e, neste interim, a família não a vê mais; muitos vão direto para o sepultamento sem a chance do último adeus e do último olhar. É uma sensação de impotência das famílias”.

(Santa Rita Serviços Funerário)
(Santa Rita Serviços Funerários)

 

Desabafo é de Andréia Vieira Marques de Oliveira.

Ela está na linha de frente de atendimento à Covid-19, porém, naquela que é considerada a sua pior fase. Fisioterapeuta e sócia de uma funerária em União da Vitória, Andréia compartilha que o setor funerário, não apenas no Vale do Iguaçu, mas em todo o País, está sentindo o impacto do aumento acelerado das mortes pela doença respiratória.

Dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) – que é o portal de Transparência do Registro Civil, sendo um site de livre acesso, apontaram que em 2020, o número de óbitos no Brasil cresceu 14,96% em relação ao ano anterior. Foram 1,45 milhão de mortos contra 1,26 milhão em 2019. Foi o ano em que mais morreram pessoas no Brasil na história.

Diante desse cenário, em março deste ano, as funerárias brasileiras, foram orientadas a prepararem um plano de emergência na pandemia. O alerta foi emitido pela Associação de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif), com o objetivo de evitar aglomerações em cemitérios ou enterros em covas coletivas nas cidades com maior índice de mortes por Covid.

Vale lembrar que com a pandemia, grande parte das cidades do País, suspendeu os velórios para evitar que haja risco de contaminação no momento dos sepultamentos. Em suas diretrizes oficiais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselhou evitar velórios e missas, porém quando houver, que sejam curtos, com número reduzido de pessoas, sem toques, abraços e aproximações.

“É um momento diferente de tudo o que a gente já viveu. Creio que ninguém, até hoje, passou por uma situação como essa. Nós, aqui na funerária, sempre preparamos uma homenagem para aquela pessoa que morreu; não é uma homenagem para a morte, mas sim para a vida dessa pessoa. Hoje tudo isso mudou. Vamos em um velório para amparar, confortar aquela pessoa que ficou. Hoje não temos mais esse conforto, aquele abraço, aquele carinho, que obviamente ficou impossibilitado pela pandemia. Sem abraços, não é mais a mesma coisa. As famílias não têm mais essa sensação de acolhimento”, afirma Andréia.


Protocolos para funeral

Para casos de óbitos que tenham confirmação ou suspeita da Covid-19, as funerárias adotam medidas para a prevenção de contágio. De acordo com Andréia, a funerária local, segue todas as orientações do Ministério da Saúde e do Trabalho, conforme comunicado Nº 19/2020, que trata do manejo de corpos. Além disso, as funerárias também seguem os protocolos estabelecidos em decretos municipais.

“O setor funerário é bastante fiscalizado. Seguimos todas as normas rígidas da Vigilância Sanitária, cujo lixo produzido em laboratório é recolhido por uma empresa específica e descartado como lixo hospitalar”.

Segundo a profissional, a funerária de União da Vitória informa todas as medidas de prevenção ao Ministério do Trabalho, conforme treinamentos registrados em ata e com a assinatura de todos os colaboradores da empresa. Além disso, no documento, devem constar as notas fiscais de todos os equipamentos de proteção adquiridos no período. No documento, devem constar fotos para comprovação do serviço oferecido e como os funcionários vem se protegendo.

Em muitas das situações, a família pode optar por realizar uma breve despedida (muitas vezes, de no máximo uma hora, conforme decreto da prefeitura, junto ao local do sepultamento), desde que o espaço seja ao ar livre ou muito ventilado, não sendo permitida a presença de mais de dez pessoas e, que seja, observadas as regras de distanciamento social e uso de máscaras por todos, vedada a presença de pessoas sintomáticas ou assintomáticas com confirmação de estarem contaminadas pelo coronavírus.

(Santa Rita Serviços Funerário)
(Santa Rita Serviços Funerários)

O caixão deve ser fechado pela funerária não podendo mais ser aberto. No atendimento ao óbito, até a realização do sepultamento ou cremação, deve prevalecer a agilidade, visando minimizar o tempo entre a declaração do óbito e o sepultamento.

“O risco de contaminação do setor funerário existe e é grande”, conta Marcelo Juchem de Oliveira, administrador de empresas e sócio de Andréia na funerária de União da Vitória.

Ele explica que a Vigilância Epidemiológica municipal, incluiu vacinar contra a Covid os colaboradores do setor funerário, o que segundo ele, torna o serviço mais seguro, tanto para o empregado, quanto para o empregador, e também o requerente do serviço.

Os colaboradores do setor funerário e envolvidos no trabalho para o sepultamento deverão sempre estar com os equipamentos de proteção individual indicados pelo Ministério da Saúde, conforme o manual de manejo de corpos no contexto do coronavírus, sempre utilizando macacão com capuz, avental, luvas, máscaras e óculos de proteção descartáveis.

Também são utilizadas águas sanitárias para higienização das urnas (caixão), seguido da acomodação da mesma no veículo de transporte.

“Os colaboradores devem sempre retirar a roupa que estavam usando e descartá-las como lixo contaminante. Ao entrarem no carro novamente, para o translado do corpo, vestem outras roupas e novos itens de proteção. Tudo para evitar a contaminação”, disse Andréia.

Conforme os colaboradores do setor funerário local, em casos confirmados ou suspeitos da Covid, em menos de 20 dias, o corpo é retirado do próprio hospital, já devidamente preparado pela equipa da saúde. “Então, nós não temos contato direto com esses corpos, em específico dos óbitos decorrentes da Covid. Somos humanos. É uma questão de empatia e sensibilidade com o próximo”, disse a empresária.

(Santa Rita Serviços Funerários)
(Santa Rita Serviços Funerários)

Atendimento psicológico

A funerária de União da Vitória adotou sensibilidade e empatia para auxiliar as pessoas a vivenciarem o luto.

“Hoje contamos com atendimento psicológico para nós e para os enlutados. Orientamos as famílias a procurarem a ajuda de um profissional. A funerária havia adotado a preparação para a chegada das famílias nesse momento de dor”.

O serviço é ofertado aos enlutados gratuitamente pela funerária, sendo aplicado por Alexandre Portugal, Tanatologo – especialista em luto.


Diferença entre funeral e velório?

  • – Velório está relacionado à velar (olhar, cuidar) o falecido. É o primeiro momento da cerimônia.
  • – Funeral é a cerimônia completa, até o sepultamento.

Tanatologo

Especialista ou pessoa que se dedica a tanatologia, estudo da morte e questões com ela relacionadas (natureza, causas, sinais etc.).


Nos EUA

Nos Estados Unidos, por exemplo, a operação funerária leva dias. Lá, as funerárias não têm estoque de urna. Informações apuradas pelo portal Uol, em março deste ano, trazem que o serviço acontece com showroom, ou seja, a família escolhe o modelo, e a funerária entra em contato com a fabricante, que faz a entrega no dia seguinte, e o funeral acontece no terceiro dia. Isso aparece muito nos filmes americanos. A operação no Brasil está sendo diferente. Em 24 horas, é feito tudo: ocorre o óbito, depois a liberação do corpo, o velório e o sepultamento.