Celular na escola, certo ou errado?

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Atualizado há 2 meses

Nada de celulares nas escolas. Essa é a norma imposta pelo governo da cidade do Rio de Janeiro, que proíbe que alunos utilizem os aparelhos mesmo durante o intervalo. A medida foi tomada após aprovação em consulta pública.

Em 2023, o município já havia proibido o uso de celulares em sala de aula, e agora estendeu o embargo para todo o ambiente escolar visando incentivar a interação e convivência dos alunos entre si. A exceção é o uso para fins pedagógicos, quando aprovado pelo professor.

Parte corriqueira do nosso dia a dia, o uso de celulares tem sido desencorajado no ambiente escolar, mas sem abrir mão dos benefícios da tecnologia.

Em Porto União, a secretária de Educação, Aldair Muncinelli, relata que nas escolas do município, segundo o regimento escolar, é vedado ao aluno o uso de objetos que emitam sons que possam perturbar o ambiente, incluso nessa lista os celulares, exceto quando solicitado o uso para interesse coletivo. 

“Ressaltando que, caso o objeto seja retido, o mesmo só será devolvido aos pais ou responsáveis. Na realidade, para os alunos de quinto ao nono nós compramos tablets que são usados na sala de aula quando o professor solicita em qualquer disciplina. Mas, se a pergunta era sobre o uso do celular indiscriminadamente, realmente isso não pode acontecer, porque o professor está ali, fez seu planejamento, preparou sua aula e o aluno precisa prestar atenção para aprender”.

Em União da Vitória, a indicação é semelhante. Segundo o secretário de Educação, Ricardo Brugnago, o uso de celular para fins não pedagógicos é proibido no ambiente escolar para que os alunos possam manter a concentração.

Também destaca que o município fornece tablets para todos os alunos, o que gera isonomia na questão do acesso à tecnologia em ambiente escolar, visto que, independente da condição financeira familiar, todos os estudantes da rede municipal utilizam o mesmo tipo de aparelho.

“Esses tablets visam, naquele momento apropriado de aprendizagem, gerar a integração, possibilitando também que todos os alunos, indiferente daquele que possui ou não um meio tecnológico, tenham tablet do primeiro ao quinto ano de maneira gratuita dentro das nossas escolas. E, nesse sentido, os professores também com seus chromebooks conseguem fazer um acompanhamento aliando a tecnologia ao processo de ensino-aprendizagem. Então nós destacamos aqui que os meios tecnológicos podem e devem ser utilizados, mas de maneira pedagógica. Nesse sentido cabe, portanto, estarmos enaltecendo a proatividade, o trabalho, o comprometimento dos nossos professores em ter tablets como seus aliados. Mas, mais uma vez, celulares, esse sim com uma restrição muito maior. De preferência não levem celular para a escola, haja visto a segurança, todas essas questões. A gente prefere e orienta aos nossos alunos e alunas para que não levem seus celulares às nossas instituições escolares. Levem, sim, seus tablets sempre que o professor pedir, e aproveitem o lado humano da escola, a socialização, a conversa, o intervalo e também prestem muita atenção nos ensinos dos seus professores”, aconselha.

Na rede estadual de educação do Paraná, de acordo com o chefe do Núcleo Regional, Mário Francisco Dalgallo, não há legislação que proíba o uso de celulares nas dependências da escola, mas que os regimentos escolares disciplinam o uso durante a aula.

Além disso, explica que faz parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a responsabilidade da escola em ensinar o uso de tecnologias.

“É um assunto que a gente precisa trabalhar mais. Precisamos fazer esses acordos, essas discussões com professores, com pais, com a sociedade, disciplinando o uso das tecnologias em sala de aula. Mas até o momento não existe uma legislação que proíba. É um assunto que nós precisamos ainda amadurecer e eu entendo que nós, enquanto educadores, enquanto escola, temos que preparar os nossos alunos, nossos jovens para uma educação do uso das tecnologias. Também estabelecendo limites, tempo que eles ficam em frente dessa telinha. A escola sozinha não consegue dar conta de todos esses trabalhos, dessa ação. É preciso que os pais, os responsáveis, acompanhem, disciplinem, mantenham horários para que essa criança também faça outras atividades recreativas que são importantes e não fique presa somente às telas de um computador, de um tablet ou do celular. Nós estamos trabalhando no sentido de educar os nossos jovens, nossos estudantes, ao uso moderado dessas tecnologias. E, principalmente em sala de aula, existe uma orientação, uma determinação, que a escola reúna junto com seu conselho escolar, com os pais e professores, e estabeleça essas regras, esses acordos referentes ao uso dessa tecnologia”.

A neuropsicanalista Carina Wahl de Almeida aponta que os celulares são fontes de distração que podem afetar a capacidade de aprendizagem pelo fato do nosso cérebro não ser capaz de focar em duas tarefas ao mesmo tempo.

Uma simples notificação pode trazer ansiedade e fazer com que o aluno se concentre na necessidade de saber sobre o que se trata a mensagem na tela. Porém, Carina também indica que existem formas de utilizar o aparelho de forma produtiva em ambiente escolar.

“O que é importante nesse caso é que sejam estabelecidos acordos, que esse celular deve ficar no silencioso, que esse aluno só pode utilizar como uso de ferramenta, que ele pode utilizar o celular de repente no intervalo ou algo do gênero, depende muito de quais são as as regras que existem dentro desse colégio. Mas esses acordos são fundamentais. O celular não é uma arma, não é uma coisa horrível, ele só precisa ser bem utilizado e com criança e com adolescente funciona o combinado. Feito uma negociação e estabelecidas as regras, ela pode ser uma ferramenta muito boa de aprendizado”.

Limitar o tempo de tela para crianças e adolescentes é benéfico para o desenvolvimento.

“Nós temos um vício e uma dependência desse uso excessivo, desse uso abusivo desses dispositivos eletrônicos. Isso porque vai gerar o que nós chamamos hoje de dopamina rápida. Ela vai liberar essa fonte de prazer, que é a dopamina, e isso vicia. É uma fonte de prazer, assim como várias questões de alimentação, álcool, drogas, são fontes de prazer, mas que não são benéficas quando usadas em excesso”, explica Carina.

Em contrapartida, desde que com cautela, o uso de celular pode auxiliar no desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Entretanto, para isso, Carina indica que é precioso que os pais e responsáveis fiquem atentos ao conteúdo que é consumido pelos jovens. “O que é mais importante é a questão da participação dos pais no que essa criança e adolescente está assistindo. Temos ferramentas de organização para que essa criança, esse adolescente principalmente, já consiga fazer a gestão do seu tempo. Tem conteúdo criativo, edição de fotos, vídeos, coisas que eles gostam bastante, principalmente na adolescência. Então, ela pode ser sim uma ferramenta útil. Mas é importante que os pais estejam envolvidos e supervisionem o uso desse celular”.

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