“Corrupção é uma praga”

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Atualizado há 4 anos

Em vias de se iniciar o processo eleitoral deste ano, Abel Zastawny, padre, jornalista e mestre em sociologia no Vale do Iguaçu, foi o convidado do sábado, 29, do Programa CBN Linha Aberta. Em pauta, como a sociologia dialoga com o cenário político da atualidade.

Padre Abel
(Foto: Ricardo Silveira)

De acordo com o sociólogo, o eleitor não está atrás de um herói, mas sim de um representante que o sirva com retidão. Explicou que o indivíduo corrupto se torna uma vergonha para aqueles em que deveria servir. Os canais de renovação de ideias na política estão aí, expostos diariamente.

Para Abel, cabe ao cidadão analisar a perspectiva mais favorável ao bem da sociedade.


* Acompanhe abaixo alguns trechos da entrevista:

CBN Vale do Iguaçu: A corrupção é aquilo que o poderoso atribui ao seu inimigo como forma de persegui-lo?

Abel Zastawny: A corrupção é uma forma de comportamento. É o jeito da pessoa ser, mas é um comportamento que não é desejado pela sociedade e, por uma reta consciência. A *CORRUPÇÃO É UMA PRAGA. É UM JEITO PODRE DE SE VIVER. Ela impede de se olhar para o futuro com esperança. A pessoa corrupta apenas olha para a sua avidez, para a sua prepotência e, não está ali com o olhar focado para o projeto do bem e da verdade. Ela (o corrupto) não tem critério para olhar a necessidade do próximo. Corrupção é uma consciência deturpada e malformada do indivíduo com prejuízos para o bem comum.  A política se volta para o bem comum e a corrupção estraga a perspectiva de uma sociedade mais favorável a vida humana.

CBN Vale do Iguaçu: No dia 28 de agosto, a notícia de que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, foi afastado do cargo por 180 dias. A ordem foi do Superior Tribunal de Justiça, por suspeita de fraude na saúde, durante a pandemia. A notícia vem ao encontro do que o senhor comentou anteriormente?

Abel Zastawny: Isso é triste de se constatar. O *Brasil não é o campeão da corrupção, pois existem outros piores na lista, utilizando-se de expressão popular. Este certamente não é o caminho. Agora, porque a pessoa entra nesse campo e, se desvia dos objetivos da vida? A vida é para se ter compartilhamento, receber e oferecer, é para se ter conteúdos bonitos – aqueles que a gente vai adquirindo e, que não pode guardar só para si. Agora quando a pessoa já entra na política com má intenção e se envolve, aí ela não consegue sair. Daí si, a o a justiça interveem no processo. Aí o sujeito é afastado do cargo público e perde a credibilidade. O indivíduo corrupto e se torna uma vergonha para aqueles que deveria servir e que não está mais servindo.

CBN Vale do Iguaçu: A política é um poder invisível?

Abel Zastawny: Ela é um poder. Ela se relaciona com a organização da vida em sociedade. Nós não sabemos ao certo como foi o início da política na sociedade, mas como tempo foram aparecendo essas reflexões para organizações da sociedade e para o bem comum.; essa é a finalidade da política, não é o bem particular. Agora, poder invisível? Na verdade, é muito visível. A gente vê que as ações políticas bem orientadas aparecem através da satisfação daqueles em que atinge. Existem países no mundo, em que na atualidade, muitos políticos se esforçaram para construir um bom trabalho de todo o cidadão. Temos sociedades bem organizadas, felizes, com tranquilidade, sem medo de sair em praça pública, nas ruas, com responsabilidade por eles e por todos. A política é serviço da paz e com promoção de direitos fundamentais ao ser humano.

Como disse o Papa Francisco: “a política é a forma alta de caridade”.

CBN Vale do Iguaçu: O brasileiro sabe do que se trata o *estado laico?

