Pandemia de coronavírus altera rotina de controle da dengue

Profissionais que antes tinham como foco a caça aos criadouros do mosquito nas residências do Vale do Iguaçu, hoje orientam a população pelas redes sociais

·
Atualizado há 4 anos

O Brasil e o mundo vivem um momento que impõe desafios para todos.

Com a pandemia do novo coronavírus, medidas de restrição e distanciamento social estão sendo adotadas.

No Vale do Iguaçu não é diferente. Além da preocupação com a Covid-19, a população deve ficar atenta a uma outra ameaça: as arboviroses.

Neste período de distanciamento social é fundamental aproveitar o tempo para impedir a proliferação do mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão de doenças como dengue, zika vírus e chikungunya.

O Aedes aegypti é extremamente urbano, sendo que 90% de seus criadouros se encontram no ambiente domiciliar.

2020-dengue
(Foto: reprodução)

A reportagem do Portal Vvale conversou com profissionais que dedicam sua rotina para proteger sua casa do Aedes aegypti.

É uma missão dar conta do recado em tempos de pandemia e afirmam que cada um pode cooperar, sendo responsável e com vistorias semanalmente no seu imóvel para evitar focos do mosquito. 


Do lado paranaense

Em União da Vitória, além da mudança na lista de atribuições da função, os agentes de endemias precisaram mudar a forma de abordagem e de atuação para evitar riscos de contaminação pelo coronavírus, tanto para os moradores visitados, como para eles próprios.

É o caso de Jucimara Vergopolan, moradora que abraçou um projeto voluntário contra a dengue na cidade.

Uma iniciativa que começou de maneira despretensiosa e que hoje conta com vários adeptos na região. Jucimara é a idealizadora do Movimento União sem Dengue – EU QUERO. A ação completou no dia 14 de março, seus três anos de atuação e conscientização sobre a dengue.

Jucimara Vergopolan, moradora que abraçou um projeto voluntário contra a dengue na cidade
Jucimara Vergopolan, moradora que abraçou um projeto voluntário contra a dengue na cidade

“Foi algo que foi acontecendo, acontecendo e acontecendo. Iniciei a ação sozinha, no quintal da minha casa, limpando o espaço e evitando acúmulo de água nos recipientes. Me envolvi com a causa e hoje temos vários adeptos”, conta.

De sua casa, Jucimara estendeu a ação para o bairro onde mora, que é o Jardim Muzzolon.

“Comecei a pesquisar o tema (dengue) e não parei mais. Percebi que questões como essa se agravam muito rápido e por isso foi necessária a expansão do movimento com mais divulgação”.

Jucimara é assistente de comunicação do Núcleo Regional de Educação (NRE) de União da Vitória. Após identificar o primeiro Aedes Aegypti – que é o nome científico do mosquito que transmite a dengue, não parou mais.

“Encontrei um mosquito, depois mais um. Coloquei eles (os mosquitos) em um recipiente e carrego-os por onde vou e mostro para a comunidade. Ensino como identificar o mosquito da dengue”, diz.

Ela embarcou na ação voluntária e hoje ministra palestras pelas escolas da região.


Mutirão contra a dengue

O terceiro mutirão contra a dengue aconteceu no dia 14 de março, no bairro Sagrada Família, em União da Vitória. Em razão da pandemia, a ação foi suspensa, por enquanto.

Já as orientações à comunidade seguem normalmente, mas desta vez, pelas redes sociais.

“É um fato muito curioso, pois os moradores têm enviado várias fotos de mosquitos coletados em suas casas na tentativa se saber se é o mosquito transmissor da dengue”.

As imagens recebidas vieram da área central de União da Vitória e dos bairros  Cidade Jardim, Muzzullon, Ponte Nova, São Braz, São Cristóvão, São Gabriel e até da cidade de General Carneiro.

