IFPR: Livros que curam

Projeto desenvolvido no campus de União da Vitória leva histórias para as escolas. Da ideia nasceram outras que, assim como a leitura para uma comunidade, curam almas e alegram o espírito

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Atualizado há 4 anos

(Fotos: Mariana Honesko).
Voluntários se caracterizam para ler nas escolas: alegria e muitas letras (Fotos: Mariana Honesko).

Qual é a receita para a felicidade? A resposta para essa pergunta poderia render o lançamento de mais um livro de autoajuda. Acontece que o livro é, por si, uma ajuda autossuficiente. E não é preciso conta matemática para extrair essa resposta: basta abrir um livro, ou, se se quer uma prova real, conhecer o projeto ‘Contadores de Histórias – uma proposta de atividade literária e cultural’, desenvolvido em conjunto, pelos profissionais da biblioteca e alunos do campus em União da Vitória do Instituto Federal do Paraná (IFPR).

A ideia é promover uma viagem ao mundo das letras, do conhecimento, da imaginação, ao mesmo tempo em que a partir das histórias, as estórias de cada um se entrelacem. Isso acontece naturalmente, a partir de uma fábula, de um conto, de uma construção que tem começo, meio e fim.

O projeto é um dos mais antigos da instituição (que tem cinco anos; leia mais no quadro). Nasceu na biblioteca e vem ganhando o carinho do campus todo. “Meu principal objetivo é fazer com que os alunos tenham o conhecimento de uma realidade até então distante, para agregar algo para eles”, destaca a auxiliar de biblioteca e coordenador do projeto, Viviane Aparecida Traversin. “E em toda visita, a gente sempre se emociona”.

Para ler nas escolas, e viver as emoções da história bem contada, o Contadores reúne o apoio dos estudantes. Voluntários, eles se debruçam sobre a proposta, dedicando algumas horas na semana – e ganhando lições para uma vida toda. “O projeto é flutuante e como é voluntário, depende dos alunos e do agendamento das escolas. Hoje contamos especialmente com as turmas do Ensino Médio do Técnico de Informática”, conta a vice coordenadora da proposta, Daiana Elen Canato.

Escrevendo o futuro

Do Contadores, nasceram outros capítulos. E foi tudo muito rápido e natural. Realizado desde 2017, o projeto contou muita história por aí. Inclusive, em cidades vizinhas que, sabendo da ideia no melhor estilo do telefone sem fio (uma diretora contou para a outra e a notícia se espalhou).

Em União, o projeto ganhou “irmãos”. O Centro de Referência de Assistência Social de São Cristóvão (Cras), por exemplo, conta com duas vertentes do Contadores: a biblioterapia, contextualizada para adolescentes, mulheres e idosos; e a caixinha de livro itinerante.  Ainda, os voluntários do projeto, ao visitarem as bibliotecas das escolas onde leem, perceberam que encontrar o livro que ser quer, não é tão fácil, especialmente quando os leitores são crianças.

Do Contadores nasceram outros projetos, já aplicados na comunidade de São Cristóvão
Do Contadores nasceram outros projetos, já aplicados na comunidade de São Cristóvão

Daí uma lampadinha de luz (imagine uma lâmpada mesmo, usada muito nos gibis) e uma brilhante ideia. Os alunos decidiram criar o ‘As Cores Indicam o Caminho’, uma espécie de corredor colorido que ajuda as crianças a se localizarem na biblioteca e encontrarem o livro certo. O projeto é piloto e está sendo implantado em uma escola próxima do campus. Se der certo, o arco-íris informativo deve ganhar outras bibliotecas – dando autonomia aos pequenos leitores. “Fomos ainda convidados para representar o campus em Guarapuava em novembro”, lembra Viviane.

Aos poucos, letra por letra, o campus vem construindo sua história, deixando sua marca na comunidade. Aliás, essa palavrinha, de dez letras, é o grande ‘x da questão’. Sem ela, nenhum projeto teria sentido. O envolvimento é a missão dos IF’s e em União da Vitória, supre uma demanda importante. “Nossos alunos estão sempre envolvidos com os projetos, compartilhando experiências, levando informações. O objetivo da escola é justamente esse: abraçar a comunidade e ajudar no que for preciso. Quando a comunidade vem pra cá, ela se vê aqui”, diz a diretora do campus, Patrícia Bortolini. “Os IF’s tem essa função social forte, que faz com que nossos alunos busquem a solução para o cotidiano. Estamos acostumados a ver as pessoas reclamando, mas não fazendo nada. Aqui é diferente: não basta identificar o problema, é preciso buscar a solução”, completa o coordenador de Pesquisa e Extensão, Vitor Marcos Gregório.

Contadores atende aos convites da comunidade: se é para ler para alguém, voluntários estão presentes
Contadores atende aos convites da comunidade: se é para ler para alguém, voluntários estão presentes
Livros que curam

Engana-se quem acredita que apenas as crianças ganham dias mais leves quando ouvem uma história interpretada pelos alunos da instituição. Eles saem maiores e melhores com o gesto. A cada página virada, os estudantes vão encontrando a cura para seus próprios dramas, um norte para sua carreira profissional, um afago nas dores da alma. Quem lê para o outro, também aprende. Os estudantes envolvidos com o projeto garantem serem outros. Deixaram para trás as incertezas e até um certo egoísmo: o contar histórias, transformou a história de cada um.

