Pandemia encarece custos e Maria Fumaça retorna ao Vale do Iguaçu

Locomotiva não será mais restaurada em Rio Negrinho. Conclusão dos trabalhos deve acontecer ainda este ano

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Atualizado há 3 anos

Em 10 de fevereiro deste ano, a locomotiva 310, a famosa Maria Fumaça, retornou ao Vale do Iguaçu. Desde então, surgiram questionamentos sobre a real situação da máquina e a expectativa para o turismo ferroviário no Vale do Iguaçu.

A reportagem conversou com o empresário de Porto União, Élio Weber, também integrante do Projeto Trem das Etnias e do Instituto Cultural Grünenwald, sobre o andamento das ações junto a locomotiva, vagões e os trilhos. Citou que uma das premissas da iniciativa privada é a transparência, e lembrou que a comunidade pode acompanhar in loco o seu processo de recuperação.

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Chegada da Maria Fumaça no Vale do Iguaçu no dia 10 de fevereiro; empresários no pátio da Mecânica Scheffer | Foto: Projeto Trem das Etnias

De acordo com Élio, em janeiro do ano passado, a locomotiva deixou Porto União e partiu para Rio Negrinho (SC), em razão de um contrato firmado entre a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária de Santa Catarina (ABPF) e dos empresários que fazem parte do Trem das Etnias e do Instituto Cultural Grünenwald, que contemplam ações separadas, porém planejadas em conjunto para que a locomotiva retorne aos trilhos.

Neste período, conta Élio, teve pedido para prorrogação do prazo para restauração da locomotiva junto a ABPF, porém não houve um andamento efetivo do trabalho em razão da pandemia da Covid-19.

Juntamente do ‘baque’ sanitário, explica Élio, vieram outras dificuldades, como o encarecimento do preço do aço, do ferro e da mão de obra.

“Muitas coisas mudaram o andamento do projeto. A pandemia parou algumas das atividades da ABPF, e nesse período fomos lá (os empresários) para conversar com os seus representantes novamente e pedir um empenho maior com o patrimônio aqui da cidade. Sentamos para conversar por várias vezes e chegamos ao consenso de que não teríamos um novo acordo com a empresa e, que traríamos a locomotiva de volta para Porto União. Até que ela retornasse, fomos preparando tudo por aqui, conversando com empresários locais, com mecânicos e diversas pessoas que trabalharam na antiga rede ferroviária com locomotivas”, compartilha.

Foi então que o grupo formado por 30 empresários do Vale do Iguaçu, entendeu pela manutenção da locomotiva nas suas cidades de origem, com a oferta da mão de obra local, gerenciamento e supervisão dos trabalhos frequentemente.

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Desmontagem da locomotiva | Foto: Projeto Trem das Etnias

O primeiro passo, foi a locação de um barracão para abrigar a locomotiva, que neste caso aconteceu em uma parceria com a empresa Scheffer Máquinas de União da Vitória. Em seguida, ocorreu a contratação de funcionários do projeto Trem das Etnias, como mecânicos, serventes, e outros; o mesmo já vem acontecendo com a manutenção dos vagões, neste caso na Mecanica Kalichak, em Porto União, cujo serviço na parte metal foi concluída, seguindo agora para a parte mecânica e acabamento.

“O mais interessante em tudo isso é que a reforma geral da locomotiva também vai contar com a supervisão e opinião do senhor Ilário Scheffer, de 84 anos, com notória experiência na indústria da madeira local. O que eu posso assegurar é que vamos resolver o problema, ou seja, a recuperação da locomotiva e vagões aqui mesmo”, acrescentou Élio.

A ideia do projeto já é antiga, sendo pensada desde 2009 e, que contou com um estudo de viabilidade técnica para a sua execução. O projeto, porém, só foi iniciado em 2019, com a primeira etapa da retirada dos vagões da Estação União, do tender (vagão-reboque) e da cabine, que já estão sendo recuperados em Porto União.


Orçamento atual?

O projeto foi orçado inicialmente em R$ 1,7 milhão. Segundo o empresário, o valor saltou no ano passado para R$ 2,4 milhões e, em 2021 está orçado em R$ 3 milhões.

“O montante ainda pode sofrer alterações, a depender do valor do dólar e do aço, que será bastante utilizado. Estamos firmes e fortes para que o projeto aconteça”.

Élio citou ainda que o preço do aço, por exemplo, subiu cerca de três vezes o valor inicial orçado no início do projeto, ou seja, de R$ 11 mil foi para R$ 34 mil reais.

