“Eu me rebatizo de João se não sair a reforma tributária”, diz Joice Hasselmann

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Atualizado há 5 anos

Líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP)
Líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP)

“Eu me rebatizo de João se não sair a reforma tributária.” A afirmação é da líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que, em entrevista à Rádio ABERT, falou sobre as expectativas para a tramitação da reforma tributária, presença feminina no Congresso Nacional e o impacto das novas tecnologias na política e no jornalismo.

A parlamentar visitou a sede da Associação, em Brasília, na quinta-feira (22), e foi recebida pelo presidente Paulo Tonet Camargo, conselheiros e diretores de associações ligadas à comunicação.

Leia os principais trechos da entrevista. A íntegra pode ser acessada aqui.

A senhora foi a mulher mais votada para a Câmara dos Deputados desde a redemocratização. Quais os desafios que uma parlamentar mulher enfrenta no Congresso Nacional?

O desafio propriamente é o da política. O que a minha eleição mostrou é que nós mulheres não precisamos necessariamente de cotas para entrar no Parlamento ou no Executivo. Eu fui a mulher mais votada da história sem ser filha de político, sem ser casada com político, concorrendo em São Paulo, onde eu, obviamente, disputei voto também com o filho do presidente Bolsonaro. Eu sempre gostei muito da política, ela sempre esteve dentro do meu DNA. Eu só não queria política partidária, mas tem uma hora que não tem jeito, e eu fiquei igual cachorro correndo atrás do rabo: eu corria da política e a política corria atrás de mim. Então, o desafio político propriamente não há. Eu não me sinto mais desafiada por ser mulher. Até porque ali dentro ninguém ousa ser machista comigo. Um dia desses uma repórter perguntou para um grande líder, muito antigo, que já foi ministro e que é deputado hoje, “Como a Joice sobrevive no meio de vocês, tão machistas?” e ele falou “Ninguém tem coragem de ser machista com ela. A gente tem medo. Essa mulher chega que é um tratorzão”. Então, meu posicionamento sempre foi de muita força e os únicos desafios que eu vejo são questões burocráticas. Na Câmara, às vezes, são 10, 15 horas de falatório sem produzir nada. A culpa é do deputado? Não. A culpa é do regimento. Tem um diabo de um regimento lá que é antiquíssimo e que trava aquelas votações. Tem o tal do “kit obstrução”, que a oposição usa muito. Então, isso me incomoda, porque gosto de produzir e entregar alguma coisa. Eu estou propondo para alguns parlamentares de a gente fazer uma comissão para deixar o regimento mais moderno, para que a gente comece a realmente produzir em volume maior. Porque se trabalha muito na Câmara e às vezes se produz pouco. Isso me incomoda. Como sou líder do governo no Congresso Nacional, para mim, é ótimo, porque eu fico me dividindo. Quando eu vejo que a Câmara está só no falatório, eu corro pro Senado. Quando eu vejo que a coisa está calma, eu corro para o Palácio (do Planalto), vou falar com ministro, o presidente e despachando o gabinete. Então meu dia é altamente produtivo. E realmente a única coisa que eu acho um grande desafio é essa burocracia toda.

Como líder do governo no Congresso Nacional, quais são suas expectativas para esse semestre?

Terminar a reforma da Previdência no Senado, que já está tramitando a passos largos, e entregar a reforma tributária, que é algo que o país inteiro quer. Há uma grande ansiedade por simplificação, especialmente no setor produtivo, e há uma ansiedade da população para tentar baixar o imposto. Então, a gente realmente precisa dar uma resposta à sociedade em relação à tributária. Não dá para prometer milagre, tá? Até porque tem gente que promete, mas é mentira, é demagogia. Então se alguém disser “Olha, vamos cortar os impostos em 50%”, está mentindo, nem vota na outra eleição, porque está falando bobagem. A máquina é muito cara, nós temos muitas verbas carimbadas, como saúde e educação. Sobra quase nada para investimento. Então nós temos alguns caminhos na tributária. Primeiro, simplificação. Se você pegar dez especialistas em tributos para uma grande empresa, contratar os dez e falar “Faz minha prestação toda de tributos”, você terá onze análises diferentes. Porque o sistema brasileiro é esquizofrênico. Temos mais de cinco mil legislações de ISS, ICMS, impostos federais, é uma confusão dos infernos, guerra fiscal entre um estado e outro. Então, a gente tem que simplificar e dar uma única cara aos tributos do Brasil. Aqui também as pessoas tributam pelo consumo, não pelo lucro. Então o Estado brasileiro é sócio, ele é seu sócio em qualquer empresa ou emprego que você tenha e não importa se você não quer. E se você tiver prejuízo, ele é sócio só do lucro, porque tem que pagar imposto do mesmo jeito. Olha que coisa louca, é surreal! Nos Estados Unidos, por exemplo, se uma empresa tem 0% de lucro, então você não vai pagar imposto, porque o imposto é sobre o lucro. Se teve muito lucro, você dá uma parte. Então, é isso que nós temos que discutir com o povo brasileiro, nosso sistema tributário é burro, é ineficiente, é totalmente esquizofrênico e altamente burocrático. Simplificar já é um grande ganho. Buscar combater a evasão e a sonegação. Nessa brincadeira, temos por volta de R$ 400 a R$ 700 bilhões de sonegação. E o sistema tributário é muito caro. Para fazer essa engenharia tributária hoje, as empresas gastam, fora o imposto, em média, R$ 70 bilhões. Então, se a gente simplificar, tornamos a prestação mais barata, pela metade. Se a gente combate a sonegação e a evasão, podemos pensar em reduzir imposto, porque arrecada mais. Então, eu acho que é um desafio que eu estou animadíssima para seguir.

