SONHO REALIZADO: José só queria conhecer o Morro do Cristo

Interno do Piamarta, aos sete anos, vê cidade lá do alto e realiza sonho de subir no mais tradicional cartão-postal de União da Vitória

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Atualizado há 8 anos

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José, por ele mesmo: dispensa legenda. (Foto: Mariana Honesko).

E agora José? Qual será seu próximo sonho? A persistência do doce menino deve abrir outras portas. Ô se deve. A primeira, que fez seus olhinhos amendoados brilharem ainda mais, já foi aberta. Claro, para isso, o garoto contou com a ajudinha de alguns anjos.

Um deles foi o padre Reonaldo Pizoni. No dia 19, ele levou José e outros três coleguinhas para subir o morro que o encanta tanto. “Ele dizia que estava irrequieto. Achava que os degraus começavam já lá embaixo, no asfalto. Lá em cima, queria ver ‘o Deus’”, conta o religioso. Conforme o padre, José vinha pedindo para conhecer o mais belo cartão-postal de União da Vitória há algum tempo. “Ele vinha e pedia, cochichava no ouvido, queria ir lá”, sorri. De tanto pedir, conseguiu.

José subiu as escadas praticamente correndo, num salto só, sem cansar e lá em cima, sorriu ao ver o tamanho das duas cidades e como um contrassenso, ao ver a “estatura” das casas, tão pequenas lá do alto. Pediu ajuda ao padre para encontrar o Bairro Bom Jesus, onde moram seus pais e outros quatro irmãos. Abriu os braços, tirou foto, sorriu e dormiu mais feliz do que nunca. “Vi o Bom Jesus. Era assim ó (mostrando com a pontinha do dedo o contorno da imagem que viu). Vi as pontes, o Piamarta”, sorri o menino com traços marcantes e uma janelinha no cantinho do sorriso.

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No alto do morro, feliz, de braços abertos

A realização de um sonho tão simples talvez significa muito mais para o menino do que ele mesmo imagine. A lembrança daqueles momentos vividos lá no alto, pertinho do céu, talvez o ajudem a esquecer a dureza da vida que Deus, aquele lá da terceira maior imagem sacra do País, lhe deu. José, que vai fazer oito anos na segunda-feira, 26, é filho de pais separados. Ele tem mais cinco irmãos: quatro moram com a mãe e um compartilha com ele a convivência do modelo de internato no Instituto Piamarta.

Estar na Instituição não era sua vontade. Nem da mãe. Mas não teve outro jeito: portadora de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e praticamente sem condições de sustentar todos os filhos, a mãe decidiu recorrer ao Instituto para, quem sabe, dar um futuro diferente para dois de seus meninos. Assim, eles ficam de segunda a sexta no Piamarta; aos sábados e domingos, vão visitar a família, moradora de um conjunto habitacional popular. A casa é pequena, mas o amor imenso, garante a assistente social do Instituto, Gisele Martinazzo. “Mesmo com dificuldades, eles têm muito amor entre eles. Os pais são separados, estava morando fora mas voltou para União para ajudar a ex-mulher e os filhos. Entre os irmãos também, a união é grande”, conta.

José Gabriel Ferreira Pires, tem no nome o estigma divino: carrega na identidade o dom de ser “pai” e o próprio “Deus”. E sim, ele já tem um novo sonho, uma réplica do primeiro. “Quere conhecer o outro morro, aquele que tem os braços abertos”, sorri. E agora José?