“O modelo de SC não é assistencialista”

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Atualizado há 4 anos

marciocesarrossini-amcred-scEleito em novembro do ano passado para presidir a Associação das Instituições de Microcrédito e Microfinanças da Região Sul do Brasil, a Amcred-Sul, Marcio Rossini tem até março de 2020 para efetivar seu plano de gestão.

E ele se preparou para o momento que vive. Além da experiência como empresário, é formado em Gestão Financeira, pós-graduado em Gestão de Seguros, tem capacitação em Microfinanças Boulder, pela Universidade Aberta de Yucatan (México) e Curso de Melhores Práticas de Governança Corporativa, ministrado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
Nesta entrevista exclusiva, Rossini fala um pouco do segmento que ajuda a manter em equilíbrio a economia catarinense e afirma:

“Nós temos um importante trabalho social”

Leia a íntegra da entrevista em www.scportais.com.br e www.rcnonline.com.br

ADI-SC/Adjori-SC – Qual a importância do crédito para os MEIs, para os micro e pequenos empresários, como diferencial para o equilíbrio da economia catarinense?
Marcio Rossini – Sem dúvida. Veja como Santa Catarina é um estado empreendedor. Se analisarmos que essas Oscips (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) de microcrédito foram criadas há 20 anos, já havia a leitura de quanto era importante para essa classe. Não só em momento de crise. Era importante lá atrás e continua sendo hoje. Só cresce. E agora é que o governo federal atentou para a importância do microcrédito, que os meios de comunicação falam em microcrédito. O governo abriu as portas para pessoas físicas, para empresas de crédito simples, para fintechs, para bancos. Quando visitamos pequenos municípios e prefeituras, costumo dizer: “Olha, vocês não conseguem trazer uma grande indústria para cá, então o que você tem que fazer é apoiar o pequeno negócio”.

E este pequeno negócio é o trabalho que nós, as Oscips, fazemos, e que a Amcred coordena: apoiar, dar o primeiro empurrão na base da pirâmide.

ADI/Adjori – E o governo de SC?
Rossini – O governo do Estado viu isso há 20 anos. O governo federal agora é que começou a abrir as portas para isso. Nós somos pequenos, ainda, tem muito mercado para ser atingido, em termos de crédito para pequenos negócios. Os bancos comerciais têm um percentual que poderiam usar para pequenos créditos, mas não usam porque não têm rentabilidade. Visam grandes clientes. Nós temos um trabalho social de atender esses não bancarizados. Vamos a locais em que ninguém vai, para atender as pessoas que não vêm para o Centro por questão cultural, porque têm vergonha de entrar em uma agência bancária, não se sentem bem. E essas pessoas podem ser grandes empreendedores. Tem muitos casos assim, de pessoas que começaram do nada, pequenos empreendedores.

ADI/Adjori – Ao que se refere quando fala em trabalho social?
Rossini – Em melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Não pensamos apenas em melhorar o negócio, mas a qualidade de vida dos que não têm acesso a banco e que precisam de pequenos valores para ter, por exemplo, melhorias em suas residências. Este é o trabalho social que se faz. E as pessoas permanecem nos seus locais com isso. Temos muitos programas, de reforma de residências, construção de banheiros, ações que ninguém faz. Para nós, isso tem um custo elevado, mas fazemos. Quando se fala em programa social, as pessoas pensam:

“Ah, estão doando dinheiro, cestas básicas”. Não é isso. É tudo através de pequenos valores, que são pagos pelos beneficiados.

ADI/Adjori – Isso garante a adimplência?
Rossini – Sim. Quase 97% dos nossos clientes pagam as contas em dia. É a média da Amcred, mas cada Oscip tem sua estatística. No Juro Zero é de 3,27% e nos demais produtos é de 3,66% a inadimplência. O BNDES afirma que 5% seria um percentual aceitável.

ADI/Adjori – Há diferença de Santa Catarina em relação aos outros estados no modelo de negócios do microcrédito?
Rossini – Somos o único estado do país que tem um valor destinado aos MEIs (microempreendedores individuais). É o Juro Zero, operado pelo Badesc, que empresta até R$ 3 mil, sem juros. Esse programa foi criado em 2011 e estamos na expectativa do lançamento do Juro Zero 2, mas isso quem pode confirmar é o Badesc. O modelo de Santa Catarina não é assistencialista, não depende de um repasse de governo. Cobra juros, mas de 3%, o que é bem competitivo, abaixo do mercado. Não é doação, não é caridade. É mercado.

ADI/Adjori – Quanto vocês emprestam por ano?
Rossini – Para os associados da Amcred foram R$ 300 milhões. Até hoje, a Associação e seus associados emprestaram mais de R$ 3 bilhões em 20 anos. Foram 900 mil operações, todas com a visita do agente de crédito, que era obrigatória e foi registrada de alguma maneira, por filmagem, foto. Hoje é opcional.

ADI/Adjori – Qual a participação desse segmento no PIB de Santa Catarina?
Rossini – Não temos essa informação. Mas sabemos que

só as 15 associadas da Amcred geram 700 empregos diretos. E nossa ação mantém mais de 500 mil empregos lá na ponta.

ADI/Adjori – Como será o evento do dia 19 de novembro, em comemoração aos 20 anos do sistema?
Rossini – Foram convidados os primeiros diretores das Oscips para contar a história do microcrédito no estado. Haverá um painel com o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro, que falará sobre o momento do crédito no país. Os diretores do Badesc foram convidados para esse painel, porque eles eram os diretores das Oscips no começo, montaram esse modelo e depois foram saindo aos poucos. Depois disso, o grande boom foi a fundação da associação, que deu sustentabilidade. As trocas de experiência e os projetos foram muito importantes.