 

 


União da Vitória confirma primeiro paciente

A Secretária de Saúde confirmou no dia 17 de março de 2020, o primeiro caso de Dengue em União da Vitória, de uma moradora do Distrito de São Cristóvão. A paciente de 43 anos já está curada. Uma residência próxima ao endereço dela tinha o mosquito da dengue. O foco já foi eliminado.


Doa lado catarinense 

A rotina pode até parecer fácil, porém envolve muita disposição; afinal são horas e horas de caminhadas, diálogo e olhares atentos por todo o local que possa se tornar um criadouro do mosquito da dengue.

A Supervisora da Vigilância Ambiental de Porto União, Patrícia Przybys, há um ano, divide a rotina com outros agentes de endemias, que são profissionais capacitados para vistoriar residências, depósitos, terrenos baldios e estabelecimentos comerciais para buscar focos do mosquito.

Patrícia Przybys
Supervisora de Vigilância Ambiental de Porto União, Patrícia Przybys

Segundo ela, as visitas acontecem diariamente e percorrem todas as residências de Porto União. O trabalho começa às 8h e se estende até as 17h, com pausa para o almoço, sendo de segunda a sexta-feira. Aos sábados, as visitam também acontecem.

“Visitamos os imóveis que estavam fechados durante a semana”, diz. 

Além das atividades de campo, o principal foco dos agentes são os relatórios internos.

As visitas domiciliares não têm caráter punitivo; existe a soma de esforços com os moradores para evitar os depósitos de água parada, que é local preferido das larvas do mosquito.

Porto União conta com oito agentes de endemias
Porto União conta com oito agentes de endemias

“Os recipientes que podem ser esvaziados, são eliminados pelos próprios agentes, os demais, como bebedouros de animais, calhas e piscinas, os moradores são orientados em como proceder”, explica.


Armadilhas

Além das visitas domiciliares, os agentes de endemias também são responsáveis por vistoriar as armadilhas instaladas em pontos estratégicos do município, que servem para monitorar o nível de infestação do mosquito.

As armadilhas utilizam um pedaço de pneu com água acumulada que são vistoriados a cada sete dias. A maioria das armadilhas estão localizadas em empresas, mas algumas ficam em residências estratégicas também.

Além das armadilhas, os locais com maior probabilidade de apresentar água parada, como as borracharias, ferros velhos, oficinas com sucatas, entre outros, são vistoriados a cada 14 dias, considerado o ciclo completo do mosquito (ovos, larva, pupa e mosquito adulto). As visitas aos cemitérios também são frequentes.

O ciclo de vida completo de desenvolvimento do mosquito é de sete a dez dias, por isso as armadilhas são vistoriadas semanalmente. 

Reprodução
Reprodução

Larvas

Quando as larvas são encontradas elas passam por uma análise microscópica para confirmar se é ou não do Aedes. Se o resultado for positivo, é feito uma revisão em um raio de 50 metros para tentar localizar outros criadouros ou a origem daquele foco.


LIRAa

Duas vezes por ano, é realizado também o Levantamento de Índice Rápido do Aedes Aegypti (LIRAa), que serve para medir o nível de infestação predial do mosquito nas residências, comércios, terrenos baldios, entre outros. De modo geral, são contabilizados os focos em armadilhas e pontos estratégicos também.

Em Porto União o LIRAa é feito em março e em novembro. No ano passado, o município estava com nível de infestação alto.

Neste ano, com o levantamento feito no mês de março, o nível apresentado é o médio. Para a agente de endemia, o cuidado extra da população fez com o índice baixasse.

A cidade de Porto União é considerada hoje infestada pelo mosquito, ou seja, quase todos os bairros possuem focos – exceto a Área Industrial, interior e a localidade do Pintado.

“Por isso, o monitoramento com as armadilhas é constante e em qualquer alteração os agentes entram em ação como soldados”.


Durante a pandemia

As visitas aos imóveis foram alteradas em razão da pandemia, porém o trabalho continua.

“Estamos sempre orientando à população, ou pelo telefone ou redes sociais”, lembra a agente.


A cada visita, uma história

Nem tudo é flores.

