Pandemia: “Deus não está castigando a humanidade”

Em exclusiva, Sidnei José Reitz, recém nomeado pároco da Catedral Sagrado Coração de Jesus, comentou sobre eucaristia e pandemia

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Atualizado há 3 anos

Sidnei José Reitz, recém nomeado pároco da Catedral Sagrado Coração de Jesus de União da Vitória, em entrevista à CBN Vale do Iguaçu, convidou os fiéis a refletirem sobre a relação com a eucaristia por conta dessas incertezas e angustias geradas pela pandemia. Segundo o padre, “é preciso compreender a dimensão do amor de Deus, sem tantos julgamentos”.

crédito: divulgação/Catedral Sagrado Coração de Jesus
crédito: divulgação/Catedral Sagrado Coração de Jesus

Na ocasião, revelou ansiedade em assumir a paróquia de União da Vitória, cuja posse acontece no sábado, 24, às 19 horas, na Catedral. A celebração será mediada por Dom Walter Jorge.

Natural de Rebouças (PR), Sidnei tem 42 anos e está próximo de completar 18 anos de ordenação sacerdotal. Iniciou sua trajetória religiosa como coroinha em sua comunidade, tendo como inspiração o padre José Schipanski e seus familiares.

Confira:

Jornal O Comércio (JOC): Quem é Sidnei José Reitz?

Pe. Sidnei: Brincam que aparento ter mais idade por conta dos meus cabelos brancos (risos). Mas eu … Eu sou uma pessoa super simples, filho de agricultores de Rebouças e que estarão aqui na cidade, durante minha posse, para que a comunidade os conheça. Eu amo as pessoas e procuro me dedicar bastante a elas. Gosto de alegria, um sentimento muito bem-vindo. Desde já, quero que todos saibam que comigo não precisam usar de muita formalidade; quanto menos obstáculos tiverem melhor para uma boa convivência.  Jesus Cristo não tinha burocracia em torno dele, e tentamos seguir isso. Bem, apesar dos meus cabelos brancos (risos) está será a segunda paróquia que eu assumo. Quero crescer junto com a comunidade.

JOC: Seu amigo de longa data, Silvano Surmacz, no dia 24 de março deste ano, foi mais uma vítima da Covid-19. Qual é o peso em assumir o posto dele que deixou seu legado tão precocemente?

Pe. Sidnei: O padre Silvano fará muita falta. Ele tinha um espírito muito presente e gostava de estar com as pessoas e sobretudo, gostava de reunir a nós padres. O ‘Silvano’ era um irmão universal, dono de um espírito hospitaleiro e sempre ajudando as pessoas. Tenho sempre dito que para a nossa fé, a vida não termina após a morte. Darei prosseguimento nesse trabalho tão bonito que ele construiu junto a Catedral. Tenho certeza que vai ficar feliz junto de Deus em saber que estamos cuidando de tudo que ele fez.

JOC: Por conta da pandemia, como o fiel pode se manter conectado com a eucaristia, sem necessariamente estar na Igreja?

Pe. Sidnei: Realmente é uma pergunta bem importante e interessante. As pessoas, sobretudo as com mais idade, sempre participam das celebrações e, agora não podem participar; muitas estão reclamando por conta disso. É preciso dizer que on-line não é a mesma coisa. O Cristianismo se caracteriza pela presença, pelo contato e pela proximidade, que são elementos indispensáveis para a fé cristã. O bom samaritano só pode ajudar aquele que estava caído porque ele se aproximou. É fato que a presença é insubstituível. Porém, em casos de necessidade como agora, é preciso se adaptar, porque é por um período e é para o seu bem. Não é a mesma coisa, mas temos que fazer isso. A tecnologia tem nos ajudado muito com o contato e vínculo; é estar presente, mesmo a distância.  

JOC: De que forma as pessoas podem manter a fé em meio às angústias causadas pelo atual cenário de saúde no mundo?

Pe. Sidnei: As pessoas estão muito angustiadas e cada uma tem uma reação diante da pandemia, até aquela que se mostra mais indiferente. Bem, a primeira coisa é fortalecer a confiança em Deus, através da oração; é muito importante. Porque quando eu estou com medo, com ansiedade, eu preciso fortalecer a minha confiança; quanto maior a confiança, menor a insegurança. Então, não é hora de desacreditar de Deus. Ele é aquele que só quer o meu bem. É importante que todos continuem a rezar e que a fé seja cultivada. Também repito, que diante de tantas mortes pela Covid, é hora de repensarmos e valorizarmos a nossa vida. Todo dia, quando acordarem é importante pensar que Deus nos deu a dádiva da vida. Talvez a gente nunca pensou tanto no valor que a vida tem.

JOC: Quais outras lições podemos tirar desse acontecimento pandêmico?

Pe. Sidnei: A pandemia sacudiu a humanidade. Em todos os setores eu ouço: “que passe tudo isso o quanto antes”. Nós, que temos fé, entendemos que todos os desígnios de Deus visam o nosso bem. Nunca pensem que Deus está castigando a humanidade com a pandemia; Deus não precisa disso, ele não se satisfaz com o nosso mal. É desnecessário pensar dessa forma; Deus quer a nossa salvação. Quando algo acontece, como agora, podemos tirar lições sim. Tivemos que nos reinventar e a humanidade despertou para o valor da convivência, cuidar e amar as pessoas. Refletimos sobre tantas coisas que a vezes, em razão da rotina, estávamos esquecendo. Não seremos os mesmos após a pandemia, pois teremos um novo normal e com novos aprendizados.

JOC: O isolamento social surgiu como um período de recolhimento forçado. Como esse tempo silencioso pode ser utilizado pelos fiéis?

Pe. Sidnei: Vamos dizer que a nossa sociedade é barulhenta e a gente gosta do barulho. Entramos no carro e já ligamos o som e, por aí vai. Na pandemia, nós somos forçados a ficar isolados. Se pararmos para pensar, a Quaresma também é um tempo em que relembramos que o povo caminhou quarenta dias e quarenta noites no deserto. Depois, Jesus ficou quarenta dias no deserto, em silêncio para começar sua nova missão. Então, para começar algo novo é preciso de silêncio, é preciso meditar. Neste momento estamos sendo forçados, não foi de livre arbítrio, porém o silêncio pode nos ajudar a utilizar bem esse tempo. Observem mais, meditem mais e visitem regiões interiores que há muito tempo não o fazem. É uma oportunidade de nos tornarmos melhores. Não desperdicemos isso. Para ser feliz, é preciso fazer as pazes com a vida.

Ouça mais

A entrevista na íntegra você confere na página da CBN Vale do Iguaçu – 106.5 FM.