“As crianças sempre trazem histórias da vida dela, do pai e da mãe. Cada vez é uma emoção diferente. Para mim, sempre gostei de criança e o Contadores é onde eu me encontro. Eu às vezes estou pra baixo e as crianças me animam, mesmo sendo pequenas”, conta Samira Nogueira, bolsista no projeto.

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Voluntário há dois anos no projeto, Ryan Stefanowicz, do Terceiro Ano do Técnico em Informática, afirma que o projeto fez com ele acreditasse em si mesmo. A autoanalise se justifica: de tão amigo de si mesmo, Ryan participou de uma disputa acirrada e se tornou semifinalista do programa Jovem Embaixador 2020, que prevê, entre outras oportunidades, um intercâmbio de um mês nos Estados Unidos. “Essa troca com as crianças me fez cegar até onde eu ceguei. Se não fosse o projeto, a conquista não seria possível”, sorri.

“Gosto do Contadores desde sempre! Quando você vai com um projeto desses e vê o impacto, é muito legal”, define Bruno Muller, estudante do Terceiro Ano do Técnico em Informativa, voluntário há três anos na proposta.

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Uma vida transformada pela biblioteca. É assim, encarando o espaço como muito mais que armários para livros, que o estudante Tiago Wagner, há quatro anos no projeto, define sua participação – e sua experiência. “A biblioteca é um espaço de convivência, de atividades, de conversas com os colegas. Muitas vezes, tanto o ensino quanto a educação, são fechados para um determinado público. A biblioteca não é um lugar para guardar livros. Me considero uma pessoa transformada”, diz.

É justamente com essa base de transformação que o IF, em União e pelo País todo, trabalha. O modelo, que conquistou o Brasil inteiro, nasceu das antigas escolas técnicas, no início do século passado. Um projeto arrojado, desafiador, encantador, posto em ação, a partir da histórica necessidade da criação de escolas que fugissem aos ultrapassados conceitos de educação vivenciados por séculos, uma escola libertadora, cidadã, inclusiva e de excelência. É a história do IF, que misturada com a de seus filhos, conquista e transforma a comunidade em um lugar melhor. Tudo isso com a promoção da ciência, da tecnologia, da inovação, da pesquisa aplicada e da extensão tecnológica, primando pela eficácia no ensino público.

“É, acima de tudo, uma instituição inclusiva, que atende as cotas com índices maiores que o estipulado, com alunos predominantemente de escola públicas, dando oportunidade de formação a cidadãos que no pretérito nunca tiveram tal chance”, destaca Patrícia.

O negócio é ler!

Apostar no livro como saída é, de fato, uma estratégia que vem sendo olhada com carinho por outros fomentos. É que numa era tão digital, o papel parece ter ficado em segundo plano. Ou em terceiro, quarto, quinto. Para colocar o livro no lugar de destaque novamente, ações no País todo acontecem. E os resultados são positivos.

Dados publicados na revista Veja na semana de 6 de outubro deste ano, mostram que usar o livro de um jeito diferente – como vem fazendo a turma do IFPR em União – dá certo. Os clubes de assinatura de livros são um destes nichos. O Leiturinha, por exemplo, para crianças, tem 170 mil assinantes de zero a 12 anos (público bem parecido com o qual trabalha o Contadores). Estima-se que exista hoje cerca de 20 clubes de livros bem estabelecidos e em expansão. “Uma volta ao passado que só faz bem”, encerrou a matéria da Veja, lembrando do auge dos clubinhos de leitura, ainda na década de 80.

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Mergulhando na comunidade

O campus em União do IFPR nasceu em janeiro de 2013. No começo, o campus não ostentava essa classificação: era apenas uma sala, cedida pela Prefeitura. Foi em julho daquele mesmo ano, contudo, que o IFPR ganhava corpo.  No dia 17, a Ordem de Serviço para a construção do Bloco Administrativo foi assinada. Durante todo ano de 2013, foram realizadas pesquisas e audiências públicas no município e região para levantamento de demanda de abertura do Curso Técnico no campus.  Oficialmente, o campus é o que é desde o dia 9 de janeiro de 2016, quando a cerimônia de inauguração do bloco administrativo foi realizada.

Hoje, o campus conta com cinco turmas de Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio; uma turma de Técnico em Meio Ambiente Integrado ao Ensino Médio; uma turma de Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas; três cursos de FIC Regular; uma turma de educação de jovens e adulto com formação em Técnico em Manutenção e Suporte em Informática Integrada ao Ensino Médio na modalidade PROEJA; e duas turmas de EAD.

São aproximadamente 500 alunos matriculados na estrutura, 28 docentes e 17 técnicos-administrativos em educação. “Estamos em fase de expansão, com a inauguração em julho deste ano da quadra poliesportiva e, para fevereiro de 2020, a entrega de dois blocos didáticos, onde abrigarão salas de aulas e laboratórios”, antecipa a diretora.