“Política pública brasileira é ruim”

Em exclusiva, Marco Adriani Sterle, industrial de União da Vitória, acredita que o setor empresarial brasileiro - agora - está mais confiante com a retomada do crescimento para 2021

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Atualizado há 3 anos

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Mesmo diante das necessidades de adaptação e superação em razão do novo coronavírus, o setor empresarial brasileiro – agora – está mais confiante com a retomada do crescimento em 2021.

Diretor na *InBrasil Madeira Plástica Ambiental de União da Vitória, Marco Adriani Sterle, acredita que a economia no ano passado – apesar dos pesares – ainda foi mais ativa do que se imaginava. Industrial não descarta a necessidade de um fôlego extra para a retomada das atividades neste primeiro semestre. Previsão também coloca o Paraná em uma situação muito boa, já que é o maior produtor de alimentos por metro quadrado do mundo, em variedade e quantidade, e mantém um relacionamento comercial muito próximo com os demais países.


Confira na íntegra a entrevista.

Jornal O Comércio (JOC): Em razão da pandemia, será necessário fôlego extra para a retomada da economia e do empreendedorismo em 2021?

MS: O ano de 2020 foi surpreendentemente bem para as empresas, pois as vendas foram acima da expectativa; digo isso porque foi um ano atípico. Mesmo com a pandemia, houve maior valorização no mundo todo no setor de alimentos, sendo que o Brasil hoje é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Economicamente falando, o consumo nas casas também aumentou. As vendas foram marcantes e teve uma demanda, maior do que a própria produção. Evidentemente alguns setores sofreram muito, como o setor de serviços e turismo; estas foram foi muito afetadas. Observo que o dinheiro do turismo foi para o consumo das famílias, ou seja, para uma maior demandar de produtos usados nas residências.

Jornal O Comércio (JOC): Enquanto empresário, o senhor também adotou medidas de contenção de despesas junto a sua empresa, bem como adoção do home office?

MS: Em março de 2020 quando começou a fechar comércio, reparei que o Governo Federal tomou medidas – assim – sem muito planejamento sobre como enfrentar a pandemia. Fomos sim muito afetados e tivemos um colapso no País, porém na sequência, o Governo adotou medidas muito rápidas para tentar restabelecer a economia, como ofertas de linhas de crédito que de uma certa forma, acalmou o mercado; também taxa de juros mais baixas o que contribuiu para que a população voltasse a trabalhar. Foi uma expectativa de melhora durante o ano interior. A pandemia chegou no interior do País em outubro e novembro, mesmo assim, as cidades de União da Vitória e Porto União foram apontadas estatisticamente e positivamente com baixos índices de casos da Covid, o que enaltece as ações de combate da doença. Eu vejo que os nossos negócios estão trabalhando (dentro da possibilidade) na normalidade, mas é inegável que o mercado mudou, e passamos a utilizar mais os meios virtuais. Aqui na empresa, o setor comercial evitou as viagens. Acredito que a gente vem em um ritmo de normalidade surpreendente também.

 Jornal O Comércio (JOC): Qual é a sensação de atuar na indústria mais sustentável do planeta (InBrasil)?

MS: Ah (risos)! Esse é um jargão que a gente usa na empresa. Porque nós reciclamos resíduos que se transformam em produtos de luxo. É uma empresa que dá muito prazer em tocar. Em 2020, projetamos a duplicação da capacidade de pessoal, porém a fábrica ainda não está na sua capacidade total operacional. A capacidade para 2021 também foca em novos projetos. Em maio, começa a construção de uma nova fábrica nova no interior de são Paulo em Piracicaba. A planta de União da Vitória já é a maior planta de reciclagem de plásticos do Brasil; a de são Paulo será duas vezes maior que de União da Vitória. Já estamos com formação de pessoal, organização recursos humanos e, se preparando para continuar crescendo, evoluindo.

 Jornal O Comércio (JOC): A reciclagem de plásticos hoje no Brasil tem um futuro promissor? É a aposta no mercado?

