FÉ: Com as bênçãos dos orixás

Na dança das conchas, búzios apontam respostas sobre o futuro

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Atualizado há 5 anos

carimbo-especial-feEle fala algumas palavras inaudíveis. Segura nas mãos, as conchas encontradas apenas no litoral da Angola, na África. Em segundos, lança as pedras dentro de um círculo de contas coloridas. Em seguida, vem a leitura das pedras: dependendo de como elas saltam das mãos para a mesa, em uma dança embalada pelo batuque dos tambores que tocam em um CD, ao fundo, as respostas veem. São os búzios, mostrando a quem os procura, as respostas sobre o futuro.

Em União da Vitória, Luiz Carlos de Lara lê o futuro a partir dos búzios. Já são dez anos assim. Em um dos cômodos de sua casa, recebe homens, mulheres, jovens e idosos, ansiosos para tomar decisões assertivas ou para saber se o amor vai “engatar”, se vai receber aumento de salário, se o filho terá sucesso na carreira. “Através do jogo dos búzios, vem a reposta, um encaminhamento. Não é algo preciso, é um caminho. É uma luz. As pessoas vêm pelo desespero muitas vezes para fortalecer a vida deles”, explica.

Lara trabalha com a leitura dos búzios há cerca de dez anos (Fotos: Mariana Honesko).
Lara trabalha com a leitura dos búzios há cerca de dez anos (Fotos: Mariana Honesko).

O ritual conta com a “participação” dos orixás, figuras comuns na igreja católica. “Oxalá é Jesus Cristo; Oxum, Nossa Senhora da Conceição; Iansã, Santa Bárbara, Xangô, São Jerônimo. Cada um tem seus elementos e comando um lugar”, conta.

Lara não conversa com seu “cliente” antes da consulta: prefere acertar as respostas lá dentro, na sala de leitura dos búzios. Em torno da mesa, figuras de Santos, porém, com “pegadas” do candomblé, decoram o ambiente. Velas, alimentos e flores, compõe o visual. Sobre a mesa, a pedra Dara, colhida do fundo de uma cachoeira, abre os trabalhos. “Essa pedra transmite os orixás e é isso que eu vejo”, diz o médium.

“Através do jogo dos búzios, vem a reposta, um encaminhamento. Não é algo preciso, é um caminho. É uma luz”

Apesar de apenas “ler” os búzios há uma década, Lara carrega desde o berço a vocação para essa versão espiritual. O dom veio de lá, literalmente. A mãe de Lara era kardecista e esse aspecto, foi importante para o médium descobrir seu caminho. “Sempre fui curioso. Conheci a Umbanda e o Candomblé, me preparei para ter essa força”. E mesmo com a mesa no “quintal” de casa, Lara não joga os búzios para si. Quando precisa de uma força espiritual, recorre às cartas, por exemplo, lidas por alguém de sua confiança.

Na mesa, posição das conchas define as respostas
Na mesa, posição das conchas define as respostas
Quase um confessionário

Lara está longe de ser um padre, mas o perfil de discrição é igual. Por isso, ele garante: o que é dito em sua sala, por ele, pelos búzios ou pelo “cliente”, morre aí.

Na verdade, o médium garante que sequer teria condições de passar uma informação adiante: ora pela falta de ética, ora pela “limpeza” mental natural que lhe acontece após os atendimentos. “Aqui é um ambiente democrático. Vem homem, mulher, jovem, pessoas de várias religiões. Tudo que escuto aqui, fica aqui. Já tem uma preparação para que tudo isso seja limpo de dentro da gente”, afirma.

Dinâmica de jogo

O jogo de búzios tem origem africana. A crença e o modelo se espalharam pelo mundo, atraindo adeptos. Existem muitos métodos de jogo: o mais comum, envolve o arremesso de um conjunto de 16 búzios (o número também pode variar) sobre a mesa e na análise da configuração que os búzios deixam ao cair sobre ela.

O médium, reza e saúda todos os Orixás e durante os arremessos, conversa com as divindades e a eles, faz as perguntas. A crença é de que são exatamente essas divindades que afetam o modo como os búzios se espalham pela mesa, dando as respostas às dúvidas que lhes são colocadas.