Abel Zastawny: O estado é laico e todos nós, as pessoas que tiveram mais tempo e condições para o seu estudo e formação intelectual e humana, sabem do que se trata. O estado é laico, ou seja, não é dirigido por uma crença religiosa. O estado vive em função das coisas que são do tempo, que são da organização da população e, não pode ser atrelado para uma determinada religião. Mas o estado deve propiciar às religiões a oportunidade de oferecerem princípios e orientações e cumprir bem o seu papel. A religião não vai mandar no estado, assim como o estado não dever mandar na religião. Isso não é correto. Há uma independência com respeito e com participação. Os lados religiosos e civis devem trabalhar juntos em vista do bem das pessoas.

CBN Vale do Iguaçu: Em recente entrevista para O ESTADO DE S. PAULO, o padre Reginaldo Manzotti deu a sua opinião acerca da presença de líderes religiosos do cristianismo na política do país e do mundo. Ele disse que “lugar de padre não é na política”. O senhor concorda?

Abel Zastawny: Está a norma da igreja. O religioso não deve assumir essas funções, ou seja, esses cargos políticos. São cargos reservados para os leigos, os não consagrados; eles sim, tem o papel de defender os princípios, defender a moral, a ética e o bem comum. Não é preciso que o padre faça isso – e nem deve fazer. Então existe realmente uma proibição de que o padre venha a exercer esses cargos políticos – a não ser em casos específicos e analisados cuidadosamente por cargos religiosos.

CBN Vale do Iguaçu: É difícil falar de Deus quando grande parte das pessoas só fala de injustiça social?

Abel Zastawny: Falar de Deus? É difícil?

É, na verdade, onde está a injustiça social? Ela não está na ação, ela está no coração da pessoa. Deus deve estar no coração e na ação da pessoa. Então injustiça social está onde não há presença de Deus. A pessoa que tem Deus, aí não importa qual é a sua religião, mas importa que ela busque conhecer essa figura divina. O querer viver com esse Deus propõem a consciência e, isso vai fazendo com que a pessoa, de reta intenção, ouça Deus, não apenas na oração ou leitura da página do livro sagrado, mas ela se sintoniza com Deus e reflete: Eu tenho uma vida, o que fazer com ela? Para que serve a minha vida? Para quem é? Quem me deu? A quem vou devolver essa vida?

Aí entra a vontade de se posicionar de uma forma positiva para o bem. A pessoa que tem Deus sempre procura fazer o bem. Agora já aquelas pessoas que pregam a palavra de Deus, mas que se aproveitam das outras pessoas, que deveria ajudar e tiram proveito social, aí sim começa a injustiça social, até mesmo dentro da própria religião e em vista de um proveito social e bem próprio. Injustiça social acontece quando não tem se tem aquela formação de consciência reta voltada para a unidade e para o bem.


Eleições

As eleições municipais no Brasil em 2020 ocorrerão em 15 de novembro, com segundo turno marcado para 29 de novembro. Os eleitores escolherão os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores dos 5.568 municípios do país.


Saiba mais

* Corrupção – ou corrompimento, corresponde à ideia de decomposição. Na esfera das relações humanas em particular, está relacionado ao subornoː ato ou efeito de se corromper, oferecer algo para obter vantagem em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra.

* Países mais corruptos – O Brasil soma 35 pontos no ranking, em uma escala de zero a 100, e aparece empatado com Albânia, Argélia, Costa do Marfim, Egito, Macedônia do Norte e Mongólia. A Dinamarca e a Nova Zelândia, líderes do ranking, têm 87 pontos cada uma.    (Isto É, 2020)

* Estado laico – Mesmo com maioria católica, o país é oficialmente um Estado laico, ou seja, adota uma posição neutra no campo religioso, busca a imparcialidade nesses assuntos e não apoiando, nem discrimina nenhuma religião.


CBN Linha Aberta

O CBN Linha Aberta, desde 1º de agosto, direciona a pauta às eleições municipais 2020. O programa vai ao ar todos os sábados, das 10h às 12h, pela 106.5 FM.