“Em qualquer ‘rincão’ desse País se faz necessário um teto para morar”

Empresário do Vale do Iguaçu aposta no aumento das vendas de materiais de construção ainda em 2021; as pessoas têm passado mais tempo em casa, o que amplia investimentos em sua moradia

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Atualizado há 4 anos

O empresário do ramo de materiais de construção em União da Vitória, Rui Fernando Woehl, embora preocupado com o aumento de casos da Covid-19 na região, acredita em dia após o outro e sugere que os empresários busquem otimismo para lidar com esse momento atípico na saúde brasileira. Em entrevista realizada no dia 1º de maio à CBN Vale do Iguaçu, Woehl pontuou sobre as tendências e perspectivas para 2021 no mercado da construção.

Segundo ele, o ano de 2020 foi desafiador para vários setores do mercado, haja vista a pandemia; porém, o segmento da construção civil se manteve aquecido, principalmente após o mês de julho. O empresário acredita que isso tem a ver com os desejos surgidos em meio ao isolamento social, impostos pelo risco de infecção do coronavírus, ou seja, as pessoas têm passado mais tempo em casa, o que amplia investimentos no ambiente onde vivem.

Rui é proprietário da Herbert Materiais para Construção. Ainda jovem, participou ativamente nos trabalhos da empresa – a pedidos do pai, o senhor Herbert, onde colaborava na reposição de produtos, arrumava prateleiras, organizava pregos e demais trabalhos na loja que foi instalada em 1955. O pai foi sua inspiração.

Na sequência Rui cursou o 2º grau em Curitiba (PR) e se formou em Arquitetura e Urbanismo no Rio Grande do Sul. Após a graduação teve trabalhos como arquiteto em projetos residenciais, comerciais e continuou se aprimorando em áreas de estudo que o levaram a ser colaborador nas Obras do Hospital São Braz em Porto União.


Confira a entrevista:

Jornal O Comércio (JOC): O consumo de itens para reformas disparou durante a pandemia. O que tem sustentado o crescimento do mercado?
Rui Fernando Woehl (RFW): É um ramo que sempre está em atividade e em grande movimentação. Apesar de a pessoa já ter construído a sua casa, sempre surgem necessidades, como a troca de um lustre, comprar isso ou arrumar aquilo. As pessoas têm passado mais tempo em casa, o que amplia investimentos no ambiente onde vivem, neste momento.

JOC: Como valia o impacto da pandemia no ramo de materiais de construção?
RFW: Em fevereiro e março do ano passado houve uma retração significativa do comércio em geral, pois não tínhamos informações sobre a Covid-19, ficamos sem rumo e sem circulação de mercadorias. Porém, lá pelos meses de julho e agosto, entendemos que seria uma situação atípica. Passamos a respeitar as normas de segurança impostas pelo coronavírus, atendendo a todos os protocolos sanitários e, até restringimos as compras, assim como o mundo inteiro fez. No período, atendemos os nossos clientes com as mercadorias disponíveis no mercado. O capital de giro faltou, mas fomos reagindo ao movimento de compra. O que nos manteve mais confiantes foi que a saúde pública passou a informar mais sobre a doença e ter uma visão sobre como nos defender desse vírus. Passamos a ter uma visão mais clara do assunto. Foi então que o setor se aqueceu e apresentamos uma aceleração na movimentação econômica, até que passou a faltar produtos na prateleira. Estamos aprendendo a cada dia, em diálogo constante com os fornecedores.

JOC: Há risco de faltar materiais de construção?
RFW: Em 2020 tivemos sim dificuldades em alguns produtos. O que acontece é que as obras, em geral, têm um cronograma de execução e, pela falta de alguns produtos pode haver atrasos na entrega do produto final. Hoje o mercado está convidativo para a exportação, porém o dólar ainda está em um patamar elevado, mas eu acredito em uma estabilização para baixo. Tivemos dificuldades na oferta da lâmina, da tora e no aço, devido ao preço do dólar. O que preocupou foram os aumentos dos preços de alguns produtos e, sem justificativa. O aço, por exemplo, tem alteração de uma semana para a outra, sendo de 13%, 15 %, e o último dado de 17%. Eu vejo como uma ganância financeira e pergunto: de onde está aparecendo esse valor? De onde saiu esse percentual? O aço e seus derivados apresentam falta pontual. Com a estabilização na área da saúde, tenho expectativa de que tudo vai melhorar.

JOC: Como avalia o desempenho da construção civil em 2020-2021?
RFW: Em 2020 tivemos insegurança sobre o que era o vírus. Tivemos muito medo. Com a chegada da vacina contra a Covid-19 ficamos mais otimistas, e na economia estamos observando uma posição positiva, com investimentos na construção civil. O setor de infraestrutura também mantém o mercado com bastante clareza e aliviado, o que traz confiança para o investidor e para o empresário investir na construção civil.

JOC: Quais segmentos da construção civil foram mais positivos?
RFW: O imobiliário é um segmento que vem despontando com grande força no momento. A infraestrutura também vem sendo levada com seriedade pelo Governo Federal por meio de grandes obras. Em razão disso, o cliente aposta na construção de casas, prédios, residências, indústrias. O segmento imobiliário, no primeiro trimestre, apresentou cerca de 135 mil contratos aprovados pela Caixa Econômica Federal, o que é ótimo para o desempenho da economia.

JOC: Houve equilíbrio de preços?
RFW: Tem uma parte do monopólio que tem preços abusivos, inaceitáveis e sem entendimento do porquê desses valores. No mais, a situação está começando a normalizar. Entre os materiais de construção, o PVC, por exemplo, tem alteração significativa e isso acontece quinzenalmente. É sempre uma surpresa. Mas tudo vai normalizar.

JOC: Foi surpresa a procura e o desempenho do setor em detrimento de outros durante a pandemia?
RFW: Com certeza sim. A procura pelo ramo da construção, na maioria, vem daquelas pessoas que não estão tendo a oportunidade de sair, de viajar, enfim, estão reclusas em casa e, vendo o dia a dia de suas residências; isso refletiu diretamente no setor. Elas estão investindo nas suas casas e percebemos isso claramente no dia a dia da empresa. Porém, entre os obstáculos do período, eu diria que está a mão de obra qualificada. As pessoas com capacitação estão se aposentando e profissionais como estes não estão sendo repostos. A mão de obra não pode ser vista como menos importante; ela é o resultado final da qualidade de vida.

JOC: Quais seriam as expectativas para 2021 no setor?
RFW: Positiva. O Brasil é muito grande e conta com 210 milhões de habitantes. Em qualquer rincão* desse país se faz necessário um teto para morar. A dificuldade de mercado existe e é normal. Mas, o mercado da construção civil estará sempre em movimento. Acredito em torno de 4% ou 6% de aumento nas vendas com relação ao ano passado. É um momento difícil e cada um vem passando à sua maneira. Porém, cada dia é um novo dia e estamos aprendendo com isso.