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Separação da Caldeira do restante da máquina | Foto: Projeto Trem das Etnias

Lembra o empresário, que a Maria Fumaça necessitou ser desmontada em fevereiro.

“A boa notícia foi que em 2 de abril já passamos a remontá-la”

A intenção dos empresários locais é que o projeto saia do papel ainda esse ano, com expectativa de apresentação à comunidade no mês de outubro.


Gastos em Rio Negrinho?

Segundo Élio, o orçamento ficou comprometido apenas com o transporte da Maria Fumaça na ida à Rio Negrinho e o retorno à Porto União, o que ficou em torno de R$ 16 mil reais.

“Posso assegurar que neste período aprendemos muita coisa e que não foi de todo ruim essa ida da locomotiva até lá, pois a ABPF valoriza as ferrovias e os ferroviários da região. Além disso, ganhamos em conhecimento”.


Porque escolha pela ABPF?

Primeiramente, de acordo com Élio, o projeto foi pensando para ser executado em uma parceria com os empresários locais, pois muitos conhecem a locomotiva desde a infância e a sua importância cultural.

“Na época não tivemos acerto com os empresários locais, porque a maioria não quis. Essa é a grande verdade. Justificaram que a Maria Fumaça é a menina dos olhos do Vale do Iguaçu e alegaram ser uma responsabilidade muito grande sua recuperação. Mas agora, novamente fui atrás dos empresários, um a um, e desta vez encontramos parceiros”.

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Desmontagem da locomotiva | Foto: Projeto Trem das Etnias

Iniciativa pública, há interesse?

Élio garante que o projeto contempla, não apenas a recuperação da Maria Fumaça e vagões, mas também os trilhos. Disse que pretende em breve conversar com o prefeito de União da Vitória, Bachir Abbas, e com o prefeito de Porto Uniao, Eliseu Mibach, para apresentar projetos a serem implantados na área da cultura e turismo das cidades.


Projeto de recuperação dos trilhos

A limpeza dos trilhos vem acontecendo da Estação União até a localidade do Stenguel e também é movido pela iniciativa privada. Élio lembra que o serviço está praticamente concluído; dos 17 quilômetros, 11 já estão prontos, contando agora apenas com a manutenção nos locais. A intenção também é requisitar suporte da administração municipal junto com o departamento de trânsito, para que auxilie com a sinalização dos entroncamentos para uma passagem segura da locomotiva, assim que retomarem os passeios.

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Limpeza dos trajetos e dos trilhos até a localidade do Stenguel | Foto: Projeto Trem das Etnias

O Instituto Cultural Grünenwald de Porto União pretende fazer um trabalho social com os moradores da localidade do Stenghel, em especial com as famílias que moram naquela região e, que atualmente vivem em vulnerabilidade social. Está sendo feito um cadastro das famílias e a intenção é buscar uma parceria com a prefeitura para ceder uma assistente social para atender aos moradores.


Vistoria técnica da ferrovia

Élio explica que este serviço é executado pela Rumo Malha Sul S.A., que pertence à Rede Ferroviária Federal. Outras vistorias técnicas já aconteceram no Vale do Iguaçu pela concessionária, como foi o caso de dois túneis e de uma ponte na localidade do Stenguel.

“Especialistas já vieram aqui e testaram o percurso; disseram que estavam em boas condições”.

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Compartimento traseiro da locomotiva, chamado “tender” | Foto: Projeto Trem das Etnias

Além disso, os funcionários contratos pelo projeto Trem das Etnias necessitaram de treinamentos da própria Rumo Malha Sul sobre a ferrovia, locomotiva e o uso de materiais de segurança para executar o serviço. A ferrovia da região não é de carga, mas sim de passeio, por isso requer um treinamento diferenciado.


Locomotiva 310

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Construída nos Estados Unidos em 1913, a locomotiva é uma das poucas máquinas a vapor existentes no Brasil. Sua caldeira é tocada a lenha e o estoque de água e madeira fica no compartimento traseiro, chamado “tender”. A 310 fazia principalmente o trecho entre Porto União, União da Vitória e o porto de São Francisco do Sul. Em 1977, deixou a ferrovia para fazer parte da paisagem da Praça Visconde de Nácar, onde ficou exposta por 28 anos em homenagem aos ferroviários e a ferrovia, que tornaram União da Vitória a quarta maior economia do Paraná no início do século XX.

* Saiba mais no endereço eletrônico visiteuniao.com.br