“O que vimos na televisão, sentimos na pele”

Pedro Charavara, o “Pedro da Farmácia”, faleceu no dia 19 de fevereiro vítima de complicações da Covid-19. Popular no Vale do Iguaçu, sua partida rendeu diversas homenagens

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Atualizado há 3 anos

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

Em uma das ruas mais movimentadas de Porto União, a rua Matos Costa, onde o barulho de buzinas e freadas dá o tom do ambiente, está localizada a tradicional Farmácia Santa Terezinha. Foi ali, que durante 38 anos, ele se destacava. Com seu jaleco branco imponente, Pedro Charavara atendia os clientes, indicava medicação e, foi assim que ficou conhecido como “Pedro da Farmácia”. Se popularizou pelo carisma, conhecimento e o bem atender. Quem vivenciou essa época com certeza lembra dele no outro lado do balcão, com um sorriso largo sempre disposto em ajudar quem o procurava.

Pedro teve sua história interrompida no dia 19 de fevereiro, aos 64 anos, às 9h30, quando faleceu por complicações da Covid-19. Foi casado com Dulce, pai de Juliana e avô de Manuela, sua partida dilacerou o coração de sua família e comoveu uma legião de pessoas que o admiravam.


História eternizada

Para eternizarmos sua história, contamos com o auxílio de Dulce e Juliana. Foram elas que nos contaram os fatos que – aqui registramos – como uma forma de homenagem. Independente das crenças, o que existe após a morte é um hiato e uma esperança de um dia, um reencontro.

Enquanto isso não acontece, as lembranças acalentam a dor de quem ficou.


O único emprego

Ironia do destino, Pedro convalesceu de uma doença que nem ele mesmo saberia indicar a cura. Seu trabalho na farmácia, foi seu único emprego na vida. Estudou até a 8ª série. Começou limpando a calçada. Depois passou a trabalhar no balcão. Não possuía o diploma de pergaminho exposto na parede, mas por seu vasto conhecimento adquirido com pesquisas e dedicação, não era raro as pessoas acharem que ele era farmacêutico formado.

Se aposentou, e decidiu ficar em casa e descansar.

“Mas mesmo assim todo dia tinha gente chamando no portão pedindo para ver um exame, indicar um remédio, e ele sempre atendendo a todos”.

Em casa sempre foi um homem alegre, dedicado e preocupado sempre com o bem estar da família. Gostava nas horas vagas de ler, mexer na terra, plantar, fazer jardim, cortar grama. Todo domingo era sagrado uma carninha assada e almoçar com a família. Nos últimos meses como estava só em casa, adorava ficar no youtube vendo vídeos dos caminhoneiros.


O câncer

PEDRO 2

Em setembro de 2020, Pedro descobriu um câncer de próstata, o qual por indicação médica – mesmo durante a pandemia – teve que fazer uma cirurgia. Na reconsulta, o médico disse que ele estava curado e que tinha ainda uma vida longa devido ter boa saúde.

“Ele nunca bebeu e nem fumou. Não tinha nada”.

O médico pediu três meses de repouso, sem esforço para uma boa recuperação da cirurgia.

“E ele seguiu à risca, não saia, (nem para tomar um solzinho, não queria que ninguém visse ele doente).  Sempre foi ele quem cuidava do próximo, então ele achava com ele que todo mundo tinha que ver ele sempre bem. Não recebeu visitas para evitar o contato”.


O positivo

Desde o início da pandemia, Pedro se resguardou, pois acabava de se recuperar de uma cirurgia delicada de câncer de próstata. No dia 6 de fevereiro, conforme relata Juliana, foi o dia em que ele deu uma saída rápida. No dia seguinte, apresentou sintomas de gripe.

“Assim passou o fim de semana. Na segunda 8, fui visitar meu pai, ele não estava bem, disse que tinha passado a noite com dor de cabeça e febre, mas que não era nada, devia ser um choque térmico de sair do carro no sol e entrar em uma farmácia com ar condicionado, que era isso e pronto”.

Na terça dia 9, ao levar almoço para o pai ela constatou que ele continuava ruim.

“O levei até a maternidade para consultar, ficou lá um tempo tomando soro, o médico pediu uns exames, inclusive de Covid, que eu vinha dizendo:  pai esses teus sintomas tá igual de Covid, (febre, já tinha tosse, perda de apetite, e fadiga).  Na quinta-feira, o funcionário do laboratório foi até a casa para tirar sangue, para os exames”.

O de Covid deu positivo de imediato.

“A tarde ele foi no UPA para pegar os remédios. Continuava com o mal estar.  Já na sexta-feira, continuava ruim, e ele teimoso, dizia que já iria ficar bem”.

No sábado Pedro estava com muito mal estar e quase sem poder respirar, e foi levado novamente para o UPA.

“Foi direto para o oxigênio, e passando as horas foi ficando mais fraco.  Tivemos que aguardar até às 16h30 para conseguir uma vaga no hospital, foi direto para UTI da APMI”.

No dia 14, a filha foi até o hospital visitar o pai.

“Ele me deu tchau, deu um sorriso, e fez sinal de positivo, e já dormiu novamente.  Para amanhecer segunda, passou mal e foi entubado e sedado.  Não vi mais ele acordado. Estava e foi muito bem cuidado.  Mas, a cada dia e cada visita não tínhamos boas notícias. Somente aguardar ele reagir e não tinha o que fazer.  Isso nos deixava angustiados e nervosos pela espera”.

E na manhã de sexta-feira, 19, ele não resistiu. O vírus tinha afetado 100% do seu pulmão.

“Meu Deus, a gente nunca está preparado para perder as pessoas que amamos, e de uma forma dessa, tão dolorida, sem poder ter um velório, uma despedida. O que via na televisão sentimos na pele. Não tem explicação a dor que passamos.”


Se cuidem

A familia agradece todas as manifestações de apoio e se orgulha diante de tantas homenagens que Pedro recebeu.

“Ficamos orgulhosos de saber o quanto o Pedro foi querido por todos, tantas mensagens, homenagens. Isso nos dá força para superar e aprender a viver a partir de agora sem ele em nossas vidas”.

Os familiares, para quem ainda não acredita na severidade da doença:

“E agora o quanto falamos que por favor se cuidem, cada organismo reage de um jeito, não podemos brincar com uma doença tão séria”.