Então a reforma tributária sai do papel dessa vez?

Não tem jeito de não sair. Eu me rebatizo de João se não sair a reforma tributária. Não vai ser Joice mais, não tem a menor condição. Vai sair.

Atualmente, a senhora é considerada a parlamentar mais influente nas redes sociais. Como jornalista, que já passou por diferentes emissoras de rádio e TV, acredita que o modo de transmitir a informação mudou com as plataformas digitais?

Com certeza. O modo de transmitir informação, o modo de fazer política e o modo de fazer campanha. Digo isso até para alguns colegas parlamentares “Gente, vocês estavam jogando um jogo, sei lá, basquete. O jogo mudou. Agora é handball. Agora é outra coisa”. Se você não tiver o contato com o seu eleitor, não prestar contas do que está fazendo, não mantiver ele o tempo todo informado, ele vai dizer “Olha, essa pessoa não está fazendo o que eu quero que faça, eu não quero nem saber mais dela”. Então, é muito importante manter esse contato com o eleitor. E o meu contato não é só com meu eleitor, porque eu já tinha projeção nacional no jornalismo, então eu tenho seguidores no Brasil inteiro, de outros países do mundo. É muito bacana porque eles ficam acompanhando o que acontece no Congresso Nacional através das minhas redes. Acabou virando uma grande prestação de contas online. E é uma coisa que eu gosto de fazer. Eu prometi transparência, às vezes, eu estou lá no meio da guerra e tem “live” acontecendo. Alguns parlamentares acham esquisito, mas eu acho que quanto mais transparência você tiver melhor. A gente não tem que esconder nada. Se a sessão vai até de madrugada, conte porque foi até de madrugada. Se está votando um projeto polêmico, conte porquê. Então, eu acho que o fato de eu ser a mais influente ali dentro também é por conta disso: virou uma prestação de contas de política nas minhas redes.

Com as novas tecnologias, surgiu o fenômeno das fake news. A senhora concorda que o jornalismo profissional é o antídoto contra as notícias falsas?

Sem dúvida. Eu sou muito liberal, então sou contra, por exemplo, lei de mordaça “Será que fez fake news, vamos colocar amordaçada”. Isso não, porque já existem na lei previsões legais para quem combate fake news, para quem denigre. Demora um pouquinho mais, é moroso, mas existe. Eu mesma já processei várias pessoas por fake news, inclusive políticos. Então, comigo não tem conversa, falou bobagem, eu vou lá, meto um processo e pronto. A Justiça está aí para isso. Mas o bom jornalismo é o que certamente enfrenta as fake news. Se você está vendo uma informação em vários veículos de comunicação, de maneira quase que idêntica, caiu o helicóptero ali, endereço tal, está todo mundo falando a mesma coisa, e aparece alguém dizendo “Não, aquilo lá foi derrubado. Um moço pegou uma bazuca e derrubou o helicóptero”. Aí, todo mundo nas redes começa a dar mais atenção a uma fofoca do que ao que toda a imprensa está falando. Não pode. Então a melhor forma de combater fake news é estar muito bem informado. Eu sei o que é fake news na hora. Por quê? Porque eu sei o que está em todos os jornais, em todas as redações, seja um jornal mais posicionado, menos posicionado. Eu vejo todo o noticiário. Então, eu sei o que é fake news. É muito fácil. A informação é o melhor caminho para que você consiga identificar esses malandros da internet.