Projeto Rondon: Udesc mais próxima dos catarinenses

·
Atualizado há 4 anos

Alfredo Balduíno Santos
Alfredo Balduíno Santos

A ideia de interiorizar estudantes universitários na segunda metade da década de 60, do professor Wilson Choeri, da Universidade do Estado da Guanabara, hoje UERJ, deu tão certo que o projeto se tornou uma marca do desenvolvimento local sustentável e na construção e promoção da cidadania no Brasil com o Projeto Rondon.

Em 2010, o Projeto ganhou uma versão catarinense, o Núcleo Extensionista Rondon – NER/Udesc, tendo a frente o professor Alfredo Balduíno Santos, que coordena o projeto desde o início. E com o mesmo espírito e ensinamentos adquiridos do professor Wilson Choeri, o Rondon da Udesc já passou por 165 municípios catarinenses e tem a meta ousada de em futuro breve listar todas as 395 administrações municipais do estado. Além de levar a universidade para perto das pessoas, em diferentes áreas de conhecimento, o Rondon possibilita intercâmbio dos acadêmicos e o contato com realidades que muitas vezes só a teoria não é capaz de oferecer. Este ano o Rondon da Udesc comemora dez anos de fundação, mas, por conta da pandemia, as comemorações que estavam previstas com uma nova missão na região do Vale do Rio do Peixe, para onde justamente foram os primeiros rondonistas de Santa Catarina no estado, por enquanto está adiada.

[Pelo Estado] – Como está o Projeto Rondon atualmente, depois de 10 anos?
Alfredo Balduíno – Essa história começou em 2010, quando fomos desafiados pelo reitor a fazer o Projeto Rondon em Santa Catarina. Nós só trabalhávamos em outros estados, via edital, e iniciamos em dois municípios do Alto Vale do Rio do Peixe: Matos Costa e Calmon. Naquele momento, a ideia era fazer um projeto que atendesse os municípios com IDH baixo, mas depois nós percebemos que mais importante do que isso era trabalhar com a questão regional. A partir da segunda operação, começamos a trabalhar regionalmente, através das associações e das SDRs – ou ADRs depois – e de lá pra cá foi uma evolução muito forte. Desenvolvemos, no primeiro trabalho, sete alunos da Universidade de Brasília e sete da Udesc. A partir dali, isso tomou uma proporção que se torna uma das maiores ações de extensão da Udesc. Neste ano comemoramos dez anos de fundação e planejamos ir a 15 municípios da Região do Vale do Rio do Peixe, mas por conta da pandemia isso ficou em stand bye. Provavelmente, no final do ano, faremos alguma atividade em Calmon e Matos Costa, onde começamos. Nesses dez anos, conseguimos chegar a mais de 160 municípios de Santa Catarina. Envolvendo cerca de 3 mil alunos e mais de 300 mil pessoas.

[Pelo Estado] – Qual é o principal objetivo do Rondon da Udesc e no que ele se diferencia do Rondon dos anos 1960?
Alfredo Balduíno – No primeiro plano, como é uma atividade acadêmica de extensão, não é voluntariado, o objetivo principal é a formação do aluno. Então tem a questão do conhecimento do estado, o conhecimento das regiões, fazer eles entenderem que existe vida além dos grandes centros. O interior também carece de mão de obra qualificada e eles podem ter boa vida em um município de menor porte, com menos habitantes. Esse é o principal objetivo. Junto disso, vem o estar presente na vida dos catarinenses. Porque é a universidade do estado de Santa Catarina e, no entanto, ela acaba não aparecendo para todos. Ela está em todas as mesorregiões, mas a gente sabe que 3% dos catarinenses é que vão entrar em uma universidade pública. Então é mostrar para a sociedade catarinense o que ela tem de melhor na sua formação. E aí entram atividades de todas as áreas, desde saúde, educação, meio ambiente, direitos humanos, cultura, é voltado às linhas de extensão universitária da Udesc. São oficinas que trocam e fazem que a gente possa mostrar um pouco desse conhecimento deles, junto com o conhecimento da sociedade, fazendo aquela via de mão de dupla, que é ensinar aprendendo e aprender ensinando. Um contato direto com o município. A Udesc sempre esteve presente no Projeto Rondon entre 1967 a 1989, com os campos avançados. Participamos, no Pará, em Itaituba, durante quase 15 anos, levando os acadêmicos daqui. Lá atrás ele tinha um cunho bastante assistencialista. E no momento da retomada, em 2005, ele vem com um propósito de trabalhar com formação acadêmica e formação de pessoas na sociedade. Hoje não é mais vamos ocupar o espaço, mas sim fazer que regiões do Brasil possam ter a participação da universidade no seu cotidiano de alguma forma. O projeto foi retomado em 2005 por solicitação da União Nacional dos Estudantes. Então nos dois momentos que ele figura no cenário nacional, as universidades estão à frente. Dos Ministérios, o que detinha o conhecimento de deslocamento, de regionalidade, são as forças armadas, o Ministério da Defesa. Então o edital saia por lá e nós aprendemos a fazer. O bom aluno aprende e faz em casa. Pegando a expertise deles, a gente traz com outra roupagem para Santa Catarina, mudando um pouco a configuração da montagem de equipe, mas o sentido é quase o mesmo, que é a formação acadêmica.

