Xanxerê registra terceira morte de paciente à espera de UTI em 6 horas

Município que tem 51,6 habitantes decretou estado de calamidade pública e tem 21 pessoas esperando leitos de UTI

·
Atualizado há 3 anos

Em um espaço de sete horas, três pessoas morreram em Xanxerê, no Oeste catarinense, esperando uma vaga na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

Além das duas vítimas durante a madrugada, a prefeitura da cidade divulgou um terceiro óbito na manhã desta sexta-feira (26), por volta das 9h30. Na cidade, 21 pessoas esperam por vagas de UTI e duas, de enfermaria.

hospital-sao-paulo-xanxere
Pacientes na emergência do Hospital Regional São Paulo, em Xanxerê, aguardam leitos — Foto: Ana Lucietto/HRSP/Divulgação

A última vítima é um homem de 60 anos que não tinha comorbidades. Ele estava internado desde segunda-feira (22) no Hospital Regional São Paulo (HSP), onde aguardava um leito de UTI na própria unidade hospitalar ou transferência para outro local.

Com a morte dos três pacientes na fila de espera e no mesmo hospital, Xanxerê contabiliza 65 óbitos pela Covid-19, segundo dados da secretaria municipal de saúde. Já o Estado, contabilizava até o boletim da noite de quinta-feira (25), 56 mortes na cidade. Xanxerê, que tem 51,6 habitantes, decretou estado de calamidade pública por 180 dias.

Na quinta-feira (25), um ambulatório de campanha começou a funcionar na cidade com 25 leitos para tratar pacientes com Covid-19. Segundo o município, são 1.034 casos ativos na cidade e um total de 6.547 pessoas já diagnosticadas com a doença pelos dados municipais. Já o Estado contabiliza 5.740 diagnosticados e metade de casos ativos.

 O primeiro óbito foi registrado por volta das 3h30. O homem possuía comorbidades e estava internado desde o dia 20 de fevereiro na emergência. A outra vítima, também com comorbidades, morreu por volta das 4h30. Ela estava internada desde o dia 23 de fevereiro. Segundo a prefeitura, os dois esperavam vaga desde o dia da internação.

Sobre a diferença dos números contabilizados entre prefeitura e Estado, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive) informou que podem ocorrer possíveis atrasos na atualização se algumas notificações demorarem para serem validadas e que todas as informações são alimentadas pelos serviços de Saúde, Vigilâncias Epidemiológicas das cidades e consolidados na plataforma de governo.


Relação entre falta de UTI e mortes

Médico e coordenador do setor de emergência e o da UTI-Covid na unidade, Vinicius Chies de Moraes, explica que existe relação direta entre espera por leito e mortalidade. Segundo ele, por mais que a instituição tenha uma boa estrutura física e de pessoal no setor emergência, quando o número de pacientes excede a capacidade, o reflexo é o agravamento no quadro clínico dos pacientes.

“Infelizmente, quanto mais tempo um paciente aguarda por leito de UTI certamente suas chances de sobreviver diminuem. Está é uma realidade não exclusiva do Hospital Regional São Paulo, mas sim de todo hospital em superlotação”, disse.

Vinte e uma pessoas aguardam leitos de UTI e dois pacientes esperam por vaga de enfermaria, conforme o último boletim divulgado pelo hospital na manhã desta sexta-feira (26).

A unidade de saúde está com 100% dos leitos ocupados. No HSP, 20 pessoas estão internada na UTI, sendo 19 com confirmação da doença e uma com suspeita. Na ala de enfermaria, todas as oito camas estão sendo usadas para pacientes com Covid-19.


Isolamento é a solução, defende especialista

Mestre em Saúde Pública e ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lúcio Botelho explica que para diminuir o colapso dos hospitais é necessário isolamento social e frear a transmissão do vírus. Por isso, o especialista acredita que a discussão precisa estar nas medidas para afastar a população dos hospitais.

“Se chegar a necessidade da UTI nesse momento que a gente está vivendo, vai começar a morrer em grande quantidade nas portas de hospital. Nós só vamos começar a resolver esse problema de UTI se nós pararmos de botar gente chegando no hospital”, afirmou.

Segundo Botelho, a liberação de atividades sem fiscalização rígida e retorno das aulas presenciais deve ser revisada e adiada até que a pandemia esteja controlada.

Além disso, o pesquisador reforça o uso de máscara usada corretamente, cobrindo boca e nariz, higiene das mãos, ventilação dos ambientes e foco na ciência.


Colapso

O município de Xanxerê, assim como a maior parte das cidades catarinenses, enfrenta o aumento de casos da Covid-19, com hospitais em situações próximas de colapso por falta de leitos. O estado registrou 657.649 casos confirmados desde o início da pandemia, com 7.165 mortes. O governo do estado assumiu que vive um colapso na saúde por causa do coronavírus.