Nossa reportagem acompanhou o desenrolar do processo licitatório municipal cujos detalhes revelam senão o maior, um dos maiores e mais robustos projetos de investimento privado a ser realizado no Vale do Iguaçu; com capacidade de elevar União da Vitória ao posto de 23ª maior economia do estado.
O processo desvela a iniciativa encabeçada pelos empresários Luciano Ravanello e José Nelson Dissenha Neto que pretendem fabricar e comercializar biodiesel derivado de gorduras animais e vegetais, em uma planta industrial ainda a ser construída na região conhecida como “invernadinha” que tem mais de 750 mil m2 de área total.
A empresa iniciada em dezembro de 2019, Ravanello & Dissenha Biodiesel Ltda ou apenas RD BIO é uma sociedade entre as famílias Ravanello e Dissenha, ambas tradicionais e com histórico empresarial importante nas áreas de combustíveis, reflorestamento, agricultura energia elétrica, utensílios domésticos, entre outros.
A gigante RD BIO projeta obter até 34% da fatia do mercado de biodiesel paranaense, dividindo o mercado com as operações das empresas Potencial (Lapa) e BSBIOS (Marialva). Estas projeções colocariam a empresa com aproximadamente 10% do mercado da região sul considerando os três estados, onde competem além das duas empresas paranaenses outras dez empresas; além de representar algo próximo de 5% do mercado nacional.
Para o avanço do projeto foi necessária a doação feita com encargos da área destinada ao empreendimento, de pouco menos de 180 mil m2, licitada pela Prefeitura de União da Vitória e, já chancelada, em maio deste ano, pela Comissão Especial de Planejamento, Implantação e Acompanhamento Industrial.
O projeto vencedor da licitação prevê a geração de aproximadamente 100 empregos diretos e cerca de outros 2 mil indiretos. São esperados 110 mil m2 de edificações e ruas, 30 mil m2 de estacionamentos para caminhões e outros veículos, além da reserva de outros 40 mil m2 para expansões e aumentos de produtividade.
Os números projetados no certame não são impressionantes apenas nas informações sobre a infraestrutura. A expectativa de arrecadação do Imposto Sobre Arrecadação de Mercadorias e Serviços (ICMS) a partir da atividade plena fica na casa de R$ 1 milhão de reais por mês com um faturamento mensal estimado em torno de R$ 100 milhões. A matéria prima necessária para o processo produtivo deve vir de fora da região, porém o cavaco utilizado para abastecer a caldeira poderá ser todo ele adquirido regionalmente.
O investimento total, segundo o projeto vencedor deve ser de aproximadamente R$ 235 milhões dos quais R$ 160 apenas em máquinas, equipamentos e instalações. Para tanto os grupos buscam acessar paralelamente um financiamento de outros R$ 180 milhões com condições especiais devido ao porte do investimento.
A instalação da empresa aproximaria a cidade de indústrias de ponta e contribuiria pesadamente para a diversificação da matriz produtiva da região, além de ampliar o rol de empresas de alta tecnologia e o fornecimento de energias renováveis no município.
Segundo o projeto, a planta poderia consumir até 34 mil toneladas de Metanol e 10.500 megaWats de energia elétrica por ano, que seriam capazes de produzir 900 toneladas por dia de biodiesel e outras 150 toneladas de glicerina bruta.
O estudo de impacto socioambiental não foi apresentado e ainda deve ser feito. O resultado deve determinar quais medidas compensatórias e mitigatórias de fatores eventualmente prejudiciais deverão ser adotados. Mesmo assim os grupos associados na defesa de sua posição como investidores, repisam o trabalho já executado por suas atuais empresas, entre os quais a preservação do que chamam de maior remanescente brasileiro de araucária e imbuia, outros 1,3 mil hectares de unidades de conservação, utilização de madeira de reflorestamento nos processos produtivos atuais, utilização de água da chuva e energia solar, entre outros.
Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o Produto Interno Bruto de União da Vitória em 2017, foi de aproximadamente R$ 1,53 bilhão.
O resultado da operação da planta industrial, segundo a licitação poderia representar um acréscimo de aproximadamente 75% ao valor, o que elevaria o PIB para algo próximo de R$ 2,70 bilhão saltando 13 posições no ranking que atualmente a posiciona como a 36ª.
O que é o biodiesel?
É um biocombustível líquido que substitui o uso de combustíveis fósseis, sendo considerado uma fonte de energia renovável.
Sua produção acontece a partir de fontes vegetais ou animais. É um produto natural e biodegradável que apresenta baixo teor poluente. Com isso, é uma alternativa para substituir os combustíveis poluentes como os derivados do petróleo.
É usado essencialmente na área dos transportes substituindo o óleo diesel um dos combustíveis mais poluentes, em automóveis, caminhões e tratores.
O biodiesel é usado na geração de eletricidade e calor, em razão dos biocombustíveis serem produzidos através da energia da biomassa. Também são considerados exemplos de biocombustíveis, o biogás e o bioetanol.
Como é produzido
O biodiesel é produzido em um catalisador em um processo chamado de transesterificação. O processo envolve a mistura de óleo vegetal ou gordura animal em metanol ou etanol.
Sua composição acontece por ésteres e óleos de origem vegetal, como o óleo de girassol, soja, canola, mamona, algodão, entre outros.
Benefícios
- Reduz a emissão de gases poluentes
- Diminuição do efeito estufa e da poluição atmosférica
- Fonte de energia renovável, considerada uma forma de energia limpa
- Substitui o uso de combustíveis fósseis
- Aumenta vida útil dos motores
- Facilidade de armazenamento e transporte
- Geração de emprego e renda
- Menores custos que o petróleo (alternativa econômica)
- Baixo risco de explosão
- Não é tóxico, nem corrosivo
No Paraná
Os dados pesquisados são diferentes.
Segundo o painel dinâmico da Agencia Nacional do Petróleo (ANP), responsável oficial pelo setor de combustíveis nacional, o Paraná possui apenas duas usinas conforme as citadas no processo licitatório. Já as informações atualizadas pelo site Biodieselbr apontam que o estado do Paraná conta com quatro unidades de biodiesel em operação. A Big Frango e Biopar PR, ambas na cidade de Rolândia, BS Bios em Marialva e a Potencial na cidade da Lapa.
Em Santa Catarina
Segundo a ANP, a ADM SC instalada em Joaçaba é a única unidade de biodiesel em operação no Estado de Santa Catarina até o momento.
Mafra deve receber uma estrutura de 76 mil metros quadrados, e capacidade de produção de aproximadamente 1 milhão de litros de biodiesel por dia até o fim de 2021. Com um investimento de R$ 180 milhões por meio da Seara Alimentos, a JBS está construindo uma nova fábrica de biodiesel.
Segundo a empresa, estão sendo gerados aproximadamente 400 empregos na construção do empreendimento. A operação da unidade tem previsão de gerar 100 novos postos de trabalho diretos e em torno de 300 indiretos.
No Brasil
O país é um dos maiores produtores e consumidores de biodiesel do mundo. No momento, a maior parte do biodiesel produzido pelo Brasil é oriundo da soja.
Desde 2008 é obrigatório no Brasil o uso de biodiesel. O teor de mistura com o diesel fóssil evoluiu desde então de 2% a 10%. Entrou em vigor em 2018, em cumprimento à Lei 13.263/2016, a adição de 10% de biodiesel ao diesel fóssil.
O uso de biodiesel tem previsão de avançar no mínimo 1% ao ano até 2023 segundo a legislação brasileira.