[Pelo Estado] – Os municípios também se beneficiam muito do projeto, né?
Alfredo Balduíno – Com certeza. Alguns municípios, após a nossa operação, pedem nosso retorno com uma ou outra ação específica. Eles pedem formação de professores e diversas outras ações. Essa passagem de 10 a 12 dias de duração do projeto é pra dizer justamente isso: a universidade está aqui e a gente pode montar parcerias para ações futuras. Colocar a sociedade à disposição da sociedade catarinense, com formação de pessoas. A formação vai desde de trabalho com crianças, jovens e adolescentes nas escolas, ou na comunidade, até a terceira idade, é com toda a população do município. Nós trabalhamos com municípios de 3 mil habitantes, de 70 mil ou de 170 mil.]

[Pelo Estado] – E como estão as atividades nesse momento de pandemia?
Alfredo Balduino – Nós mantemos um grupo de bolsistas trabalhando conosco e temos representação em todas as unidades de ensino da Udesc, seja de servidor, ou de aluno. Inclusive estamos com uma ação agora que foi capitaneada por uma servidor do Oeste, que conseguiu, via uma empresa, 5.500 suportes de cabeça para fazer máscaras de EPI para proteção. Em parceria com a AMOESC, Associação dos Municípios do Extremo Oeste, e da Udesc, entrando com recurso para comprar material, estaremos confeccionando esses materiais. Além disso, temos uma ação que é Rondon em casa, são ações que cada unidade de ensino faz no seu espaço. Os alunos se articulam para discutir em que medida podemos contribuir com alguma ação mais específica de formação online, virtual, para a sociedade catarinense, regionalmente, sem contato físico. O núcleo continua em atividade, estamos atualmente com o curso de formação que vai até o final de julho, com cerca de 500 participantes, então continuamos com as atividades administrativas e no formato online tentando fazer contato para futuras ações in loco, mas também contribuindo com a pandemia, principalmente com o Oeste, que carece de bastante atenção.

[Pelo Estado] – E falando de futuro, qual é a principal meta para os próximos anos?
Alfredo Balduíno – A nossa meta é pisar em todos os municípios de Santa Catarina. Já fomos a cerca de 160 e também a Goiás, Brasília, Paraná, tivemos com um pezinho na Argentina e a ideia é passar por todo território catarinense. Como já estivemos em Abdon Batista, a primeira cidade de Santa Catarina e em Zortéa, que é o último, podemos dizer que estamos com o Projeto Rondon de A a Z. Nesses dez anos, mais de 50% dos municípios catarinenses conheceram o projeto. Alguns a gente acaba deixando uma marca, por exemplo, revitalizando uma praça, uma escola, uma creche e a marca principal que fica é o carinho que as pessoas oferecem quando recebem nossos alunos. Nisso a gente busca onerar minimamente as prefeituras. A Udesc lança mão de atividades gratuitas como forma de retribuir a sociedade catarinense.