A pandemia da Covid-19 pressionou mudanças nos hábitos de consumo de muitas pessoas. De acordo com a gerente do Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) de União da Vitória, Joseane Magagnin Meinerz, os brasileiros necessitaram rever as rendas, cortar e repensar os gastos. O consumidor passou a entender a necessidade da educação financeira, se adequando com os efeitos da crise sanitária, que virou o mundo de cabeça para baixo.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), subiu 4,3 pontos em abril deste ano para 72,5 pontos, recuperando 44% da queda sofrida no mês anterior. Em médias móveis trimestrais, o índice continua em tendência negativa ao cair 1,1 ponto.
O comportamento cauteloso dos consumidores vem sendo mantido em relação aos gastos, fato justificado por fatores econômicos como renda, emprego e aumento dos níveis de endividamento, mas também psicológicos, “relacionadas à incerteza em relação à saúde e à necessidade de isolamento social”, afirmou a FGV/Ibre.
Confira a entrevista:
Jornal O Comércio (JOC): De março de 2020 para cá, a população tem buscado as agências bancárias com apelo para o orçamento?
Joseane Magagnin Meinerz (JMM): Com certeza, sim. A pandemia foi um imprevisto que aconteceu na vida de muitas pessoas pelo mundo todo. Tivemos muita busca por redução de custos e também a tentativa em entender sobre como passar por essa fase. Uma grande fatia da população foi afetada diretamente com a pandemia; outros indiretamente. Muitos perderam empregos e, principalmente nas agências, a procura veio como um desespero da pessoa, pois não tínhamos vivido isso anteriormente e não sabíamos como lidar com tudo isso. Muitos buscaram formas através de crédito para passar à fase da pandemia ainda mais forte. As agências bancárias se mantêm junto da comunidade nesse período.
JOC: Qual foi a faixa etária que mais procurou as agências bancárias nesse período?
JMM: Primeiramente, foram os empresários em geral. Porém, o público jovem e as pessoas de meia idade também procuraram os serviços. Isso vem ao encontro da educação financeira. É importante lembrar que o público de maior idade já vem poupando, ou seja, estão preparados para um imprevisto; é cultural. Já os mais jovens, com o passar do tempo, apresentaram aumento dos gastos, já com aquele pensamento: ‘vou viver o hoje; eu mereço isso!’. Os jovens não preparados financeiramente, assim como uma pessoa de mais idade.
JOC: Empréstimos estão sendo muito requisitados?
JMM: Eu diria que foram mais pedidos de prorrogação de empréstimos, pois o Governo Federal, de certa forma, amparou a população em geral com linhas de crédito. O pensamento da maioria foi de que em três ou quatro meses tudo voltaria ao normal financeiramente. Após isso, a pandemia continuou e tivemos mais prorrogação de empréstimos. Após isso, vieram os pedidos de créditos, mas não para a compra de um veículo novo, ou outros investimentos, mas, sim, para o pagamento de dívidas.
JOC: Por que a educação financeira é tão importante?
JMM: Porque é uma base para a vida pessoal e familiar para se ter uma vida saudável financeiramente. Através da educação financeira, o planejamento de vida fica mais fácil, mais claro e mais tangível. Em contrapartida, aparece o descontrole financeiro e é aí que vem o problema. Esse descontrole é bastante latente no brasileiro, o que tem prejudicado também a parte psicológica da pessoa.
JOC: Como aqueles que tem mais experiência podem ajudar os jovens com a educação financeira?
JMM: Primeiro precisar pedir ao jovem que tenha calma e que tudo isso vai passar. Não vai precisar fazer algo grandioso, pois são nas pequenas coisas que a cultura da educação financeira acontece, como a economia dentro de casa. Aqueles que moram com os pais, por exemplo, podem ajudar com a economia de luz, da água. Se colocar na ponta da caneta todo o mês, você verá o quão impressionante é a economia consciente.
JOC: Começar poupando centavos, dá certo?
JMM: Com certeza. É o início da cultura de poupar. De centavos você vai para um real, e aí começa a refletir em gastos com coisas desnecessárias, percebe que a população reflete uma organização para o futuro. Aqui, na agência, nós trabalhamos com as crianças, onde falamos sobre o setor financeiro e sobre poupar. As crianças falam: “Tia, tenho um cofrinho e está quase cheio”. Pense na felicidade dessas crianças. Não importa o valor; importante é a criação da cultura de poupar.
JOC: Como define a educação financeira?
JMM: Que é muito mais do que economizar; é a arte da organização. É uma consciência do que você está gastando.
JOC: Consumismo x educação financeira?
JMM: A gente quer o consumo e o comércio também vive disso. É importante ter o consumo consciente, porque aí, você evita a inadimplência. O consumo desenfreado apresenta uma grande chance de se endividar. É importante parar e pensar, eu preciso realmente disso? É necessário? Vou ter condições de pagar? Se sim, ok! Compre! A roda do comércio precisa girar. Mas é preciso consciência.
JOC: A educação financeira pode transformar a vida de uma família?
JMM: Sim. Toda a família precisa ter consciência financeira. É preciso ter objetivo de curto, médio ou longo prazo.
JOC: Renegociação de dívidas, é importante?
JMM: É essencial, porém quando necessária. Ou seja, se você tem cheque especial e cartão de crédito, não deixe de renegociar. Do contrário, vai ficar pagando por meses juros, ao invés do capital.
JOC: Qual é a realidade financeira do Brasil?
JMM: A população vem buscando as instituições financeiras de maneira consciente, as quais também apresentam muita empatia com o cliente diante desse momento atípico. Acreditávamos que em três ou quatro meses tudo ficaria bem, mas isso não aconteceu. Vai demorar um pouco mais. Então, é preciso se organizar financeiramente, buscando instituições com linhas de crédito para ajudar nesse momento. É uma via de mão dupla, os dois lados precisam ganhar diante da dificuldade.