De acordo com a agente, alguns moradores ficam receosos em receber os profissionais da saúde em suas casas. Porém têm aqueles que anotam tudo, agradecem a visita e são cooperativos.

Além do bate papo, orientações e muita caminhada o trabalho já rendeu várias gargalhadas.

“São cachorros que pulam em nós, que fazem xixi nas botas, piadinhas, mas a receptividade em geral é positiva. Durante a pandemia as inspeções ficaram suspensas e até teve morador sentindo falta de nossas vistorias”.


Primeiro caso de dengue

A Vigilância Epidemiológica de Porto União notificou o primeiro caso importado de Dengue no município no dia 3 de fevereiro deste ano. O paciente que buscou atendimento no dia 26 de janeiro foi classificado como suspeito e o diagnóstico confirmado por exame laboratorial. É um caso importado, pois o paciente estava em outro município onde há circulação do vírus e chegou em Porto União com a doença.


Dengue

É uma doença febril grave causada por um arbovírus.

Arbovírus são vírus transmitidos por picadas de insetos, especialmente os mosquitos. A dengue é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Após picar uma pessoa infectada com um dos quatro sorotipos do vírus, a fêmea pode transmitir o vírus para outras pessoas. Há registro de transmissão por transfusão sanguínea.

Ele é menor do que os mosquitos comuns, é preto com listras brancas no tronco, na cabeça e nas pernas.
Ele é menor do que os mosquitos comuns, é preto com listras brancas no tronco, na cabeça e nas pernas.

Sintomas da Dengue

Febre alta > 38.5ºC

Dores musculares intensas

Dor ao movimentar os olhos

Mal estar

Falta de apetite

Dor de cabeça

Manchas vermelhas no corpo.


Como é feito o tratamento da dengue?

Não existe tratamento específico para a dengue. Em caso de suspeita é fundamental procurar um profissional de saúde para o correto diagnóstico. A assistência em saúde é feita para aliviar os sintomas. Estão entre as formas de tratamento:

fazer repouso;

ingerir bastante líquido (água);

não tomar medicamentos por conta própria;

a hidratação pode ser por via oral (ingestação de líquidos pela boca) ou por via intravenosa (com uso de soro, por exemplo);

o tratamento é feito de forma sintomática, sempre de acordo com avaliação do profissional de saúde, conforme cada caso.


Lembrete

Evite que a água de chuva fique acumula sobre lajes e calhas.

Por isso, recomenda-se guardar garrafas sempre de cabeça para baixo, encher até a borda os pratinhos dos vasos de plantas e eliminar adequadamente o lixo que possa armazenar água, como pneus velhos, latas, recipientes plásticos, tampas de garrafas e copos descartáveis.


DADOS

Paraná

A Secretaria de Estado da Saúde divulgou o Informe Dengue nesta terça-feira, 2, com dados da doença. O período de monitoramento da dengue tem início em julho e pela curva epidêmica, a partir do mês atual, a tendência é de queda de casos. Por esse motivo, desde o último boletim publicado, em 19 de maio, a periodicidade do documento voltará a ser quinzenal, como já ocorreu em anos anteriores.

O total de casos confirmados de dengue é de cerca de 199 mil, referente ao período epidemiológico iniciado em 28 de julho de 2019 até o sábado, 30 de maio. Foram incluídos 18.650 novos casos entre o último boletim e o divulgado nesta terça-feira, com uma diferença, portanto de 15 dias desde a última publicação. Há casos em 343 municípios do Paraná, sendo que 237 estão em epidemia.


Santa Catarina

2020 é o ano com mais casos de dengue em Santa Catarina.

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Dive (Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina), a transmissão da dengue já ocorreu em 46 municípios catarinenses. Entre 29 de dezembro de 2019 e 23 de maio de 2020, foram confirmados 5.228 casos, o que representa aumento de 261,3%, uma vez que o registro no mesmo período anterior foi de 1.447. Apenas no intervalo entre os dias 16 e 23 de maio deste ano, o aumento foi de 627 casos.