“O gestor público não deve confundir transparência com propaganda política”

Marcio José Assumpção, analista do Tribunal de Contas do Paraná abordou o tema dentro de um contexto amplo, que passa, inclusive, pelo trabalho do profissional contábil

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Atualizado há 5 anos

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Marcio José Assumpção: cortar uma fita de inauguração e foto beijando criança, não é transparência (Foto: Reprodução).

O profissional é lembrado, na maioria das vezes, apenas no período de declaração do Imposto de Renda. Mas, ele é muito mais do que alguém que cuida para que o cliente não seja pego pelo “leão”. Na verdade, o contábil é essencial para a organização da saúde financeira de uma empresa e, sim, de uma sociedade inteira. Dependendo da posição dele, suas atribuições esbarram muito na gestão de administradores.

Do ponto de vista político, o profissional pode contribuir para garantir a transparência das contas públicas. Logo, interferir no acesso aos números, “traduzir” dados ao público e defender que 2 + 2, sempre será quatro.

Foi sobre o posicionamento do contabilista dentro da sociedade que o analista do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE/PR), Marcio José Assumpção, falou na entrevista concedida ao jornal O Comércio e à rádio CBN Vale do Iguaçu.

Assumpção esteve no Vale do Iguaçu para participar da Semana de Contábeis do Centro Universitário de União da Vitória (Uniuv), evento que aconteceu entre os dias 30 de abril e 3 de maio. O profissional falou aos acadêmicos sob o tema, ‘Contador Público – Governança e Transparência’, assunto que pautou sua conversa também no Grupo Verde Vale de Comunicação. “Antes de tudo, isso envolve a cidadania, onde todo o cidadão pode muito bem fiscalizar a administração pública”, disse.


“Não adianta falar o contabilês, encher as prestações difícil de entender. A dona de casa, o agricultor, precisa entender o que está ali. Não temos que enaltecer a pessoa. A administração pública não pode ter nome nem sobrenome”


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ENTREVISTA

Jornal O Comércio (JOC) – Se cobra tanto a transparência, especialmente dos políticos. Mas que vemos muitas pessoas estão inadimplentes também. Não é algo incoerente?
Marcio José Assumpção (Assumpção) – O Barão de Itararé, que nem era barão, dizia que negociata é algo para o qual não foi convidado. Nós temos que sim, cobrar mas também prestar contas à União, com qualidade. No caso do Imposto de Renda, é interessante mandar certinho, sem precisar fazer correção depois. Temos obrigações e precisamos cumprir, até para poder cobrar dos políticos de cabeça erguida.

JOC – O profissional contábil é realmente mais lembrado neste período da declaração do Imposto de Renda?
Assumpção – Na área púbica, não afeta o trabalho. Há poucos dias, tivemos o congestionamento de atividade por conta da prestação de contas. Isso sim, levou à muita demanda aos profissionais, que precisavam confirmar as contas ao Tribunal (de Contas).

JOC – O senhor atua como analista de controle no Tribunal de Contas no Estado. Como o senhor dribla a inadimplência dos municípios? Falta transparência?
Assumpção – Alguns municípios sim, as vezes falta orientações e talvez até mais profissionais para atender toda a demanda imposta pela Legislação. O Tribunal de Contas está em Curitiba, não está em todos os municípios. Estão, o cidadão mora na cidade e consegue ver o que ocorre. É um dever dele denunciar, exercer a cidadania.

JOC – Como o senhor definiria o que é transparência na administração pública?
Assumpção – É mostrar o que está sendo feito na administração pública, colocar às claras. Tudo dentro da administração precisa ser transparente. Publicar na rede social que está cortando uma fita, beijando uma criança, não é transparência. Agora, mostrar a arrecadação versus o gasto, quanto custa uma criança na escola, uma pessoa num posto de saúde, isso melhora a transparência. E um detalhe: não adianta falar o “contabilês”, encher as prestações difícil de entender. A dona de casa, o agricultor, precisa entender o que está ali. Não temos que enaltecer a pessoa. A administração pública não pode ter nome nem sobrenome.