MS: Eu acho que o mundo todo hoje está preocupado com o Meio Ambiente. Há 50 anos, as pessoas se preocupavam com a falta de comida, porém mais recentemente, a preocupação migrou para moradias. As pessoas estão subindo na escala da pirâmide de necessidades básicas e estão mais preocupadas com a sustentabilidade. A nossa empresa tem esse perfil; ela recicla, já outras empresas não. Já reciclamos coisas muito incríveis e isso faz a gente acreditar que o futuro vai ser promissor. A expetativa em 2019 e 2020 na empresa foi duplicar a produção. Já em 2021 queremos triplicar a produção.

É uma expectativa positiva. Trabalhamos com um proposito: quando mais se recicla, mais coisas se produz. Eu poderia falar para você que a reciclagem de resíduos virou negócio para micro empresas de modo geral e que o setor de reciclagem de plástico vem aí há pelo menos dez anos. As indústrias de reciclagem de plástico, aqui no Brasil, de modo geral, vêm sofrendo muito. Existem mudanças no processo industrial que complicaram muito a reciclagem de plástico, como a criação de biodegradáveis e oxibiodegradáveis. O assunto já foi noticiado pela mídia como se fosse um benefício para o Meio Ambiente, mas na verdade foi uma tragédia para a reciclagem, foi um tiro no pé. O que veio com esse processo de a criação foram problemas fiscais e legais para as empresas de recicláveis. Os programas sociais no Brasil e a coleta de recicláveis no País hoje é feita por pessoas pobres. Toda a vez que o governo cria um benefício social, como o bolsa família e outros, diminui a coleta.

 Jornal O Comércio (JOC): A política pública brasileira é ruim?

MS: Infelizmente ela é muito ruim. Em países desenvolvidos as pessoas pagam muito caro para o órgão público – para o prefeito e o estado – para recolher o lixo. Nesses países, o material reciclável precisa ser separado do lixo e o estado obriga o cidadão a fazer esse trabalho. No Brasil, me parece que a prefeitura não pode cobrar taxa de lixo porque é politicamente incorreto.  Hoje, em países de primeiro mundo, você paga cerca de 60 dólares por tonelada de lixo e, você paga na hora que você o coloca para a prefeitura levar embora. Se por acaso colocar o material não orgânico junto o valor passa para de 60 para 300 dólares. Hoje um alemão, por exemplo, paga mais caro pela conta de lixo, do que a conta de luz e conta de água. No Brasil, a taxa de lixo vem no IPTU e é cobrado por família, isso é completamento errado; a pessoa pagar pelo consumo e a prefeitura pagar pelo lixo que é consumido. Isso não é muito bem entendido pela nossa sociedade.

 Jornal O Comércio (JOC): Qual sua visão sobre a sustentabilidade do planeta hoje?

MS: Então, vou falar do resíduo sólido, o plástico por exemplo, cada vez que você utiliza, está deixando uma herança para o seu neto. É muito bonito quando as pessoas vão em uma loja e compram um presente de R$ 20 reais, porém elas levam junto uma sacola plástica, cheia de fita, com um laço vermelho; essa movimentação vai ficar perpetuamente às futuras gerações. Quando uma mãe troca a fralda de pano por uma descartável, ela precisa saber que quando a criança tiver dois a três anos, ela já acumulou uma tonelada de plástico (este é um plástico que não pode ser reciclado, é um material complexo). É um conforto que vai virando lixo. Infelizmente no Brasil e na maioria dos países latinos não temos uma política correta. Isso precisa ser repensado para o futuro. 


* In Brasil

Fica na rodovia João Paulo Reolon, no bairro São Gabriel em União da Vitória. Nasceu em 1994 produzindo utensílios domésticos de polipropileno reciclado (resina que possui as mesmas propriedades do material novo). A madeira plástica In Brasil é totalmente sustentável e incentiva a reciclagem.