Moedinhas? Só no cofrinho

Lojistas oferecem até brindes e descontos para quem trocar moedas

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Atualizado há 4 anos

moedas-cofrinho-economiaSegundo os comerciantes do Vale do Iguaçu, há cerca de dois anos o deserto de moedas é uma constante do cotidiano. Na hora do troco, o apuro fica evidente, especialmente quando os valores de cinco e dez centavos são necessários. Mas, onde estão as moedas?

“Nos cofres”, apostam os lojistas ouvidos pela reportagem. Escassas, as moedinhas são populares nas casas onde tem criança, baixinhos que, estimulados pelos pais e avós, vão guardando no ‘porquinho’, rumo à um Natal farto ou ao aniversário que se aproxima.

Informalmente, a reportagem descobriu que tem gente grande nesse meio, que praticamente nada no dinheiro, ao melhor estilo Tio Patinhas, garantindo com milhares de niqueis, viajar pelo País afora ou comprar aquele produto tão caro e desejado.

Os comerciantes reclamam, afinal, com tantos valores ‘quebrados’, como devolver os centavinhos aos clientes? “Está faltando moeda. A moeda simplesmente saiu de circulação. Arredondo para baixo, dou desconto, para poder vender”, comenta a comerciante, Patrícia Ruaro Fronczak.

Comerciante em um quiosque, Terezinha Aparecida trabalha diariamente com o caixa com poucas moedas. Todos os dias, uma das atribuições do dia é reunir o máximo de moedas possível com os colegas da classe e amigos, para garantir o troco dos clientes. “Junto para o dia. Estamos sempre cercando os conhecidos para conseguir os trocadinhos. Percebo a falta há mais de anos já e cada vez mais, parece que piora”.

A fotógrafa Valdirene Budal precisou arredondar o valor da foto para poder negociar – e dar troco. De noventa e cinco centavos, a alteração foi para R$ 1. “Faltavam os cinco centavos e agora falta moeda de R$ 1”, ri, levando a dificuldade do troco com bom humor.

Está faltando moeda até para pagar o tempo de uso no estacionamento rotativo. Em União da Vitória, por exemplo, os recém instalados parquímetros recebem poucos niqueis. Conforme o supervisor, Edvan Germano, da empresa Zona Azul, empresa que explora o serviço na cidade, a compra acontece na maioria das situações, com cartão de crédito.

“É possível comprar ali com moedas de 5, 10, 25, 50 e moedas de um real. Fazemos o recolhimento das moedas duas vezes por semana e a adesão com moedas é baixa. As pessoas usam mesmo com cartão”, confirma.

De fato, as moedas viraram artigo de luxo. No entanto, o cofrinho caseiro não é o único responsável pelo sumiço. “O Banco Central estima que um terço das moedas está fora de circulação”, aponta o diretor de Relações Públicas da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Thiago Iwanko. “Outro motivo é que para produzir moedas, sai caro. Por exemplo, para produzir a moeda de cinco centavos, custa trinta centavos. Visto assim, como a casa da moeda é uma estatal, precisa arcar com custas elevada de uma empresa pública”.

Estima-se que existam hoje, em circulação, 24,8 bilhões de unidades de moedas ou R$ 6,27 bilhões em valor, o que corresponde a uma disponibilidade de R$ 30 em moedas por pessoa e 119 unidades por habitante.

Na ânsia de conseguir troco, os comerciantes chegam a apelar: pedem para amigos, vizinhos e até para os moradores e artistas de rua, que recebem donativos em niqueis. Ainda, há empresários dando desconto em compras e refeições, além de brindes. Na tentativa de literalmente monetizar tudo isso, aplicativos aparecem como soluções.

A rede Superpão é um exemplo. “Moeda é um item raro para encontramos. As pessoas guardam em seus cofrinhos ou até largam em carros, gavetas. Já tivemos ações de dar brindes para o cliente, mas não estava funcionando. Decidimos usar o aplicativo Troco Simples. O cliente só precisa destinar os centavinhos digitando o CPF. A partir disso, ele está cadastrado e para movimentar o dinheiro, ele baixa o aplicativo”, explica o gerente do supermercado da rua Prudente de Morais, Jair Ilkiv. A partir dessa poupança virtual, o cliente pode doar os centavos, transferir para as contas bancárias dele, entre usuários do aplicativo e dependendo do valor, até pagar uma compra. “É o cofrinho digital dele”, simplifica. O modelo tem um mês de uso.

Embora muita gente não goste de carregar moedas, esse costume prejudica a circulação delas na economia.