“O Iguaçu é uma dádiva”, afirma gerente do escritório da Sanepar

Bolivar Menoncin Junior fala dos dias de maior consumo, valor de cada litro e sobre os quilômetros de rede que garantem água na torneira

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Atualizado há 5 anos

(Foto: Dinarte Guedes).
(Foto: Dinarte Guedes).

O Inverno terminou no fim de semana. Oficialmente, no dia 23. E embora não pareça, o consumo na estação mais fria do ano é apenas levemente menor que no Verão. Os dados são estatísticos, sondados pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar).

Mas, nada supera dezembro e todos seus gastos: culturalmente, a época “pede” limpeza intensa, com faxinas até do telhado. Tudo para esperar o Papai Noel, e as visitas. Aliás, com mais gente em casa, sobe o numero de banhos, de refeições, de roupas na máquina e de piscinas instaladas. No dia 26 de dezembro por exemplo, os moradores do Vale do Iguaçu acabam excedendo e conseguem consumir, seja bebendo, lavando ou enchendo piscinas, 17 milhões de litros de água. Isso, num só dia.

1 MILHÃO

Em média, o consumo de água é maior no Verão. Conforme dados monitorados pela Sanepar, algo em torno de um milhão a mais, por dia
Bolivar: água custa pouco, mas engenharia para chegar até a torneira é grande (Fotos: Mariana Honesko).

“Eventualmente a gente pode ter um dia no Verão que ultrapasse a marca, mas é historicamente essa data. Inclusive, a gente se prepara para isso”, confirma o gerente do escritório regional da Sanepar em União da Vitória, Bolivar Menoncin Junior. “Antigamente se tinha uma piscina de mil litros. Hoje, é a vontade do freguês e a piscina custa R$ 200. Veja, para encher uma piscina, a pessoa gasta o que tem direito de gastar em 60 dias”, completa, apontando as piscinas como uma recente consumidora de água.

“Ninguém compra um alimento e joga fora antes de comer. Ninguém compra uma roupa nova e joga no lixo. Quando você abre uma torneira e deixa ela aberta, você está fazendo isso”

Por trás do gesto de ligar a torneira, simples e automático, existe uma rede de tubulação quilométrica, que leva a água até a casa de quem mora em União e em Porto União, cidade que, embora catarinense, recebe o serviço da empresa paranaense. Oculta, subterrânea, a rede percorre as duas cidades, em um processo que Bolivar chama “do rio ao rio”.


Quanto custa?

Bolivar defende que a água não é cara e que o é cobrado na fatura mensal corresponde a alguns outros serviços. “Onde tem a rede de esgoto, é cobrado. Além disso, arrecadamos a taxa de lixo, que é repassada para a prefeitura. E a água. São três serviços que, considerando a tarifa mínima, fica em torno dos R$ 60”, defende. Considerando a tarifa mínima cobrada pelo consumo de 10 mil litros cúbicos no mês, cada litro custa para o consumidor menos de um centavo. “Quando você quer comprar água, o que faz? Abre a torneira. Você paga um centavo por dois litros. Essa água o pessoal diz que é cara”, avalia.


“Ele começa com o bombeamento da água do rio até a estação de tratamento, para retirar dela o que não nos interessa e acrescentar o que é preciso, como o flúor, por exemplo, o cálcio para a correção do PH e o cloro para que não tenha contaminação na redistribuição. São quilômetros de redistribuição”, conta o chefe. A topografia exigente, montanhosa, exige o trabalho de 36 bombas, o que garante água encanada até os bairros mais altos e mais distante. “Essa água chega até o trevo de Porto Vitória, até o bairro Bela Vista, Estação Engenheiro Melo”.

É hora de racionar?

Quando o rio Iguaçu tem seu nível recuado, é normal se pensar em controlar o consumo de água. E quando é hora de racionar? Bolivar faz uma análise que beira à poesia. “O Iguaçu é uma dádiva. Olhamos apenas a enchente, mas ele é uma dádiva. Por ser tão grande, o Iguaçu sempre tem volume disponível. Para falar em racionamento, precisa-se de uma estiagem muito forte e prolongada, talvez baixar de um metro. Ele (o rio) tem o abastecimento de aquíferos, a recarga dele, o que faz com que ele se mantenha com uma vazão que nos propicie tratar a água num volume adequado. Aqui, a gente discute a qualidade da água e não a quantidade, porque isso não é nossa preocupação”, destaca o chefe do escritório.

O que não está descartado, contudo, é a falta de água em alguns momentos do dia, especialmente nos dias mais secos. Por isso, a orientação é de que as pessoas tenham um reservatório em casa. A caixa da água, é o ideal.

Desperdício

“Ninguém compra um alimento e joga fora antes de comer. Ninguém compra uma roupa nova e joga no lixo. Quando você abre uma torneira e deixa ela aberta, você está fazendo isso. Por isso, é preciso pensar sobre o uso racional”. O alerta de Bolivar vale para o cotidiano. Conforme ele, é preciso pensar se vale a pena lavar roupa quando a quantidade é pouca ou, se vale a pena demorar mais de meia hora no banho, se vale a pena escovar o dente e deixar a água escorrendo. “A água, a natureza recicla. Pedimos consciência, especialmente nos dias mais quentes”.